A REALEZA DE JESUS É
VIDA PARA O MUNDO
Primeira leitura (Dn 7,13-14)
Para entender os dois versículos
da leitura é preciso fazer referência aos versículos anteriores. O profeta
Daniel refere uma visão noturna de 4 grandes animais que representam cada um,
um reino opressor: o leão, a Babilônia, o urso e o leopardo representam a Média
e a Pérsia, a quarta representa
Antíoco IV, o perseguidor dos israelitas.
Depois, o vidente contempla uma outra cena grandiosa: no céu
são instalados alguns tronos e um ancião (que simboliza o próprio Deus)
senta-se para o julgamento.
E a sentença é esta: os animais são privados do poder e a
última é trucidada, destruída e atirada na fornalha (Dn 7,9-12). É neste ponto que se insere o texto da nossa leitura de
hoje. Daniel continua a sua revelação: “Olhando sempre a visão noturna, vi um
ser semelhante ao filho do homem, vir sobre as nuvens do céu”. A ele o ancião,
confia o poder, a glória e o reino.
Filho do homem é uma expressão hebraica que significa
simplesmente “homem”.
Depois de tantas “feras”, eis que finalmente aparece um
homem. Quem é ele? A quem representa? Ele não representa um indivíduo singular,
mas todo o povo de Israel que, depois da grande tribulação da qual foi vítima
sob o rei Antíoco, recebe de Deus um reino eterno, um reino que não conhecerá
ocaso, que nunca será destruído.
Esta profecia se realizou plenamente só com a vinda de Jesus.
É ele o “Filho do homem” que dá início ao Reino dos Santos do Altíssimo (Mc
14,62).
Ele inverteu os valores: colocou no vértice não o poder, mas
o serviço, introduziu no mundo uma nova mentalidade, a do coração do homem,
oposta à lei das feras.
Embora se instalem novos dominadores o reino do mal não terá
uma duração eterna.
Segunda leitura (Ap 1,5-8)
O livro do Apocalipse foi escrito numa pequena ilha do mar
Mediterrâneo por um cristão que foi confinado lá por ter anunciado, com a pregação
e com a vida, o evangelho.
A intenção do autor é infundir coragem aos cristãos
perseguidos.
O autor começa lembrando aos cristãos uma verdade fundamental
da sua fé: “Cristo é o príncipe dos reis da terra”, ao contrário do que pensam
os chefes das nações que julgam serem os árbitros dos destinos dos povos.
Quem são os membros (os árbitros) que compõem esse
reino? Os chefes, os poderosos, os
mandatários?
Não! Os sacerdotes (v.6). Cada cristão é sacerdote porque
apresenta a Deus o único sacrifício que lhe agrada: a vida doada ao próximo.
Cada gesto de generosidade é um exercício do próprio sacerdócio.
Sacerdote é principalmente aquele que é perseguido pela sua
fidelidade ao evangelho; oferece a Deus o seu amor heroico em benefício dos
seus próprios algozes que o fazem sofrer injustamente. A última parte da
leitura (vv.7-8) retoma as palavras de Daniel: “Eis que ele (Jesus) vem do meio
das nuvens”, e todos poderão vê-lo. É a celebração da sua vitória.
Ele não destroçará e nem humilhará os seus inimigos (aqueles
que o transpassaram) pela força, mas transformará o coração deles: reconhecerão
os seus erros e se converterão ao amor.
Evangelho (Jo 18,33-37)
Por certo todos já viram quadros representando Cristo como um
rei deste mundo, com o rosto severo cercado de anjos prontos a intervir a
qualquer aceno. Um Cristo que inspira respeito e temor diante do qual é preciso
prostrar-se. Daí resultou uma imagem
triunfalista de Cristo, competindo com os outros chefes das nações.
Nada mais falso, Jesus nunca usou coroa, senão a de espinhos,
e nunca teve trono senão a cruz. Mas. Ele reagiu severamente contra aqueles que
pretenderam fazê-lo aceitar uma realeza deste mundo.
Frustrou as expectativas messiânicas dos seus discípulos.
Fugiu quando o povo queria fazê-lo rei (Jo 6,15). No entanto, perante Pilatos Jesus confessou
“Eu sou rei”. Pilatos não entendeu porque só conhecia os reinos desse mundo,
poderosos, dominadores e autoritários
O Mestre acorreu em sua ajuda: “o meu reino não é deste
mundo”. Será que Jesus quis dizer que o seu reino seria instalado no outro
mundo, no paraíso? Talvez que seu reino é puramente espiritual? Que não tem nada
a ver com as realidades terrenas?
Essa seria uma interpretação muito errônea (aliás muito em
voga) das suas palavras. O seu reino está sendo instaurado aqui e agora,
solidifica-se entre os habitantes desta terra. Não obstante, porém, não é deste
mundo: não tem nada a ver com ambição e poder, riquezas, uso de armas. Não faz
alianças com os grandes e poderosos, mas põe-se do lado dos humildes, daqueles
que não tem valor nenhum.
Jesus insiste perante Pilatos que ele é rei porque veio para
dar testemunho da verdade. Pilatos ficou na mesma: não tinha competência para
entender o que é verdade.
As conquistas do Reino de Deus não se medem pelo número de
batizados, pela eficiência das estruturas e das organizações eclesiais, pela
grandiosidade dos templos, pelo temor que as nossas autoridades, das nossas
comunidades podem incutir nos mandatários políticos. O Reino de Cristo cresce
onde se manifesta a atitude de serviço, a doação generosa de solidariedade para
com os outros, o encontro, o diálogo, onde se estabelecem relações novas entre
os homens e as nações.
Contavam os rabinos que, durante uma noite escura, um homem
acendeu uma lâmpada, mas o vento a apagou. Acendeu – a uma segunda, uma
terceira vez, mas novamente foi apagada. Então ele disse: esperarei sol nascer.
Da mesma forma Israel foi libertado do Egito, mas a lâmpada da sua liberdade
foi apagada pelos babilônios; novamente foi libertado, mas logo foi oprimido
pelos medos, pelos persas e por outros povos.
Então ele disse: esperarei o sol, o reino do Messias.
Os judeus ainda estão à espera que esta luz, que nunca se
apagará, resplandeça; nós sabemos que ela já raiou: é Jesus de Nazaré.
(Obs. Aqui termina o ANO B. No próximo domingo começará Ano
C)
Que linda homilia padre José! Muito esclarecedora. Parabéns! Edlamar
ResponderExcluirBelíssima reflexão, caro padre Knob.....
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