Terceiro Domingo do Tempo Comum – Ano B


 



QUEM SABE FAZ A HORA NÃO ESPERA ACONTECER

 

Primeira leitura (Jn 3,1-5.10)

O livro de Jonas é uma espécie de novela surgida depois que o povo de Deus retornou do exílio na Babilônia (538 a.c.). É compreensível o ódio e o desprezo que Jonas e seu povo sentiam pelo babilônios

Convidado por Deus a evangelizar os babilônios, Jonas se recusa. Pega um navio que vai para o ocidente em vez de ir para o oriente. Acontece que o navio naufraga e Jonas é engolido por um grande peixe que o joga numa praia da Assíria. Deus então lhe pede que Jonas vá evangelizar a Assíria e lhe deu 40 dias para conseguir a evangelização. A surpresa foi que bastou um dia de pregação para que toda a população acreditasse em Deus, proclamasse um jejum e vestisse roupas de penitência, obtendo assim o perdão de Deus, o que Deus não conseguiu com o povo de Israel. Os babilônios são mais solícitos, abertos, espontâneos e amigos de Deus que o povo resgatado pelo Senhor.

Pode acontece entre nós também que pessoas afastadas da Igreja e da religião se mostram mais dispostas a aceitar a mensagem do evangelho.

 

Segunda Leitura (1Cor 7,29-310

No tempo de Paulo havia uma expectativa de que o Reino de Deus estaria próximo. O que fazer diante disso? As opiniões eram as mais diversas. Alguns afirmavam que a única coisa por fazer era gozar a vida antes que ela terminasse. Paulo diz que diante da urgência do tempo quem usa dos bens materiais é melhor não usá-los

Não é um apelo ao desprezo dos bens materiais. Paulo quer dizer apenas que os bens materiais, são importantes, é verdade, mas não são eternos. Não por desprezo ao matrimônio que alguém não se casa: não é por falta de apreciação dos bens materiais que alguém renuncia às riquezas e às comodidades da vida. O amor fraterno vale mais do que todos os bens materiais.

A renúncia ao matrimônio pode ser um testemunho de serviço às necessidades pastorais.

 

Evangelho (Mc 1,14-20)


O tema central do evangelho de hoje é o reino de Deus. Não é uma “doutrina religiosa”. É antes um “acontecimento” que está invadindo a sociedade e que pode mudar tudo: “Deus está se introduzindo na vida com sua força salvadora. É preciso dar-lhe lugar. “Completou-se o tempo (isto é, a história terminou, agora começa o reino de Deus), o reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa Notícia”.  Um bom resumo da mensagem de Jesus é este: aproxima-se um tempo novo. Deus não quer deixar-nos à frente de nossos problemas e desafios. Quer construir junto a nós uma vida mais humana. Mudai a maneira de pensar e de agir. Vivei crendo nesta boa Notícia.

Jesus nunca explica diretamente em que consiste o “reino de Deus”. O que ele faz é sugerir em parábolas inesquecíveis como Deus age e como seria a vida se houvesse pessoas que agissem como ele. Para Jesus o reino de Deus seria a sociedade como Deus a quer.  Como seria a vida se em Roma reinasse Deus e não Tibério. Como seriam as coisas se em Roma se imitasse não a Tibério que só busca poder, riqueza e honra, mas a Deus que pede justiça e compaixão para com os últimos?

Como seria a vida nas aldeias da Galiléia se em Tiberíades reinasse Deus e não Antipas? Com tudo mudaria se as pessoas se parecessem não com os ricos proprietários de terra, que exploram os camponeses, mas com Deus que quer vê-los comendo e não mortos de fome?

Como seria a Igreja se se dedicasse somente a construir a vida tal como Deus a quer, não como a querem os senhores do mundo.

Quando Deus reina no mundo, a humanidade progride em justiça, solidariedade, compaixão, fraternidade e paz... A isso se dedicou Jesus com verdadeira paixão. Por isso foi perseguido, torturado e executado. “O reino de Deus” foi o absoluto para ele.

A conclusão é evidente: a força, o motor, objetivo, a razão e o sentido último do cristianismo é o “reino de Deus”, não outra coisa. O critério para medir a identidade dos cristãos, a verdade de uma espiritualidade ou a autenticidade do que a Igreja faz é sempre o reino de Deus. Um reino que começa aqui e alcança sua plenitude na vida eterna.

Uma das heresias mais graves que se foi introduzindo no cristianismo é fazer da Igreja o absoluto. Pensar que a Igreja é o elemento central, a realidade diante da qual todo o resto deve ficar subordinado; fazer da Igreja o “substitutivo” do reino de Deus, trabalhar pela Igreja e preocupar-nos com seus problemas, esquecendo o sofrimento que existe no mundo e a luta por uma organização mais justa da vida

Depois deste resumo, a primeira atuação de Jesus é buscar colaboradores para levar adiante seu projeto. Jesus vai passando junto ao lago da Galiléia. É um mestre ambulante, não um rabino sentado em sua cátedra que busca alunos para formar uma escola religiosa.  É um profeta ambulante que busca seguidores para fazer com eles um percurso apaixonante.

Quem toma a iniciativa é sempre Jesus. Ele se aproxima fixa seu olhar naqueles pescadores e os chama a dar uma orientação nova à sua existência. O mais decisivo é escutar a partir de dentro seu chamado “vinde a mim”.

A palavra-chave é “converter-se” que significa “pôr-se a pensar”, “revisar o enfoque de nossa vida”, “reajustar a perspectiva”. As palavras de Jesus poderiam ser ouvidas da seguinte forma: “olhai para ver se não precisais revisar e reajustar algo em vossa maneira de pensar e agir, para que se cumpra em vós o projeto de Deus de uma vida mais humana.

Se é assim, a primeira coisa que precisamos revisar é aquilo que bloqueia nossa vida. Converter-nos é “libertar a vida”, eliminando medos, egoísmos, tensões e escravidões que nos impedem de crescer de maneira sadia e harmoniosa. A conversão que não produz paz e alegria não é autêntica. Não está nos aproximando do reino de Deus.

Depois precisamos revisar se cuidamos bem das raízes. As grandes decisões não servem para nada se não alimentamos as fontes. Não é pedida uma fé sublime nem uma vida perfeita, apenas que vivamos no amor que Deus tem por nós. Converter-nos não é empenhar-nos em ser santos, mas aprender a acolher o reino de Deus e sua justiça.

A vida nunca é plenitude nem êxito total. Precisamos aceitar o “inacabado”, o que nos humilha, o que não conseguimos corrigir. O importante é manter o desejo, não ceder ao desalento. Converter-nos não é viver sem pecado, mas a viver do perdão, sem orgulho, sem tristeza, sem alimentar a insatisfação pelo que deveríamos ser e não somos. Assim diz o Senhor no livro de Isaías: “Pela conversão e pela calma sereis libertados (30,15).

 


Comentários

  1. Linda reflexão sobre o Reino de Deus! Como seria bom se todos nós pudéssemos viver a autenticidade da missão que Deus planejou para cada um. Seria o céu já aqui, tal como ensina a Igreja de Cristo!

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