IMACULADA CONCEIÇÃO – ANO A


 


 

DEUS SE ENCARNOU EM NOSSA HISTÓRIA


 

 

Primeira leitura (Gn 3,9-15,20).

 

O texto trata da origem do mal na vida das pessoas e na sociedade. As estórias da árvore, do paraíso e da serpente foram criadas no tempo de Salomão. São estórias carregadas de crítica contra a absolutização do poder, ter e saber, personificados em Salomão, bajulado como sábio, mas na verdade um ditador opressor.

A opressão tem suas raízes na serpente, símbolo da auto-suficiência do homem diante de Deus. Essa é a suprema idolatria.

Quando as pessoas se absolutizam e se afastam de Deus, percebem que estão nuas, isto é desprotegidas e frágeis.

As relações entre as pessoas acabam se deteriorando: o homem não assume a responsabilidade de seus atos e acusa a mulher, esta, por sua vez, acusa a serpente, que é  o espírito da auto-suficiência que gera o mal e a morte na sociedade.

O fato do homem dar nome à mulher tem um aspecto simbólico. “Dar nome a alguém” significa para o povo da bíblia, ter domínio sobre essa pessoa. O homem, portanto, passou a dominar a mulher, transtornando as relações  entre seres feitos à imagem e semelhança de Deus.

Deus amaldiçoa a serpente. Nessa maldição está embutida também a garantia de que a descendência da mulher vencerá, um dia, a duras penas, o poder da auto-suficiência; “Eu porei inimizade entre você e a mulher, entre a descendência de você e os descendentes dela. Estes vão lhe esmagar a cabeça, e você ferirá o calcanhar deles” (v.15)

 

Segunda leitura (Ef 1,3-6.11-12)


 

Maria é o sinal mais evidente do triunfo de Deus sobre o mal. É imaculada desde sua concepção, isto é, na totalidade de sua existência. As suas escolhas sempre estiveram em sintonia com o projeto de Deus.

A segunda leitura é um longo hino de louvor a Deus pelas maravilhas por ele operadas em favor dos homens: “deus nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados. Também nós, como Maria, nos tornaremos “imaculados”. Também em nós o mal sofrerá uma derrota total.

O texto começa com um louvor ao Senhor “Bendito  seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (v.3). A “benção” sempre faz parte da oração judaica. Também quando ele se dirige a Deus para pedir-lhe qualquer coisa, nunca diz: “Senhor, dá-me saúde, o perdão, dá-me isto  ou aquilo...”, diz sempre: “Bendito és tu, Senhor nosso Deus, tu que curas, tu que perdoas, tu que dás todo bem, concede-nos...”

Contemplando a vitória sobre o mal obtida em Maria, não podemos senão  unir as nossas vozes às vozes dos cristãos de Éfeso que cantavam a sua “bênção” a Deus Pai.

O hino continua narrando os inumeráveis favores concedidos pelo Senhor(vv.4-10). Já antes da criação do mundo Ele idealizou um projeto de salvação para toda a humanidade: decidiu que todos os homens formassem uma só pessoa com Cristo, que recebessem a sua vida divina e fossem introduzidos na sua família. Ele que realizou grandes maravilhas em Maria, realizará seus projetos de salvação também em nós. Embora constatemos ainda muitas vitórias  da “serpente”, somos chamados a manifestar a nossa confiança nas suas hábeis mãos de artista. Estamos certos de que Ele está levando a cumprimento o seu sonho.

 

Evangelho (Lc 1,26-38)

 

Lucas mostra que em Jesus iniciam sociedade e história novas, realizando as esperanças do povo na vinda do Messias descendente de Davi. José, a quem Maria fora prometida em casamento, é da “descendência de Davi”... “Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor lhe dará o trono de seu pai Davi... e o seu reino não terá fim” “O menino que vai nascer será santo e chamado Filho de Deus”. Para quem lê o Evangelho de Lucas: Jesus é de fato o Messias prometido.

Embora descendente de Davi, o grande rei, Jesus ao se encarnar, escolhe  Nazaré, uma cidade desconhecida em todo o Antigo Testamento.

Maria é noiva de José descendente de Davi. Para os judeus, o noivado já é, juridicamente matrimônio, mas a convivência matrimonial iniciava só quando o marido levava a noiva para casa, Maria concebe antes de ir morar com José. O modo extraordinário como Jesus foi concebido mostra, por um lado, a novidade com que Deus age na história; por outro lado, demonstra que o menino é considerado, para qualquer efeito, filho de José e descendente de Davi.

Maria é saudada pelo anjo: “alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo”(v.28). A expressão “alegra-te” é um apelo às alegrias messiânicas. Maria fica perturbada com s palavras do anjo. É que naquele tempo pegava mal um “homem” saudar uma mulher...

Maria é convidada a não ter medo à semelhança das grandes personagens da história do povo de Deus(Abraão. Moisés, jeremias e outros), pois encontrou graça diante de Deus.

O anjo explica a Maria como vai ser mãe sem ter relação com José: “O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra...”(v.35ª). A sombra provavelmente recorda a nuvem que acompanhava o povo na caminhada para a terra da  promessa. A nuvem nos diz que Deus é, ao mesmo tempo, presença e mistério: presença que torna conhecido  e mistério que impede que ele seja manipulado.

 

Para Lucas, Maria é o tipo de discípulo que Deus procura para construir sociedade e história novas. Ela se põe à disposição do projeto de Deus: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Nela encontramos as duas atitudes fundamentais de quem está disposto a se comprometer com a nova história trazida  por Jesus:  e serviço. É por isso que, mais adiante, quando se põe a serviço de Isabel, recebe desta o título de “Bem-aventurada” por ter acreditado nas palavras do Senhor. Deus intervém em nossa caminhada para construir  um mundo novo. Mas  pressupõe fé e serviço de quantos esperam a chegada e a manifestação do Messias em nossa história.

 



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