Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum - Ano B


 

 

PARTILHAR OS BENS DA CRIAÇÃO PARA CONSTRUIR MUNDO NOVO

 

Primeira leitura (2 Rs 4,41-44)

  Antes de tudo é interessante observar que a bíblia fala umas mil vezes de “comer” e só umas cem vezes de “rezar”. Assim mesmo o povo comia uma só vez, ao entardecer (quando achava trabalho durante o dia...) O sonho dos “pobres da terra”, era comer três vezes ao dia como os ricos. Não é por nada que a felicidade eterna é descrita por meio de um banquete.

O texto de hoje conta que um homem generoso ofereceu ao profeta Eliseu 20 pães de cevada (o alimento dos pobres, os ricos comiam pão de trigo. O profeta repartiu os 20 pães para cem pessoas. “todos comeram e ainda sobrou”.

Esta leitura nos ensina que Deus não multiplica os pães do nada. Antes encontramos o gesto generoso de um homem de Baalsalisa que oferece o fruto do seu trabalho e ainda a decisão de Eliseu de partilhar o dom recebido com todos os que se encontram necessitados.

Este episódio fornece a interpretação para a Multiplicação dos pães. É interessante notar que um menino foi o primeiro a abrir o bornal e oferecer o lanche, para Jesus fazer a “multiplicação dos pães, quando sabemos que as crianças são as primeiras a consumir o lanche. De certo as outras pessoas fizeram o mesmo e a partilha aconteceu. Jesus havia dito que as crianças são as primeiras a entrar no Reino e os que se parecem com elas.

 

Segunda leitura (Ef4,1-6)

Nos primeiros versículos são apresentadas algumas características da nova vida dos batizados: humildade, mansidão e paciência.

Na segunda parte do trecho é desenvolvido o tema da unidade e são apresentados sete motivos pela qual deve reinar entre os cristãos: um só copo, um só espírito, uma só esperança, um só Senhor, Pai de todos. As diferenças são normais, mas isto não é motivo para desunião ou discórdias. Os vv.11-16 retratam a comunidade cristã como um só corpo, bem estruturado, no qual cada membro tem a sua função e o seu papel a desempenhar.

 

Evangelho (Jo 6,1-15)

A multiplicação dos pães narrada neste evangelho começa com uma especificação cronológica: “estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus”. Não se trata de uma informação, mas de uma moldura teológica. É  um apelo do evangelista para interpretar  a multiplicação dos pães na perspectiva da solene  Páscoa judaica, a festa que celebra a libertação de Israel da escravidão do Egito.

Durante o êxodo Moisés proporcionou o maná; como ele, Jesus sacia a fome dos que o seguem.

Jesus se preocupa com a alimentação do povo pobre que dele se aproxima. Notemos bem o que diz o v.5: ao ver a multidão que vem a seu encontro, Jesus não se preocupa com o que há de dizer a esse povo. Preocupa-se, sim com a fome material dessa gente. É a única preocupação de Jesus diante do povo faminto. E a nossa, qual é? A pergunta feita a Felipe (“onde vamos comprar pão para eles comerem”) e a resposta desse discípulo (“nem duzentas moedas de prata...)  exprimem o sistema antigo que Jesus quer mudar. André ainda pensa que para saciar a fome do povo será necessário muito dinheiro: é preciso antes acumular para depois distribuir. É a lógica econômica proveniente do templo de Jerusalém (lógica capitalista...), vai ser sempre assim...

Ao mesmo tempo Felipe traz uma nova perspectiva: “Aqui está um menino com cinco pães de cevada e dois peixes, mas o que é isto para tanta gente...” (por incrível que pareça o menino foi o primeiro a abrir o bornal e oferecer a sua merenda, no que foi imitado também por outras pessoas).  A sensibilidade de André em relação ao menino e à comida dos pobres, desencadeia a novidade de Jesus. André, portanto, representa as pessoas que apostam nos pequenos. Mas ele (e nós) não está plenamente convencido de que a fome da humanidade possa ser superada a partir dos pequenos e da partilha.

(Jesus nasceu e cresceu num sistema econômico onde não havia comércio, acúmulo, os bens eram repartidos, como o fazem ainda hoje os nossos índios; Já nas cidades grandes havia acúmulo e consequentemente miséria, roubos etc.).

Jesus manda o povo sentar para a refeição.  “Tomou os pães, de raças e distribuiu aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes v.11). Dar graças a Deus significa reconhecer que os bens da criação pertencem ao criador. Jesus não agradece ao menino, nem a André, agradeceu a Deus porque, no seu projeto, criou as coisas para o bem de todos, sem que alguém fosse excluído.

“Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães que haviam comido. O número doze é simbólico. Significa que será possível alimentar a todos. Recupera-se desse modo o ideal fraterno do deserto cf. Ex. 16,18). Se a humanidade aprendesse a partilhar, todos teriam o necessário, e sobraria muita coisa.

A Eucaristia é a grande lição de partilha.

 



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