OS PRIMEIROS E OS
ÚLTIMOS
Primeira leitura (Is 55,6-9)
Os compatriotas do profeta Isaías estão
exilados na Babilônia. O motivo, segundo eles, eram os pecados cometidos.
Estavam errados: uma porque Deus não castiga nunca e outra que o pecado nem
atinge a Deus. Outra que o exílio era simplesmente um desastre político.
Imaginavam na sua ignorância que Deus era um ser como um homem que se deixa
levar pela ira e pela vingança. Este deus, na verdade, é um ídolo.
Tudo neste mundo tem sua causa natural.
Não existe no céu um laboratório de eventos. Além das causas naturais existe
também a liberdade humana que também é autônoma. A razão porque muitos ateus
não acreditam em Deus é que imaginam um deus à imagem e semelhança do homem, um
ser extraterrestre, que controla, vigia, avalia os méritos e pecados e
recompensa na medida que cada um mereceu. Esta imagem de Deus deve ser abolida
porque é pagã. É um deus inventado pelo homem.
O verdadeiro motivo do exílio foram
circunstâncias políticas: incompetência dos dirigentes da nação. Assim também
será a libertação do exílio em 538 A.C. por Ciro: um acontecimento político
banal. Nada a ver com religião.
Isaías pede ao povo uma mudança radical
no modo de formar o conceito de Deus: não misturar Deus com eventos naturais e
nem com a liberdade humana. O mundo é autônomo e a liberdade humana também.
Segunda Leitura (Fp 1,20c.24-27a)
A comunidade de Filipos fora fundada
por Paulo. Era a primeira comunidade na Europa e tinha como líder uma mulher:
Lídia. Era composta por pessoas muito boas e generosas.
Quando escreve e carta, Paulo está na
prisão em Éfeso. Os filipenses haviam feito uma coleta com alguma roupa,
alimento, dinheiro e encarregaram Epafrodito para levá-la a Paulo o qual
responde com uma carta.
Nesta carta Paulo revela as emoções
mais íntimas, mas doces, mais ternas do seu coração. Trabalhou muito
pelo evangelho e agora começa apensar no encontro com o Senhor. Fica na dúvida:
por um lado gostaria de estar com o Senhor, mas ao mesmo tempo sabe que a
evangelização ainda precisa dele.
No túmulo em Roma, na Igreja de S.
Paulo “Fora dos Muros”, está escrito o epitáfio: “Para mim o viver é Cristo, e
o morrer um lucro”.
Evangelho (Mt 20,1-16a)
Chegou o tempo da colheita da uva. Os
proprietários de grandes vinhedos precisam agir logo. Não há tempo a perder. É
uma chance para os volantes que não tem trabalho fixo descolarem algum
dinheiro.
Logo cedo o viticultor sai à praça à
procura de trabalhadores e combina um salário. Mas como o trabalho é grande, o
patrão sai mais 4 vezes à procura de operários: no meio da manhã, ao meio-dia,
às três da tarde, e enfim às 17 horas quando falta só uma hora para concluir a
jornada de trabalho. A todos promete pagar o que for justo.
Tudo vai bem até a hora do pagamento: O
patrão manda enfileirar os operários e entregar a todos o pagamento...começando
pelos últimos. E o pior é que o pagamento é feito em público! Os
operários da primeira hora, que já não se sustentam em pé, por causa da fadiga,
são obrigados a assistir a uma cena irônica: observam, incrédulos, os colegas
que, trabalharam no fresco da tarde e recebam o mesmo pagamento que os
primeiros.
Injustiça! Não. Os primeiros receberam
o que fora combinado. Mas os outros trabalhadores também tinham uma família
para sustentar. E naquele tempo as pessoas comiam só uma vez por dia, no fim da
tarde, caso tivessem conseguido um dinheiro. Assim sendo, o patrão não foi
injusto, afinal ele tem o direito de dispor daquilo que é dele. Aqui a justiça
é misericórdia!
Com esta narração Jesus quer denunciar
de uma forma extremamente dura a religião dos “méritos”, ensinada pelos guias
espirituais de Israel (e também por alguns pregadores dos nossos dias).
O povo, catequizado pela casta
sacerdotal, esqueceu o Deus bom, pai, esposo e amigo fiel, anunciado pelos
profetas, e o substituiu por um Deus distante, legislador e juiz. A religião do
homem com este Deus é a do servo em relação ao patrão. É o caso do filho mais
velho da parábola do filho pródigo. Para o filho mais velho o pai (
Deus) é patrão, não foi capaz de entender a “graça” do pai para com o filho
mais novo.
É o confronto entre “graça” e “mérito”.
De modo geral pensa-se que a religião deve trazer vantagens. Quando finalmente
tomaremos a decisão de abandonar a imagem de um deus “sócio dos sócios,
“contador” ou “patrão que paga conforme os merecimentos”? Quando vamos parar de
considerar a religião como um comércio com Deus?
O charme da religião cristã é
justamente a graça. Que seria do mundo sem a graça? Por isso a criança é o
símbolo do discípulo: ela nem sabe que tem direitos ou méritos. Por isso mesmo
ela nos encanta, é uma gracinha...
A parábola sem dúvida é intrigante, mas
é justamente para chamar a atenção. É, poderíamos dizer, uma hipérbole oriental
que exagera para chamar a atenção e fazer pensar num mundo não capitalista.
Na “vinha do Senhor” trabalha-se
gratuitamente, não se trabalha para ter um salário maior, não se pratica o bem
em favor do próximo para ter o direito a um prêmio no céu. Seria egoísmo
imperdoável servir-se do irmão pobre e necessitado para acumular méritos diante
de Deus.
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