Trigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum - Cristo Rei - Ano B


 

A REALEZA DE JESUS É VIDA PARA O MUNDO 

Primeira leitura (Dn 7,13-14)

Para entender os dois versículos da leitura é preciso fazer referência aos versículos anteriores. O profeta Daniel refere uma visão noturna de 4 grandes animais que representam cada um, um reino opressor: o leão, a Babilônia, o urso e o leopardo representam a Média e a Pérsia, a quarta representa Antíoco IV, o perseguidor dos israelitas.

Depois, o vidente contempla uma outra cena grandiosa: no céu são instalados alguns tronos e um ancião (que simboliza o próprio Deus) senta-se para o julgamento.

E a sentença é esta: os animais são privados do poder e a última é trucidada, destruída e atirada na fornalha (Dn 7,9-12). É neste ponto que se insere o texto da nossa leitura de hoje. Daniel continua a sua revelação: “Olhando sempre a visão noturna, vi um ser semelhante ao filho do homem, vir sobre as nuvens do céu”. A ele o ancião, confia o poder, a glória e o reino.

Filho do homem é uma expressão hebraica que significa simplesmente “homem”.

Depois de tantas “feras”, eis que finalmente aparece um homem. Quem é ele? A quem representa? Ele não representa um indivíduo singular, mas todo o povo de Israel que, depois da grande tribulação da qual foi vítima sob o rei Antíoco, recebe de Deus um reino eterno, um reino que não conhecerá ocaso, que nunca será destruído.

Esta profecia se realizou plenamente só com a vinda de Jesus. É ele o “Filho do homem” que dá início ao Reino dos Santos do Altíssimo (Mc 14,62).

Ele inverteu os valores: colocou no vértice não o poder, mas o serviço, introduziu no mundo uma nova mentalidade, a do coração do homem, oposta à lei das feras.

Embora se instalem novos dominadores, o reino do mal não terá uma duração eterna.

 

Segunda leitura (Ap 1,5-8)

O livro do Apocalipse foi escrito numa pequena ilha do mar Mediterrâneo por um cristão que foi confinado lá por ter anunciado, com a pregação e com a vida, o evangelho.

A intenção do autor é infundir coragem aos cristãos perseguidos.

O autor começa lembrando aos cristãos uma verdade fundamental da sua fé: “Cristo é o príncipe dos reis da terra”, ao contrário do que pensam os chefes das nações que julgam serem os árbitros dos destinos dos povos.

Quem são os membros (os árbitros) que compõem esse reino?  Os chefes, os poderosos, os mandatários?

Não! Os sacerdotes (v.6). Cada cristão é sacerdote porque apresenta a Deus o único sacrifício que lhe agrada: a vida doada ao próximo. Cada gesto de generosidade é um exercício do próprio sacerdócio.

Sacerdote é principalmente aquele que é perseguido pela sua fidelidade ao evangelho; oferece a Deus o seu amor heroico em benefício dos seus próprios algozes que o fazem sofrer injustamente. A última parte da leitura (vv.7-8) retoma as palavras de Daniel: “Eis que ele (Jesus) vem do meio das nuvens”, e todos poderão vê-lo. É a celebração da sua vitória.

Ele não destroçará e nem humilhará os seus inimigos (aqueles que o transpassaram) pela força, mas transformará o coração deles: reconhecerão os seus erros e se converterão ao amor.

 

Evangelho (Jo 18,33-37)


Por certo, todos já viram quadros representando Cristo como um rei deste mundo, com o rosto severo cercado de anjos prontos a intervir a qualquer aceno. Um Cristo que inspira respeito e temor diante do qual é preciso prostrar-se.  Daí resultou uma imagem triunfalista de Cristo, competindo com os outros chefes das nações.

Nada mais falso, Jesus nunca usou coroa, senão a de espinhos, e nunca teve trono senão a cruz. Mais. Ele reagiu severamente contra aqueles que pretenderam fazê-lo aceitar uma realeza deste mundo.

Frustrou as expectativas messiânicas dos seus discípulos. Fugiu quando o povo queria fazê-lo rei (Jo 6,15).   No entanto, perante Pilatos Jesus confessou “Eu sou rei”. Pilatos não entendeu, porque só conhecia os reinos desse mundo, poderosos, dominadores e autoritários.

O Mestre acorreu em sua ajuda: “o meu reino não é deste mundo”. Será que Jesus quis dizer que o seu reino seria instalado no outro mundo, no paraíso? Talvez que seu reino é puramente espiritual? Que não tem nada a ver com as realidades terrenas?

Essa seria uma interpretação muito errônea (aliás muito em voga) das suas palavras. O seu reino está sendo instaurado aqui e agora, solidifica-se entre os habitantes desta terra. Não obstante, porém, não é deste mundo: não tem nada a ver com ambição e poder, riquezas, uso de armas. Não faz alianças com os grandes e poderosos, mas põe-se do lado dos humildes, daqueles que não tem valor nenhum.

Jesus insiste perante Pilatos que ele é rei porque veio para dar testemunho da verdade. Pilatos ficou na mesma: não tinha competência para entender o que é verdade.

As conquistas do Reino de Deus não se medem pelo número de batizados, pela eficiência das estruturas e das organizações eclesiais, pela grandiosidade dos templos, pelo temor que as nossas autoridades, das nossas comunidades podem incutir nos mandatários políticos. O Reino de Cristo cresce onde se manifesta a atitude de serviço, a doação generosa de solidariedade para com os outros, o encontro, o diálogo, onde se estabelecem relações novas entre os homens e as nações.

Contavam os rabinos que, durante uma noite escura, um homem acendeu uma lâmpada, mas o vento a apagou. Acendeu – a uma segunda, uma terceira vez, mas novamente foi apagada. Então ele disse: esperarei sol nascer. Da mesma forma Israel foi libertado do Egito, mas a lâmpada da sua liberdade foi apagada pelos babilônios; novamente foi libertado, mas logo foi oprimido pelos medos, pelos persas e por outros povos.  Então ele disse: esperarei o sol, o reino do Messias.

Os judeus ainda estão à espera que esta luz, que nunca se apagará, resplandeça; nós sabemos que ela já raiou: é Jesus de Nazaré.

 

(Obs. Aqui termina o ANO B. No próximo domingo começará Ano C)

 


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