VIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C


                 
EXIGÊNCIAS DO SER CRISTÃO


Primeira leitura (Sb 9,13-18)

O livro da Sabedoria é o último livro do Antigo testamento. O seu autor é um homem muito culto versado em muitas disciplinas como aritmética,  física, astronomia, o comportamento dos animais, a agricultura , as ervas para curar as doenças etc. (Sb 7,16-21). Estas questões são, sem dúvida importantes, mas não são tudo, nem o principal. Que valor tem o sucesso na vida, a riqueza, o prestígio social, a política, o amor, a sexualidade, a honestidade...
Para decidir sobre estas questões não bastam os conhecimentos aprendidos na escola, é preciso “sabedoria”!, a luz que vem de Deus. Sem esta luz não conseguimos seguir  pelo caminho certo; porque os pensamentos dos homens são quase sempre fracos, inconsistentes e inseguros.

Segunda Leitura (Fm 9b-10.12.17)

Passando pela província da Ásia, Paulo fez amizade com um jovem e rico comerciante, chamado Filêmon, que tinha uma casa grande e muitos funcionários, entre eles um tal de Onésimo. Este, muito malandro, deu um golpe de mestre em Filêmeon, roubando-lhe uma boa quantidade de dinheiro.
Paulo estava preso em Roma. Por coincidência,  Onésimo acabou na mesma prisão de Paulo. Onésimo acabou contando a Paulo  a arte que fizera. Paulo irritado desabafou: O que fez com Filêmon! Este  é o meu melhor amigo.
Companheiro  na prisão,  Paulo fala a Onésimo do Senhor Jesus e, depois de alguns meses, Onésimo pede para ser batizado. Quando sai da cadeia gostaria de voltar ao antigo patrão, mas não tem coragem. O apóstolo então lhe entrega uma carta de apresentação ao seu amigo e para toda a comunidade. Esta é a origem  desta breve e maravilhosa “Carta a Filêmon” que hoje nos  é proposta. O apóstolo recomenda que Onésimo seja bem recebido, como se fosse seu filho(v.10) como seu próprio coração (v.12), como um irmão muito querido (v.16).
Onésimo recebeu o perdão de Filêmon que o mandou de volta a Roma para prestar alguma ajuda a Paulo que continuava na  prisão. Conta-se que muitos anos depois, Onésimo se tornou bispo de Éfeso.

Evangelho (Lc 14,25-33)

Quando vemos as nossas grandes e magníficas igrejas lotadas, ou as praças apinhadas de gente por ocasião da visita do papa, sentimo-nos envaidecidos. Jesus, ao contrário, diante dos “grandes números”, das “multidões incontáveis” fica preocupado. Descreve os discípulos como “um pequeno rebanho”(Lc 12,32), como um “pouco de sal”(Mt 5,13), ou “de fermento” (Mt 13,33), como um “ grão de mostarda”(Mt 13,31).
Voltando-se, Jesus começa a explicar quais são os compromissos para quem escolhe segui-lo como seu discípulo.
E quanto a nós, será que os que participam com entusiasmo das nossas solenes celebrações litúrgicas, da nossas procissões, das nossas romarias, estão realmente conscientes dos compromissos que a fé cristã envolve?
Enquanto nós temos receio de perder alguns simpatizantes, Jesus se preocupa com o contrário: prefere qualidade em vez de quantidade.
Jesus impõe três condições para  segui-lo: a primeira é  saber “odiar”: atitude dura e difícil de entender, sobretudo se nos lembramos que Jesus mandou amar até os inimigos. Jesus com certeza, não tem a intenção de falar de “ódio”, mas de decisões firmes, quando necessárias para manter a fidelidade ao evangelho. “Odiar” neste caso, significa, na realidade, romper até com os lações mais íntimos, quando estes constituem um impedimento para o amor.
A segunda exigência é o dom da vida. “Quem  não carregar a sua cruz e não me seguir não pode ser meu discípulo” (v.27). Esta frase muitas vezes é interpretada como um apelo para suportar com paciência as contrariedades, os grandes e pequenos sofrimentos da vida, a exigência de mortificação, de sacrifício. É verdade, porém, que o amor ao próximo exige renúncias e até sacrifícios heroicos. Carregar a cruz, porém, significa seguir o caminho de Jesus e empenhar-se para que ninguém mais seja crucificado, porque Deus não ama  o sofrimento.
Antes de falar da terceira exigência, Jesus conta duas pequenas parábolas.
A primeira, fala de um homem  que, querendo proteger suas colheitas dos ladrões e dos animais decide construir uma torre no seu campo para colocar sentinelas. Não começa os trabalhos sem antes ter calculado se dispõe dos recursos necessários para terminar a obra.(vv.28-30)
A segunda parábola conta a história de um rei que quer declarar uma guerra. Ele também senta e calcula  o poderio do seu exército(vv.31-32).
O ensinamento das parábolas é claro: quem escuta a mensagem do Evangelho não deve iludir-se, pensando que já  se tornou discípulo de  Cristo; não se deixa levar por um entusiasmo momentâneo: pare e pense com calma e avalia se está em condições de perseverar.
A terceira condição: renunciar a tudo; “assim, pois, qualquer um de vós que não renuncie a tudo o que possui não pode ser meu discípulo “ (v.33). Como será possível cumprir esta exigência?
Tem sido  excogitada uma solução bastante simplória: a divisão dos homens em duas categorias: de um lado “os perfeitos”(religiosos, padres e freiras) que fazem o voto de pobreza: e, de outro lado os “simples cristãos” que podem ficar com tudo o que possuem(cristãos imperfeitos). Mas com isto se evita o despojamento total dos bens exigida por Jesus. É claro que nem todos podem ser como S.Francisco. Este santo é uma utopia, um ideal que a Igreja não pode deixar morrer. Se todos forem como S. Francisco, o mundo pára.
As propostas concretas neste campo não são fáceis. A primeira comunidade cristã tentou responder a uma proposta mas não deu certo. Depois de algum tempo faltaram os suprimentos. O ideal seria uma sociedade igualitária como nas aldeias no tempo de Jesus onde os bens eram trocados e não havia acúmulo: O excedente era distribuído entre os que precisavam. Mas numa sociedade regida pelo capitalismo liberal isto é impossível. Cabe aos discípulos de Jesus repartir o supérfluo.




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