DEUS OPTOU PELOS
DESERDADOS DA VIDA
Primeira leitura (Is 35,4-7)
O povo hebreu está disperso na Babilônia... O texto de hoje
mostra a marcha dos mutilados de Javé voltando para a pátria. A eles
dirige-se encorajamento do profeta:
“Coragem! Não tenham medo! Aí está o seu Deus (35,4ª)” A seguir o texto esclarece quem são estes mutilados e desanimados: cegos, surdos, coxos
e mudos, em síntese, os mutilados da sociedade. Deus mesmo vai libertá-los do
exílio, restituir-lhes a posse da terra e a plena reabilitação física.
Javé dos inválidos e mutilados vai posicionar-se a favor dos
que foram privados e ver, ouvir, andar e falar. Em outras palavras, ele é o
Deus dos que não tem voz, liberdade, vez e defesa.
Os vv.6-7ª mostram outro tipo de transformação: o deserto e as regiões áridas vão se tornar
fontes de água para os romeiros libertados, que caminham ao encontro do Deus da
vida em Sião.
Segunda Leitura (Tg 2,1-5)
Cap1º.Cf. 1ª Par.do domingo passado.
O cap. 2 dessa carta gira em torno do tema da fé. Em primeiro
lugar Tiago afirma que a fé não discrimina ninguém. Em segundo lugar mostra que
a fé sem obras, não tem sentido. Mais. A
fé em J.C. não deve admitir consideração de pessoas. Nos vv.6-7 afirma-se que
os ricos oprimem os pobres arrastando-os perante os tribunais difamando o nome
sublime que foi invocado sobre os cristãos. Acontece mesmo que participam da
mesma eucaristia, ostentando joias e roupas finas, ocupando lugares de honra
enquanto os pobres devem ficar de pé ou sentar no chão.
Tiago, por certo, não quer misturar ricos e pobres na mesma
sala, como se isto resolvesse a questão.
A fé não admite consideração de pessoas, ou seja, é impossível ser fiel
a Deus e continuar explorando os oprimindo e os pobres. Isto é difamar o nome
cristão. A fé torna todos iguais.
Evangelho (Mc 7,31-37)
O evangelho de Marcos foi o primeiro catecismo da comunidade cristã.
Aos poucos as pessoas vão descobrindo “quem é Jesus’’ para concluir que
“verdadeiramente esse homem é Filho de Deus” (Mc 15,39). O texto deste domingo
mostra Jesus percorrendo regiões pagãs mostrando o seu interesse para com os
pagãos, fazendo deles membros da família de Deus. De fato o evangelho de Marcos
se destinava, enquanto texto de catequese a pagãos dispostos a abraçar a fé.
Em território pagão, Jesus encontra uma pessoa surda que
falava com dificuldade (v.32). Jesus leva essa pessoa para fora da multidão.
Porque esta atitude? Jesus cura o surdo-mudo longe da multidão para que este se
sinta, depois, responsável pelo anúncio daquilo que Jesus lhe fez, tornando-o
por sua vez evangelizador, isto é, portador da boa-nova de que “verdadeiramente
este homem é Filho de Deus” (15,19).
Jesus cura o surdo-mudo tocando-o. Coloca-lhe os dedos nos
ouvidos, e com a saliva lhe toca a língua (v.33). A saliva teve, sempre no
mundo antigo, caráter terapêutico. Era uma espécie de “sacramento”. Tocando
Jesus o surdo-mudo, é o próprio Deus que se ocupa de quem não podia ouvir nem
falar, ou seja, ele está reintegrando em sua dignidade e identidade alguém que
fora privado da vida. Interessante é notar que Jesus toca primeiro os ouvidos e
depois a boca: a catequese é primeiramente escuta, assimilação e a seguir, como
consequência, é anúncio.
Mas não são os gestos de Jesus que curam o surdo-mudo, e sim
sua palavra. Depois que Jesus ordenou
“abre-te” é que seus ouvidos se abriram e sua boca se soltou, e ele começou a
falar sem dificuldade (v.35). Com isso Marcos demitiza a ação de Jesus. Ele não
é um mágico. Só sua palavra liberta e reintegra, e as pessoas não precisam de
rituais ou de magia para abrir os ouvidos e anunciar que ele é o Messias.
Após curar o surdo-mudo, Jesus ordena à multidão que não
espalhe a notícia. Com isso Jesus sugere
que o conhecimento de sua pessoa e que de fato só ao pé da cruz e na
ressurreição é que é faz a verdadeira revelação de quem ele é (cf. 15,39,
comparando com 1,1). No entanto “quanto
mais ele recomendava, mas eles divulgavam” (v.36b). Isso faz pensar na progressão
que nosso testemunho sofre à medida que nos comprometemos sempre mais com o
projeto de Deus.
O evangelho de Marcos é um aleta para os que se dizem
cristãos. De fato ao longo desse evangelho, os discípulos de Jesus são lentos
em compreender e lentos também no compromisso, Há muitas passagens em que se
fala da incredulidade e cegueira dos discípulos de Jesus. Ora, em território
pagão, as coisas são bem diferentes: a multidão crê em Jesus, intercede para
que imponha as mãos e cure o surdo-mudo. E o próprio surdo-mudo, depois de
curado, torna-se evangelizador. Essa disponibilidade em crer e se comprometer,
não facilmente encontrada nos discípulos, emerge rapidamente naqueles que
estavam fora, os pagãos. Tudo isso é grande desafio para os que creem ser já cristãos
maduros e comprometidos. E ainda não o
são.
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