PARA JESUS, AUTORIDADE É PARA SERVIR
Primeira Leitura (Is 53,2a.3ª.10-11)
O anseio de todos os homens é vencer, não perder;
procuram ter domínio sobre os outros, não colocar-se a serviço dos outros.
Contrariando este ideal, Deus apresentou desde o Antigo Testamento o
exemplo do “Servo fiel” que não possui nenhuma das características que
despertam a atenção dos homens: a beleza, o poder, a riqueza; pelo
contrário, é uma pessoa fraca, desprezada, derrotada.
A segunda parte (vv.10-11) nos esclarece sobre a
forma diferente como Deus avalia a vida desse “Servo”. Aquilo que para os
homens é um fracasso, para Deus é um triunfo. É através do sacrifício, do
sofrimento, do dom de si mesmo que ele realiza a salvação.
Segunda leitura (Hb 4,1-16)
Nos primeiros
capítulos dos evangelhos narra-se que Jesus foi tentado pelo demônio. Lucas
insinua que estas tentações acompanharam toda a vida de Jesus (Lc 4,13).
A carta aos Hebreus
afirma que Cristo tem a capacidade de entender todas as nossas fraquezas,
porque ele foi tentado em tudo como nós com a diferença de que ele nunca pecou.
Essa afirmação é para todos nós motivo de grande
conforto. Revelou-nos um Jesus muito próximo de nós, muito sensível
aos nossos problemas. Embora fosse Filho, diz a carta, aprendeu, com o seu
sofrimento, como é difícil para homem obedecer e aceitar a vontade
de Deus (Hb5,8).
Evangelho( Mc 10, 35-45)
A caminho de Jerusalém Jesus anunciou pela terceira
vez que seria insultado, flagelado e levado à morte. Os discípulos
não entenderam as palavras de Jesus e continuaram sonhando com um Reino
messiânico. Tanto isto é verdade que dois discípulos pedem a Jesus os primeiros
lugares no seu reino.
A resposta de Jesus é taxativa: vocês não sabem o
que estão pedindo. Em seguida, porém, com o objetivo de ajudá-los a superar a
própria incompreensão, serve-se de duas figuras: a do cálice e a do
batismo.
A primeira lembra uma praxe muito conhecida em
Israel: o pai ou o que preside a mesa, como gesto de estima e consideração,
costumava oferecer à pessoa a quem queria distinguir, o seu cálice, para que
também ele bebesse.
Essa imagem aparece frequentemente na bíblia,
às vezes em sentido positivo: “ O Senhor é parte de minha herança e meu cálice
(Sl 16,5), mas, na maioria das vezes, em sentido negativo:
“Jerusalém, tu que bebeste da mão do Senhor a taça da sua cólera” (Is 51,17).
O cálice indica o destino, favorável ou não, de uma
pessoa. Jesus está ciente que o aguarda um cálice de sofrimento, um cálice do
qual gostaria de ser poupado (Mc 14,36); sabe, porém, que deve ser
bebido, para poder entrar na sua glória.
A imagem do batismo tem o mesmo sentido; indica a
passagem através das águas da morte. Os sofrimentos e as aflições que o justo
deve suportar são frequentemente comparados pela bíblia a uma imersão em águas
profundas ou à agitação de águas impetuosas (Sl 69,2-3; 42,8).
Jesus pergunta a Tiago e João se estão dispostos a
beber o cálice e a receber o batismo. Eles respondem que sim. Naturalmente
imaginam ain da um cálice delicioso. Jesus reponde que beberão, sim, do cálice,
e que serão batizados no mesmo batismo de Jesus.
Em seguida responde à pergunta sobre o
lugar na glória, e diz que isto é um dom gratuito do Pai e que não depende de
merecimentos. Não entendem que perante Deus não é possível
apresentar pretensões baseando-se em boas obras: dele recebemos
sempre e somente dons (v.40).
A reação dos companheiros de Tiago e João revela
que eles também não tinham assimilado o pensamento do Mestre.
Jesus então compara o modelo de autoridade que
reina na sociedade: onde há chefes religiosos, rabinos, escribas, sacerdotes do
templo etc. tem títulos e exigem
privilégios.
O pensamento de Jesus é claro: na sua comunidade
não deve ser assim. É preciso ir exatamente na direção oposta. É preciso
arrancar de seu movimento de seguidores essa “enfermidade” do poder que tende a
“tiranizar” e “oprimir”. Entre os seguidores de Jesus não deve
existir hierarquia de poder. Ninguém está acima dos outros. Não há senhores,
nem donos. A paróquia não é do pároco. A Igreja não é dos bispos e cardeais. O
povo não é dos teólogos. Quem quiser ser grande ponha-se a serviço dos outros.
Jesus condena essa mentalidade, não quer que alguém
o sirva, coloca-se no meio dos seus discípulos como alguém que presta
serviço e lembra a todos que o “Filho do Homem não veio para ser servido,
mas para servir” (v.45).
Não exige que lhe lavem os pés, como o faziam os
rabinos em relação a seus discípulos, é ele, ao contrário, que se ajoelha
diante deles e os lava para eles.
Na Igreja todos precisamos ser servidores.
Precisamos nos colocar na comunidade cristã não a partir de cima, a partir da
superioridade, do poder ou do protagonismo interesseiro, mas a partir de baixo,
a partir da disponibilidade, do serviço e da ajuda aos outros. Nosso exemplo é
Jesus. Ele não viveu nunca “para ser servido, mas para servir”. Este é o melhor
e mais admirável resumo do que foi sua vida.
Nossa, que impressionante a simbologia do cálice! Muito obrigada padre José, por esse esclarecimento. Parabéns pela bela bela homilia.
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