O MESSIAS SERVIDOR E SEUS DISCÍPULOS
Primeira leitura (Sb 2,12.17-20)
Em Alexandria, no Egito, onde vivia o autor do
livro da Sabedoria, havia dois tipos de pessoas: os ricos poderosos,
“ materialistas”, gozadores da vida, que viviam segundo o lema: “comamos e
bebamos, porque amanhã morreremos” (Cf. Is 22,13), de
um lado; e de outro, os fiéis e piedosos israelitas que acreditavam
em Deus e na vida futura. Os “materialistas” achavam que a religião era uma
coisa absurda e ultrapassada... Coisa de crianças...
Os israelitas piedosos, pela vida diferente que
levavam eram uma pedra no sapato dos gozadores da vida. Eram uma
condenação tácita, mas permanente e intrigante dos desmandos, das orgias, das
injustiças que os “materialistas” praticavam. A tensão entre os dois grupos se
tornava sempre mais intensa e insustentável. O “ímpio” de fato não consegue
viver por muito tempo com o “justo”; não consegue tolerar longamente a sua
tácita reprovação; o justo é uma pessoa que aborrece e que deve ser eliminado.
Jesus foi eliminado justamente porque denunciava as
injustiças e anunciava uma mensagem desafiadora que incomodava os detentores do
poder. O mesmo vale para os pregadores de hoje. Se pelo
contrário, sua pregação não incomoda ninguém e não denuncia a corrupção e o
abuso de poder não são representantes de Jesus.
Segunda leitura (Tg 3,16-4,3)
Nesta leitura, Tiago distingue dois tipos de
sabedoria: a “sabedoria que vem do alto” que se manifesta na compreensão,
bondade, misericórdia, paz, generosidade, onde não há inveja nem hipocrisia.
E, de outro lado, a sabedoria “humana” que está na
origem da ganância e do egoísmo e provoca contendas e guerras.
A última parte da leitura alerta os cristãos para
não pedirem em suas orações coisas para gastar com suas próprias vaidades, mas
a sabedoria, a capacidade de entender que a única coisa que vale na vida é o
serviço ao próximo.
Evangelho (Mc 9,30-37)
Vimos no domingo passado que Pedro confessou que
Jesus era o Messias, o libertador. Jesus o repreendeu asperamente porque Pedro
ainda pensava num Messias glorioso e vencedor. Chamou Pedro de “Satanás” porque
constituía uma tentação para Jesus. Para a decepção de Pedro e dos seus
companheiros, Jesus começou a ensinar-lhes que era preciso que
o Filho do Homem (Ele, Jesus) sofresse, fosse perseguido e morto. Porque era
preciso? Vontade de Deus, vontade de Jesus?
Não. Necessidade histórica. Diante das forças do mal (Anciãos,
Sumos-sacerdotes, Doutores da lei) só havia duas alternativas: fugir delas ou
enfrentá-las. Para quem viera instaurar o Reino de Deus, só havia
uma alternativa: enfrentá-las. Foi o que Jesus fez. Neste sentido, a luta de
Jesus contra as forças do mal e sua morte eram, sim, vontade de Deus.
Os discípulos ficaram perplexos e não entenderam o
anúncio do sofrimento e morte de Jesus, mas tinham vergonha de perguntar por sentirem
que se tratava de uma coisa importante.
Não obstante, na segunda parte do trecho
(vv.33-37), os apóstolos, que não entenderam as palavras do mestre continuam se
preocupando com os seus problemas mesquinhos e ridículos: “quem entre nós será
o primeiro”. Diante disso Jesus se manifestou com uma transcendência absoluta:
“Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos.
(v.35)”. Talvez para evitar que surgissem dúvidas, os evangelhos
repetem seis vezes estas palavras do mestre.
Na comunidade cristã quem ocupa o primeiro lugar
deve abandonar qualquer sonho de grandeza. A comunidade não é lugar apropriado
para alcançar posições de prestígio, para manter domínio sobre os outros. É o
lugar onde cada um, conforme os dons recebidos de Deus, deve celebrar a própria
grandeza, servindo o próximo.
Na terceira parte do evangelho narra-se um gesto
muito significativo de Jesus: ele toma um menino, coloca-o no meio de todos,
abraça-o e diz: “Quem acolhe um destes pequenos em meu nome, a mim acolhe”. No
capítulo seguinte, Marcos lembra um outro episódio que põe em destaque o
carinho e a ternura de Jesus em relação às crianças. Algumas mães lhe
apresentam os seus filhos para que os acaricie. Acreditava-se naquele tempo que
os homens de Deus transmitissem sua força vital, sua bondade, sua ternura, seu
espírito através do conato físico.
Os discípulos não gostam desse abuso de intimidade
e de confiança e se sentem na obrigação de censurar a Jesus e de afastar os
intrusos. Jesus reage indignado e lhes diz: “Deixai que as crianças venham a
mim e não queirais impedi-las, porque o reino do céu pertence a quem for como
elas”.
Em verdade vos digo: quem não aceita o reino do céu
como uma criança, não poderá entrar nele.” E tomando-as nos braços e impondo-lhes
as mãos, as abençoou (Mc 10,13-16).
A criança é símbolo de humildade, de abertura. Ela
nem sabe que tem direitos. Para ela tudo é dom. Aliás no tempo de Jesus a
criança não tinha valor porque não conhecia e evidentemente não observava as
prescrições da Lei.
No texto de hoje, as crianças simbolizam o ser
fraco e indefeso que deve ser cercado de delicadezas e de cuidados, não só as
crianças propriamente ditas.
Enfim, criança é sinônimo de pessoa necessitada e
dependente. Com o seu gesto em relação à criança Jesus está mostrando o que é
ser discípulo, o que significa ser maior dentro da comunidade: maior é aquele
que acolhe os carentes, marginalizados, oprimidos, injustiçados e por eles se
interessa, dedicando-lhes tempo e vida.
Linda reflexão! Parabéns padre José!
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