DEUS É O SENHOR DA VIDA
Primeira leitura (Sb 1,13-15:2,23-25)
Estes versículos do livro da Sabedoria procuram responder à
pergunta mais dramática do homem: Porque é preciso morrer?
Viemos do nada, abrimos os olhos à luz do sol, ficamos
encantados com esta vida, mas a seguir uma força tenebrosa, inexorável e
impiedosa nos arrasta novamente para o nada.
Na leitura de hoje se diz que o homem, criado à imagem de
Deus era imortal. Com o pecado de Adão, a sorte mudou: a morte entrou no mundo.
É uma afirmação desconcertante! Será que se o homem não
tivesse pecado não morreria nunca? De jeito nenhum. A morte biológica sempre
existiria independente do pecado. Não é consequência do pecado.
Como qualquer ser vivo, o organismo humano, com o transcorrer
dos anos, enfraquece, se desgasta e encerra o seu ciclo.
Os israelitas do tempo de Jesus não tinham medo da morte
porque, segundo eles, a morte não era uma volta para o nada. Eis a razão pela
qual o livro da Sabedoria, quando fala da morte dos justos não diz que eles
“morrem”, mas que eles “encerram a sua vida”. A morte deles é uma “partida”,
“libertação”, “mudança para um outro mundo”, um “êxodo” da escravidão para a
liberdade. Assim sendo, a morte não era um castigo.
Em que sentido, então, a morte foi introduzida no mundo pelo
pecado?
Sb
1,12 diz assim: “não procureis a morte por uma vida desregrada, não sejais o
artífice da própria perda”. Todo pecado provoca destruição e morte naquele que
o comete. Por acaso não é verdade que quem odeia, quem se vinga, quem pratica
violências, quem se deixa escravizar
pelas drogas, atenta contra a própria vida?
O v. 25 diz que provarão a morte somente aqueles que
pertencem ao diabo. Já outros, embora devam passar pela morte biológica, não
provarão a morte, a “verdadeira morte”.
Deus criou o homem para a vida. Mas o homem começa a morrer
quando já não ama, quando se fecha em si mesmo quando se torna egoísta. O diabo
não é um monstrengo que não pode ser visto, nem encontrado. É o mal que se
encontra no coração de cada um de nós, é o reino das trevas, do ódio, do
pecado.
Segunda leitura (2Cor 8,7.9.13-15)
Aproximadamente 20
anos depois de sua fundação, a comunidade de Jerusalém passava por
sérias dificuldades. Tinha havido algumas calamidades naturais: falta de chuva,
colheitas quase inexpressivas; as pessoas já não tinham o que comer. Paulo
então faz uma campanha nas suas comunidades para arrecadar dinheiro e gêneros
alimentícios para serem enviados a Jerusalém.
Diante de situações como esta, costuma haver hoje em dia duas
reações. Alguns rezam... e deixam para Deus então fazer a sua parte... solução
fácil mas que não resolve o problema, pois que Deus não fará cair do céu o
“maná”... Outros já se solidarizam e
mesmo sem rezar ajudam de fato e assim cumprem o verdadeiro preceito cristão:
“amar o próximo como a si mesmo”. É o que estamos vivendo no Brasil neste tempo
de pandemia.
Graças a Deus o povo brasileiro é muito solidário, sobretudo
os pobres. Constatamos que a pobreza
une as pessoas enquanto a riqueza divide. Nesse sentido é lamentável que
enquanto a pandemia está ceifando milhares de vidas, e a pobreza se instalando
nos lares de 60% dos brasileiros, os funcionários públicos de primeiro escalão
estão reivindicando aumento para além do teto salarial que é R$ 39.000,00, sem
falar dos “penduricalhos” que somam
outro tanto. É uma falta de vergonha, um verdadeiro acinte! Pecado grave de
ganância!
Mas voltemos ao texto da segunda leitura: Paulo apresenta dois motivos para convencer
os coríntios. Primeiro (v.9) é o exemplo
de Cristo que de rico se fez pobre para partilhar a sua riqueza, e o segundo
(vs.13-15) é a necessidade de promover a igualdade de todos e impedir que
alguns acumulam riqueza e outros vegetem na pobreza.
Evangelho (Mc 5, 21-43)
Neste texto Marcos narra dois
milagres de Jesus: 1. A cura da filha de Jairo (vs 21-24), um dos chefes da sinagoga e 2. A
cura de uma mulher que há 12 anos sofria de hemorragia(vs.25-34).
Vamos ao primeiro milagre: uma mulher vítima de uma grave
hemorragia. É uma doença desconfortante e humilhante que atinge a mulher na sua
intimidade. Além do sofrimento físico, a doença é causa de impureza religiosa:
não pode ser admitida nas solenidades e nos encontros da comunidade. Todos
devem evitá-la.
Cheia de coragem ela ousa aproximar-se de Jesus porque
pensava: “Se tocar, ainda que seja na orla do seu mento, estarei curada”. Movida pela fé, a mulher se aproxima de Jesus
por detrás, toca o seu manto, e como que invadida por uma repentina força vital,
sente-se curada.
Jesus percebeu que saíra dele uma força e voltando-se para o povo,
perguntou “Quem tocou minhas vestes?” A mulher atemorizada e trêmula lançou-se
aos pés de Jesus e contou toda a
verdade. Jesus, porém, lhe disse: “Filha, a tua fé te salvou”. É interessante notar que o milagre atinge só
uma pessoa e mais ninguém da multidão que estava em volta de Jesus.
A multidão representa o inumerável número de cristãos de
nossos dias. Eles estão perto de Jesus, estão em condições de ouvir a sua
Palavra, de “tocá-lo” nos sacramentos e sobretudo na eucaristia. Mas se esta
proximidade com Cristo não produz em nós mudanças radicais, quer dizer que
somos “multidão”, fãs e simpatizantes de
Jesus mas não o “tocamos” com fé . Mantemos com ele contatos superficiais e
aparentes, mas a sua palavra se reduz a
um som vazio, que entra pelos ouvidos, mas não atinge o coração. Não há
verdadeira conversão.
Passemos agora ao segundo episódio, a cura da filha de Jairo.
Aqui não nos deparamos com uma simples doença, por mais grave
que seja, mas com uma situação desesperadora: a morte. A energia de vida que
Jesus comunica aos doentes pode, por acaso, fazer alguma coisa como este?
Humanamente não há nada que se possa esperar. Contudo, ao chefe da sinagoga
Jesus diz: “Não temas, somente crê”. Em seguida, segurando a mão da menina,
disse “talita cumi”, quer dizer,
menina levante-se.
Eis a mensagem inaudita: o seu poder não se detém nem mesmo
diante do maior inimigo do homem: a morte.
A mensagem para nós é que para quem acredita em Jesus não há
situações sem volta.
Quando nos deparamos com pessoas que envenenaram por completo
a própria vida, perversas, malvadas, depravadas, totalmente “mortas”, nos
sentimos desanimados, nos deixamos abater e acabamos por concordar, que aqueles
que, como os amigos de Jairo vão nos dizendo: deixa pra lá, não adianta
insistir, para que ainda incomodar o mestre? Para essas pessoas, inclinadas a
perder a esperança de que alguma coisa ainda possa mudar, Jesus repete: “Não
tenhas medo, somente crê”. Quem acredita nele, também hoje poderá ver
“ressurgir” para uma vida nova aqueles que todos consideram definitivamente “mortos”.
Parabéns padre José! Uma bela reflexão!
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