PARTILHAR OS BENS DA CRIAÇÃO PARA
CONSTRUIR MUNDO NOVO
Primeira leitura (2 Rs 4,41-44)
Antes de tudo é interessante observar
que a bíblia fala umas mil vezes de “comer” e só umas cem vezes de “rezar”.
Assim mesmo o povo comia uma só vez, ao entardecer (quando achava trabalho
durante o dia...) O sonho dos “pobres da terra”, era comer três vezes ao
dia como os ricos. Não é por nada que a felicidade eterna é descrita por meio
de um banquete.
O texto de hoje conta que um homem generoso
ofereceu ao profeta Eliseu 20 pães de cevada (o alimento dos pobres, os ricos
comiam pão de trigo. O profeta repartiu os 20 pães para cem pessoas. “todos
comeram e ainda sobrou”.
Esta leitura nos ensina que Deus não multiplica os
pães do nada. Antes encontramos o gesto generoso de um homem de Baalsalisa que
oferece o fruto do seu trabalho e ainda a decisão de Eliseu de partilhar o dom
recebido com todos os que se encontram necessitados.
Este episódio fornece a interpretação para a
Multiplicação dos pães. É interessante notar que um menino foi o primeiro a
abrir o bornal e oferecer o lanche, para Jesus fazer a “multiplicação dos pães,
quando sabemos que as crianças são as primeiras a consumir o lanche. De certo
as outras pessoas fizeram o mesmo e a partilha aconteceu. Jesus havia dito que
as crianças são as primeiras a entrar no Reino e os que se parecem com elas.
Segunda leitura (Ef4,1-6)
Nos primeiros versículos são apresentadas algumas
características da nova vida dos batizados: humildade, mansidão e paciência.
Na segunda parte do trecho é desenvolvido o tema da
unidade e são apresentados sete motivos pela qual deve reinar entre os
cristãos: um só copo, um só espírito, uma só esperança, um só Senhor, Pai de
todos. As diferenças são normais, mas isto não é motivo para desunião ou
discórdias. Os vv.11-16 retratam a comunidade cristã como um só corpo, bem
estruturado, no qual cada membro tem a sua função e o seu papel a desempenhar.
Evangelho (Jo 6,1-15)
A multiplicação dos pães narrada neste evangelho
começa com uma especificação cronológica: “estava próxima a Páscoa, a festa dos
judeus”. Não se trata de uma informação, mas de uma moldura teológica.
É um apelo do evangelista para interpretar a
multiplicação dos pães na perspectiva da solene Páscoa judaica, a
festa que celebra a libertação de Israel da escravidão do Egito.
Durante o êxodo Moisés proporcionou o maná; como
ele, Jesus sacia a fome dos que o seguem.
Jesus se preocupa com a alimentação do povo pobre
que dele se aproxima. Notemos bem o que diz o v.5: ao ver a multidão que vem a
seu encontro, Jesus não se preocupa com o que há de dizer a esse povo. Preocupa-se,
sim com a fome material dessa gente. É a única preocupação de Jesus diante do
povo faminto. E a nossa, qual é? A pergunta feita a Felipe (“onde vamos comprar
pão para eles comerem”) e a resposta desse discípulo (“nem duzentas moedas de
prata...) exprimem o sistema antigo que Jesus quer mudar. André
ainda pensa que para saciar a fome do povo será necessário muito dinheiro: é
preciso antes acumular para depois distribuir. É
a lógica econômica proveniente do templo de Jerusalém (lógica capitalista...),
vai ser sempre assim...
Ao mesmo tempo Felipe traz uma nova perspectiva:
“Aqui está um menino com cinco pães de cevada e dois peixes, mas o que é isto
para tanta gente...” (por incrível que pareça o menino foi o primeiro a abrir o
bornal e oferecer a sua merenda, no que foi imitado também por outras
pessoas). A sensibilidade de André em relação ao menino e à comida
dos pobres, desencadeia a novidade de Jesus. André, portanto, representa as
pessoas que apostam nos pequenos. Mas ele (e nós) não está plenamente
convencido de que a fome da humanidade possa ser superada a partir dos pequenos
e da partilha.
(Jesus nasceu e cresceu num sistema econômico onde
não havia comércio, acúmulo, os bens eram repartidos, como o fazem ainda hoje
os nossos índios; Já nas cidades grandes havia acúmulo e consequentemente
miséria, roubos etc.).
Jesus manda o povo sentar para a
refeição. “Tomou os pães, de raças e distribuiu aos que estavam
sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes v.11). Dar graças a
Deus significa reconhecer que os bens da criação pertencem ao criador. Jesus
não agradece ao menino, nem a André, agradeceu a Deus porque, no seu projeto,
criou as coisas para o bem de todos, sem que alguém fosse excluído.
“Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com
as sobras dos cinco pães que haviam comido. O número doze é simbólico.
Significa que será possível alimentar a todos. Recupera-se desse modo o ideal
fraterno do deserto cf. Ex. 16,18). Se a humanidade aprendesse a partilhar,
todos teriam o necessário, e sobraria muita coisa.
A Eucaristia é a grande lição de partilha.
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