SERÁ QUE OS RICOS SE SALVAM?
Primeira leitura (Sb 7,7-11)
Os judeus que viviam em
Alexandria estavam em busca da felicidade.
Envolvidos pela civilização grega, os judeus arriscavam perder a própria
identidade e se entregar à busca de poder, riquezas e estética enquanto
requisitos últimos para ser feliz. Mas ao mesmo tempo estavam lembrados de
Salomão que quando subiu a trono ainda jovem assim rezou: “eu não passo de um
adolescente, não sei como governar um povo tão numeroso. Dai, pois, ao vosso
servo, Ó senhor, a sabedoria, um coração sábio, capaz de discernir entre o bem
e o mal” (1Rs3,4-15). Esta oração
agradou a Deus porque Salomão preferiu a sabedoria ao poder, à riqueza, pedras
preciosas, ouro e prata.
Salomão se comportou com
sabedoria, preferiu a sabedoria de Deus a qualquer outro bem. Todos os
tesouros, o ouro, as pedras preciosas a beleza física são como nada, só lama,
areia (vv.7-100).
Mas será que para ser sábio é
preciso renunciar a todas essas coisas maravilhosas da vida? Não. Não é
verdade. Quem cultiva a sabedoria, quem
aprende a dar o justo valor às coisas, quem faz a escolhas conforme o projeto
de Deus, nada perde, aproveita tudo: encontra a verdadeira felicidade.
Segunda leitura (Hb 4,12-13
Nas nossas comunidades acontece,
às vezes, que o responsável pelo comentário sobre as leituras dominicais não esteja
bem preparado. Começa a falar, fala muito sem dizer nada que se aproveite. A
leitura do dia nos ensina que a Palavra de Deus é muito diferente dessas
divagações ocas.
Antes de tudo a Palavra é “viva e
eficaz”. A partir do momento que ela saiu da boca do Senhor, sempre produz
resultados porque possui dentro de si a vida e a força de Deus. O profeta
Isaías a compara à chuva que não cai nunca em vão: não volta para cima sem ter
fecundado a terra e produzido frutos (Is
5510-11).
Porque as nossas comunidades são
sempre as mesmas? Por que continuam os mesmos descontentamentos, as mesmas
discórdias, as mesmas fofocas? Por que não muda para melhor o ambiente de nossas famílias? Não será
talvez porque a Palavra de Deus que é anunciada, não é nem viva nem eficaz?
A Palavra de Deus, além disso, é
“cortante e penetrante” mais do que uma espada afiada, rija, inflexível:
penetra o âmago de quem a escuta.
Por fim é também “juiz” de todas
as nossas ações.
Porque muitos cristãos preferem repetir
algumas fórmulas de orações, participar de alguma cerimônia do que meditar
sobre algum trecho do evangelho. Será porque não conseguem entendê-lo? Pode acontecer. Mas talvez os verdadeiros
motivos sejam outros: talvez não queiram ser perturbados por uma Palavra que
penetra até o fundo do coração e que deixa a descoberta os pensamentos e
sentimentos.
Evangelho (Mc 10,17-30)
Jesus está a caminho de Jerusalém e eis que alguém se ajoelha diante dele e lhe pede: que devo fazer para herdar a vida eterna. Jesus lhe cita os mandamentos: do 4° ao décimo: com isso ele sugere que o amor a Deus acontece pelo amor ao próximo. Marcos explica que o homem era muito rico: um latifundiário.
Ao ver que o homem cumprira todos aqueles mandamentos, Jesus
olha para ele com amor e lhe diz: uma coisa te falta, vai, vende o que tens, dá
o dinheiro aos pobres...depois vem e segue-me.
A mensagem de Jesus é dura. Não basta pensar na própria salvação; é
preciso pensar nas necessidades dos pobres. Não basta preocupar-se com a vida
futura; é preciso preocupar-se com os que sofrem nesta vida. Não basta não
causar dano aos outros; é preciso colaborar no projeto de um mundo mais justo,
tal como Deus o quer.
O remédio não consiste em desprezar o dinheiro, mas em saber
dar-lhe o devido valor. O dinheiro que se ganha com um trabalho honesto é bom. É
preciso para viver. Mas se transforma em nocivo se domina nossa vida e nos
impele a ter sempre mais, com a única finalidade de possuir e conseguir o que
outros não conseguem.
A maneira sadia de lidar com o
dinheiro, é ganhá-lo de forma limpa, utilizá-lo com inteligência, fazê-lo
frutificar com justiça e saber compartilhá-lo com os mais necessitados.
Entendem-se as palavras de Jesus
ao rico. Aquele homem tem dinheiro, mas, ao mesmo tempo, quer viver uma vida
digna. Jesus lhe diz que lhe falta uma coisa: deixar de viver acumulando e
começar a compartilhar o que é seu, com os necessitados.
Aquele homem franziu a testa e
foi embora triste, porque era muito rico. Está demasiadamente enfermo. 0
dinheiro tirou-lhe a liberdade para iniciar uma vida mais sadia. Contra o que
costumamos pensar, ter muito dinheiro não é uma sorte, mas um problema, porque
facilmente fecha a passagem para uma vida mais humana.
Em nossas igrejas pede-se
dinheiro para os necessitados, mas já não se expõe a doutrina cristã sobre o
dinheiro pregada energicamente por teólogos e pregadores como Ambrósio de
Milão, Agostinho de Hipona ou Bernardo de Claraval. Dizia S. Ambrósio: o que sobra ao rico
pertence ao pobre.
Infelizmente as leis protegem de
maneira inflexível a propriedade privada dos privilegiados, embora na sociedade
haja pobres que vivem na miséria.
É chocante a palavra de Jesus: “é
mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no
céu”. Naturalmente trata-se de uma hipérbole oriental a não ser tomada ao pé da
letra, mas mostra em todo caso o poder desumanizante do dinheiro. O acúmulo da
riqueza por parte de alguns a miséria da maioria é um pecado que clama aos céus
Isso mesmo padre José!! Precisamos estudar a Doutrina Social da Igreja e tomar muito cuidado com o tipo de caridade que escolhemos faxer. Linda reflexão! Parabéns!! Edlamar
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