Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum - Ano B


 



PARA JESUS, AUTORIDADE É PARA SERVIR

 

Primeira Leitura (Is 53,2a.3ª.10-11)

O anseio de todos os homens é vencer, não perder; procuram ter domínio sobre os outros, não colocar-se a serviço dos outros.

Contrariando este ideal,  Deus apresentou desde o Antigo Testamento o exemplo do “Servo fiel” que não possui nenhuma das características que despertam  a atenção dos homens: a beleza, o poder, a riqueza; pelo contrário, é uma pessoa fraca, desprezada, derrotada.

A segunda parte (vv.10-11) nos esclarece sobre a forma diferente como Deus avalia a vida desse “Servo”. Aquilo que para os homens é um fracasso, para Deus é um triunfo. É através do sacrifício, do sofrimento, do dom de si mesmo que ele realiza a salvação.

Segunda leitura (Hb 4,1-16)

 

Nos primeiros capítulos dos evangelhos narra-se que Jesus foi tentado pelo demônio. Lucas insinua que estas tentações acompanharam toda a vida de Jesus (Lc 4,13).

A carta aos Hebreus afirma que Cristo tem a capacidade de entender todas as nossas fraquezas, porque ele foi tentado em tudo como nós com a diferença de que ele nunca pecou. Essa afirmação é para todos nós motivo de grande conforto.  Revelou-nos um Jesus muito próximo de nós, muito sensível aos nossos problemas. Embora fosse Filho, diz a carta, aprendeu, com o seu sofrimento, como é difícil para  homem obedecer e aceitar a vontade de Deus (Hb5,8).

Evangelho( Mc 10, 35-45)


A caminho de Jerusalém Jesus anunciou pela terceira vez que seria insultado,  flagelado e levado à morte. Os discípulos não entenderam as palavras de Jesus e continuaram sonhando com um Reino messiânico. Tanto isto é verdade que dois discípulos pedem a Jesus os primeiros lugares no seu reino.

A resposta de Jesus é taxativa: vocês não sabem o que estão pedindo. Em seguida, porém, com o objetivo de ajudá-los a superar a própria  incompreensão, serve-se de duas figuras: a do cálice e a do batismo.

A primeira lembra uma praxe muito conhecida em Israel: o pai ou o que preside a mesa, como gesto de estima e consideração, costumava oferecer à pessoa a quem queria distinguir, o seu cálice, para que também ele bebesse.

Essa imagem aparece frequentemente na bíblia, às vezes em sentido positivo: “ O Senhor é parte de minha herança e meu cálice (Sl 16,5), mas, na maioria das vezes, em sentido negativo: “Jerusalém, tu que bebeste da mão do Senhor a taça da sua cólera” (Is 51,17).

O cálice indica o destino, favorável ou não, de uma pessoa. Jesus está ciente que o aguarda um cálice de sofrimento, um cálice do qual gostaria de ser poupado (Mc 14,36); sabe, porém, que deve ser bebido, para poder entrar na sua glória.

A imagem do batismo tem o mesmo sentido; indica a passagem através das águas da morte. Os sofrimentos e as aflições que o justo deve suportar são frequentemente comparados pela bíblia a uma imersão em águas profundas ou à agitação de águas impetuosas (Sl 69,2-3; 42,8).

Jesus pergunta a Tiago e João se estão dispostos a beber o cálice e a receber o batismo. Eles respondem que sim. Naturalmente imaginam ain da um cálice delicioso. Jesus reponde que beberão, sim, do cálice, e que serão batizados no mesmo batismo de Jesus.

Em seguida responde à  pergunta sobre o lugar na glória, e diz que isto é um dom gratuito do Pai e que não depende de merecimentos. Não entendem que perante Deus não é possível apresentar  pretensões baseando-se em boas obras: dele recebemos sempre e somente dons (v.40).

A reação dos companheiros de Tiago e João revela que eles também não tinham assimilado o pensamento do Mestre.

Jesus então compara o modelo de autoridade que reina na sociedade: onde há chefes religiosos, rabinos, escribas, sacerdotes do templo etc.  tem títulos e exigem privilégios.

O pensamento de Jesus é claro: na sua comunidade não deve ser assim. É preciso ir exatamente na direção oposta. É preciso arrancar de seu movimento de seguidores essa “enfermidade” do poder que tende a “tiranizar” e “oprimir”.  Entre os seguidores de Jesus não deve existir hierarquia de poder. Ninguém está acima dos outros. Não há senhores, nem donos. A paróquia não é do pároco. A Igreja não é dos bispos e cardeais. O povo não é dos teólogos. Quem quiser ser grande ponha-se a serviço dos outros.

Jesus condena essa mentalidade, não quer que alguém o sirva, coloca-se no meio dos seus discípulos como alguém que presta serviço e lembra a todos que o “Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (v.45).

Não exige que lhe lavem os pés, como o faziam os rabinos em relação a seus discípulos, é ele, ao contrário, que se ajoelha diante deles  e os lava para eles.

Na Igreja todos precisamos ser servidores. Precisamos nos colocar na comunidade cristã não a partir de cima, a partir da superioridade, do poder ou do protagonismo interesseiro, mas a partir de baixo, a partir da disponibilidade, do serviço e da ajuda aos outros. Nosso exemplo é Jesus. Ele não viveu nunca “para ser servido, mas para servir”. Este é o melhor e mais admirável resumo do que foi sua vida.

 


Comentários

  1. Nossa, que impressionante a simbologia do cálice! Muito obrigada padre José, por esse esclarecimento. Parabéns pela bela bela homilia.

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