VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C




              A SALVAÇÃO, PROPOSTA ABERTA A TODOS


Primeira leitura ( Is 66,18-21)

Os israelitas eram xenófobos, não se misturavam com outros povos. No entanto, no exílio, descobriram que também entre os babilônios havia gente boa, simpática, generosa e hospitaleira, levavam uma vida familiar e observavam princípios morais muito elevados. Mais. Descobriram também que o Senhor não era só o Deus de Israel, mas de todos os povos e que  ele ama a todos , sem distinção de raça ou nação.
Neste sentido o exílio serviu para arejar as cabeças dos israelitas e fazer deles um povo mais aberto para o mundo. No v. 18 Deus confirma esta mudança:  “Eu virei para reunir os homens de todas as nações e de todas as línguas”. No v. 19: a promessa mais escandalosa: Deus escolherá para si sacerdotes e levitas entre os pagãos.
Para nós, em nossos dias, é fato pacífico que a Igreja seja formada por pessoas de todas as nações. Mas será que os não cristãos não tem muita coisa a nos ensinar?

Segunda Leitura (Hb 12,5-7.11-13) 
      
Os destinatários desta carta eram cristãos convertidos do judaísmo e se queixavam sobre o porquê das provações a que eram submetidos. O mesmo acontece conosco: porque os bons são atingidos por angústias e os trapaceiros são bem sucedidos e tem sorte?
Tanto os “judeus” como nós tendemos a pensar que as desgraças e sofrimentos são enviados por Deus. Nada disso: Deus só quer o nosso bem e a nossa felicidade. As desgraças e as aflições não procedem de Deus, e nem o sucesso e a sorte, mas das circunstâncias da vida e, às vezes, da maldade dos homens. O que a leitura nos quer ensinar é que Deus se serve também dos acontecimentos dolorosos que se abatem sobre nós para ajuda-nos a crescer na vida espiritual, para induzir-nos a ser mais generosos, mais sensíveis, menos voltados para o nosso egoísmo.

Evangelho (Lc 13,22-30)

No evangelho de Mateus encontramos frequentemente palavras duras de Jesus contra os maus: “fogo da Geena!”, separação de ovelhas e carneiros, “choro e ranger de dentes”. Lucas, normalmente apresenta um Jesus compassivo, compreensivo, sempre disposto a enfileirar-se  com os pobres.... Mas no trecho de hoje usa também de uma palavra dura: a porta estreita pela qual é difícil entrar. Diante dela apinha-se uma multidão que tenta entrar , mas não consegue. Em seguida o Senhor fecha a porta e não deixa mais ninguém entrar. São despedidos: podem ir embora, para longe de mim! Não vos conheço! Haverá choro e ranger de dentes!
Quem esperaria de Jesus uma atitude semelhante? Não é mais  o amigo dos publicanos e  dos pecadores?  Não é mais aquele que se enternecia diante da ovelha desgarrada e do filho pródigo? Porque agora bate a porta na cara daqueles que na terra o tinham tantas vezes convidado para jantar na casa deles?  Este discurso nos deixa perplexos, não parece ser “evangelho”, “boa nova”: não passa de uma ameaça.
De fato assim parece! Mas nós já não somos tão ingênuos e sabemos que as palavras de Jesus devem ser interpretadas corretamente. Ele não está dando informações sobre o que acontecerá no fim do mundo, mas retratando o modo de falar dos pregadores daquele tempo para despertar a atenção dos ouvintes. Palavras de efeito!
Alguém lhe perguntou: “Senhor, são poucos os homens que se salvam” (v.23). Jesus não respondeu, mas saiu pela tangente: muda de assunto: não quer falar do fim do mundo e da salvação eterna. A sua preocupação é esclarecer como se entra no reino de Deus, isto é, o que se deve fazer para ser seu discípulo.
A condição é uma só: “procurai entrar pela porta estreita, porque, digo-vos, muitos procurarão entrar e não o conseguirão” (v.24). E como é possível passar por uma porta estreita? Há uma única maneira: tornar-se pequenos. Os de grande  estatura e os gordos não passam.
Não podemos ser seus discípulos se não renunciarmos a ser grandes, poderosos, dominadores,  se não nos tornarmos como crianças, isto é, servos de todos.
O grande no campo espiritual é o fariseu, altivo, vaidoso e autoconfiante na própria santidade, fundada nas suas boas obras. Pequeno é aquele que se sente extraviado e só pode apelar para a misericórdia de Deus Só este último pode passar pela porta estreita. Quem não assume a atitude do “pequeno”, sejam quais forem as suas práticas religiosas, orações, catequese, sermões, procissões e até milagres (Mt 7,22), não conseguirá entrar.
Em seguida Lucas refere uma parábola. Um Senhor(Deus) oferece um banquete. Embora aberto para todos, alguns ficam fora e reclamam: “comemos e bebemos contigo e tu ensinaste em nossas praças (v.26). O Senhor, porém, não abre e os manda embora, chamando-os de “malfeitores”(v.27). Quem são estes? Os cristãos de “carteirinha” com os “papéis” em dia e que além disso participaram de todos os eventos litúrgicos. Mesmo assim : nada feito! Faltou o principal: não se fizeram pequenos e por isso nunca passarão pela porta estreita.
Sentados à mesa estão os patriarcas: Abraão, Isaac, Jacó; estão também os profetas e muita gente do oriente e o ocidente que talvez não conheceram a Jesus.
No capítulo 9 Lucas refere uma discussão entre os discípulos para saber quem era o maior. Jesus então tomou um menino, colocou-o no  meio deles e disse: “quem é o menor entre vós, este é o maior” (9,46-48).

Jesus usou palavras duras, é verdade. Não fez assim, com certeza para dizer que muita gente irá para o inferno, mas sim  para alertar aqueles que, por pertencerem à comunidade cristã, se julgam “santos”, “melhores” “puros”, “justos”.   Usou expressões assustadoras, sim, porque o risco de cair nesta ilusão é muito grande.

Comentários

  1. Muito esclarecedora foi essa homilia padre José! Fazer-se pequeno é lição que nos legaram grandes amigos de Jesus. Agora, aqui, é condição de salvação. Muito bem! Parabéns! Edlamar

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