Sétimo Domingo do Tempo Comum - Ano C



              AMAR O INIMIGO PARA SER MISERICORDIOSO COMO O PAI

Primeira leitura (1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23)
Saul foi o primeiro rei de Israel  nomeado por Samuel em 1030 a. C. Sentindo a ascensão de Davi  por considerá-lo forte pretendente ao trono e por ver que a opinião pública apoiava a liderança  de Davi, resolveu eliminá-lo e perseguiu-o com o seu exército.
Davi fugiu, mas encontrou Saul dormindo no seu acampamento. Abisai, fiel escudeiro de Davi, aconselhou a Davi matar a Saul(v.8), mas Davi não o permitiu porque Saul era afinal o “Ungido do Senhor”(rei). Ao contrário, desarma-o, tanto em sentido literal, pois lhe toma a lança e o cantil de água, quanto em sentido mais amplo, mostrando a Saul a sua injustiça e infidelidade. De fato, a função do rei era instaurar a justiça que protege o povo de todas as situações de morte, mas Saul está justamente perseguindo o inocente e justo, a fim de matá-lo.
Davi vê no rei o “ungido do Senhor”. Crê na justiça de Deus: “O Senhor pagará a cada um de acordo com a sua justiça e sua fidelidade”

Segunda leitura(1Cor 15,45-49)
O tema da leitura é o que sobrará de nós depois da morte: só a nossa parte espiritual,ou teremos também um corpo. Nesta carta aos coríntios Paulo afirma que não é este corpo material que ressuscita (que já “virou” pó ou cinzas). Cada pessoa receberá de Deus um “corpo espiritual”. Não é só uma parte de nós que ressuscitará, mas toda a nossa pessoa entrará na glória do céu.
Paulo faz uma comparação: a morte é como uma semente de manga que é enterrada no chão. Depois de um certo tempo reaparece sob a forma de arbusto( 1Cor 15,35-44), que se cobre de folhas, se transforma em árvore e produz frutos saborosos. Na leitura de hoje Paulo afirma que esta transformação não é consequência de uma força natural do homem: é obra do Espírito que nos foi infundido  no Batismo, Espírito que, como fez Cristo ressuscitar da morte, fará ressuscitar também a nós.
Se o encontro com Deus purifica a pessoa dos seus pecados, se elimina todos os seus elementos negativos, se deixa na pessoa só a capacidade de amar, não tem sentido conservar a lembrança dos erros cometidos durante esta vida. Embora tenhamos sofrido nesta vida, não devemos alimentar rancores. Agora, na luz de Deus, ela engloba tudo, está conosco, reza conosco, nos acompanha sempre, nos ajuda  e nos conduz ao bem.

Evangelho (Lc 6,26-38)
“A vós que me escutais eu vos digo: amai vossos inimigos. Fazei o bem   aos que vos odeiam”. O que podemos, nós discípulos, diante  destas palavras tão exigentes?
Não muda muito nas diferentes culturas a postura básica das pessoas diante do “inimigo”, ou seja, diante de alguém de quem só  podemos esperar que nos faça mal.
Por isso, precisamos destacar ainda mais a importância revolucionária que se encerra no mandamento evangélico do amor ao inimigo, considerado pelos exegetas como  o ícone da mensagem cristã.
Quando Jesus fala do amor ao inimigo, não está pensando num sentimento de afeto,  carinho para com ele, mas numa atitude humana de interesse positivo para seu bem.
Jesus pensa que a pessoa é humana quando o amor está na base de toda a sua atuação. E nem sequer a relação com os inimigos deverá ser uma exceção. Quem é humano até o fim respeita a dignidade do inimigo por mais desfigurado que possa apresentar-se- a nós. Não adota diante dele uma postura excludente de maldição, mas uma atitude de tolerância..
E é precisamente este amor, que abrange a todos e busca realmente o bem de todos, sem exceção, a contribuição mais humana que aquele que se inspira no evangelho de Jesus pode introduzir na sociedade.
Há situações em que este amor ao inimigo parece impossível. Estamos demasiadamente feridos para poder perdoar. Precisamos de tempo para recuperar a paz. É o momento de lembrar que também nós vivemos da paciência e do perdão de Deus.
O que é perdoar? A mensagem de Jesus é categórica: “Amai vossos inimigos fazei o bem aos que vos odeiam”. É possível esta atitude? O que se nos está pedindo? Podemos amar o inimigo?  Talvez precisemos começar por conhecer melhor o que significa “perdoar”.
É importante, em primeiro lugar, entender e aceitar os sentimentos de ira, revolta ou agressividade que nascem em nós. É normal. Estamos feridos. Para não causarmos um dano ainda maior precisamos recuperar o quanto possível a paz interior que nos ajude a reagir de maneira sadia.
A primeira reação daquele que perdoa é não vingar-se. Não é fácil. A vingança é a resposta medíocre quase instintiva que nasce dentro de nós quando nos feriram ou humilharam. Procuramos compensar nosso sofrimento fazendo sofrer quem nos causou dano.. Para perdoar é importante não gastar energias imaginando nossa revanche.
É decisivo, sobretudo, não alimentar o ressentimento. Não permitir que o ódio se instale em nosso coração. Temos direito a que se nos faça justiça: aquele que perdoa não renuncia a seus direitos. Mas o importante é curar-nos aos poucos do dano que nos causaram.
Perdoar pode exigir tempo. O perdão não consiste num ato de vontade, que rapidamente conserta tudo. Em geral, o perdão é o final de um processo no qual intervém também a sensibilidade, a compreensão, a lucidez e, no caso do crente, a fé num Deus de cujo perdão todos nós vivemos.
Para perdoar é necessário às vezes compartilhar com alguém nossos sentimentos. Perdoar não quer dizer esquecer o dano que nos causaram, mas sim recordá-lo da maneira menos prejudicial para o ofensor e para si mesmo. Aquele que chega a perdoar chega a sentir-se melhor.
Quem vai entendendo assim o perdão compreende que a mensagem de Jesus longe de ser algo impossível, é o caminho acertado para ir sanando as relações humanas, sempre ameaçadas por nossas injustiças e conflitos.


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