Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum - Ano B


 

SERÁ QUE OS RICOS SE SALVAM?

Primeira leitura (Sb 7,7-11)

Os judeus que viviam em Alexandria, no Egito, estavam em busca da felicidade.  Envolvidos pela civilização grega, os judeus arriscavam perder a própria identidade e se entregar à busca de poder, riquezas e estética, onde encontrar a felicidade. Mas ao mesmo tempo estavam lembrados de Salomão que quando subiu ao trono, ainda jovem, assim rezou: “eu não passo de um adolescente, não sei como governar um povo tão numeroso. Dai, pois, ao vosso servo, Ó senhor, a sabedoria, um coração sábio, capaz de discernir entre o bem e o mal” (1Rs3,4-15). Esta oração agradou a Deus porque Salomão preferiu a sabedoria ao poder, à riqueza, pedras preciosas, ouro e prata.

Salomão se comportou com sabedoria, preferiu a sabedoria de Deus a qualquer outro bem. Todos os tesouros, o ouro, as pedras preciosas, a beleza física são como nada, só lama, areia (vv.7-10).

Mas será que para ser sábio é preciso renunciar a todas essas coisas maravilhosas da vida? Não. Não é verdade.  Quem cultiva a sabedoria, quem aprende a dar o justo valor às coisas, quem faz a escolhas conforme o projeto de Deus, nada perde, aproveita tudo: encontra a verdadeira felicidade.


Segunda leitura (Hb 
4,12-13)

Nas nossas comunidades acontece, às vezes, que o responsável pelo comentário sobre as leituras dominicais não esteja bem preparado. Começa a falar, fala muito sem dizer nada que se aproveite. A leitura do dia nos ensina que a Palavra de Deus é muito diferente dessas divagações ocas.

Antes de tudo a Palavra é “viva e eficaz”. A partir do momento que ela saiu da boca do Senhor, sempre produz resultados porque possui dentro de si a vida e a força de Deus. O profeta Isaías a compara à chuva que não cai nunca em vão: não volta para cima sem ter fecundado a terra e produzido frutos (Is5510-11).

Porque as nossas comunidades são sempre as mesmas? Porque continuam os mesmos descontentamentos, as mesmas discórdias, as mesmas fofocas? Por que não muda para melhor o ambiente de nossas famílias? Não será talvez porque a Palavra de Deus que é anunciada, não é nem viva nem eficaz?

A Palavra de Deus, além disso, é “cortante e penetrante” mais do que uma espada afiada, rija, inflexível: penetra o âmago de quem a escuta.

Por fim é também “juiz” de todas as nossas ações.

Porque muitos cristãos preferem repetir algumas fórmulas de orações, participar de alguma cerimônia do que meditar sobre algum trecho do evangelho? Será porque não conseguem entendê-lo?  Pode acontecer. Mas talvez os verdadeiros motivos sejam outros: talvez não queiram ser perturbados por uma Palavra que penetra até o fundo do coração e que deixa a descoberto os pensamentos e sentimentos.


Evangelho (Mc 
10,17-30)


Jesus está a caminho de Jerusalém e eis que alguém se ajoelha diante dele e   lhe pede: que devo fazer para herdar a vida eterna. Jesus lhe cita os mandamentos: do 4° ao décimo: com isso ele sugere que o amor a Deus acontece pelo amor ao próximo.  Marcos explica que o homem era muito rico: um latifundiário.

Ao ver que o homem cumprira todos aqueles mandamentos, Jesus olha para ele com amor e lhe diz: uma coisa te falta, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres...depois vem e segue-me. 

 A mensagem de Jesus é dura. Não basta pensar na própria salvação; é preciso pensar nas necessidades dos pobres. Não basta preocupar-se com a vida futura; é preciso preocupar-se com os que sofrem nesta vida. Não basta não causar dano aos outros; é preciso colaborar no projeto de um mundo mais justo, tal como Deus o quer.

O remédio não consiste em desprezar o dinheiro, mas em saber dar-lhe o devido valor. O dinheiro que se ganha com um trabalho honesto é bom. É necessário para viver. Mas se se transforma em nocivo se “sobe à nossa cabeça” e nos impele a ter sempre mais, com a única finalidade de possuir e conseguir o que outros não conseguem.

A maneira sadia de lidar com o dinheiro, é ganhá-lo de forma limpa, utilizá-lo com inteligência, fazê-lo frutificar com justiça e saber compartilhá-lo com os mais necessitados.

Entendem-se as palavras de Jesus ao rico. Aquele homem tem dinheiro, mas, ao mesmo tempo, quer viver na mordomia. Jesus lhe diz que lhe falta uma coisa: deixar de viver acumulando, e começar a compartilhar o que é seu, com os necessitados.

Aquele homem franziu a testa e foi embora triste, porque era muito rico. Está demasiadamente enfermo. 0 dinheiro tirou-lhe a liberdade para iniciar uma vida mais sadia. Ao contrário do que costumamos pensar, ter muito dinheiro não é uma sorte, mas um problema, porque facilmente fecha a passagem para uma vida mais humana.

Em nossas igrejas pede-se dinheiro para os necessitados, mas já não se expõe a doutrina cristã sobre o dinheiro pregada energicamente por teólogos e pregadores como Ambrósio de Milão, Agostinho de Hipona ou Bernardo de Claraval.  Dizia S. Ambrósio: o que sobra ao rico pertence ao pobre.

Infelizmente as leis protegem de maneira inflexível a propriedade privada dos privilegiados,  enquanto na sociedade haja pobres que vivem na miséria.

É chocante a palavra de Jesus: “é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no céu”. Naturalmente trata-se de uma hipérbole oriental a não ser tomada ao pé da letra, mas mostra em todo caso o poder desumanizante do dinheiro. O acúmulo da riqueza por parte de alguns, a miséria da maioria é um pecado que clama aos céus

 


Comentários

Postar um comentário