VIGIAR É PRATICAR A JUSTIÇA
Primeira
leitura (Sb 6,12-16).
O livro da Sabedoria é o último livro escrito no
Antigo Testamento (+ ou – 50 a.C.). Fala da busca de um sentido para a vida.
Quando a Bíblia nos fala da “sabedoria” quer indicar sobretudo a arte
de viver bem .No tempo em que ainda não existia a ciência e o método
científico da investigação da natureza, sábio era o homem que, que sabia
controlar os próprios instintos, que agia com ponderação, que tinha lealdade no
falar e no agir que era humilde e modesto.
Este conceito aparece em diversos livros da bíblia:
Salmos, Provérbios, Sabedoria, Eclesiastes, Eclesiástico e Cântico dos
Cânticos.
Na leitura de hoje o autor fala da sabedoria
comparando-a a uma jovem muito bonita a ser conquistada e amada.
O autor não define a sabedoria, deixando que os leitores tirem as suas conclusões. Alguns acham que ela é o próprio sentido da vida que resulta de experiências vitais amadurecidas com o tempo; outros poderão deduzir que é o próprio Deus ou o seu projeto. No livro dos Provérbios lemos que o “início da sabedoria é o temor do Senhor”.
Segunda leitura (1Ts 4,13-18)
As primeiras comunidades cristãs viviam da
expectativa de que o mundo iria acabar e que Jesus voltaria logo para
estabelecer o seu Reino. Esta expectativa fora criada sobretudo pelos rabinos
do tempo de Jesus, impressionados com as inúmeras desventuras que se tinham
abatido sobre o seu povo, diante de tantos sofrimentos, humilhações e violências
de todos os dias. O próprio Jesus contribuíra pala alimentar essa expectativa
(cf. Mt 24).
Em Tessalônica alguns já nem queriam mais
trabalhar, achando que as reservas que tinham eram suficientes. Na segunda
carta aos tessalonicenses Paulo dirá que “quem não quiser trabalhar que não
coma”...
Alguns membros da comunidade estavam preocupados
com o destino dos seus parentes falecidos. O que será deles quando Jesus
voltar? Paulo responde (vv.15-17) que não haverá alguma diferença entre os que
já tenham morrido e os que estiverem ainda vivos na hora da vinda do Senhor:
todos serão recolhidos e estarão para sempre com ele, isso porque Jesus venceu
a morte, entrou na vida de Deus, e conduzirá com ele todos aqueles que, pelo
Batismo, estiveram unidos a ele.
Paulo recorda ainda que diante da morte, os pagãos
e os cristãos se encontram em posições completamente diferentes. Os primeiros
são os que não tem esperança, portanto se desesperam porque para eles tudo
acaba com a morte.
Os cristãos, ao contrário, acreditam na vida eterna, sabem que a vida de Deus, recebida no batismo, não pode ser interrompida pela morte do corpo, por isso eles conservam a serenidade, choram a perda de um amigo, mas não se desesperam como os pagãos.
Evangelho (Mt 25,1-13).
Na parábola de hoje há muitos pormenores
extravagantes que nada tem a ver com a mensagem principal. É melhor deixá-los
de lado e fixar-nos na mensagem central. Além disso Mateus adaptou a parábola
às necessidades catequéticas das suas comunidades. Comecemos pelo sentido provável
que a parábola teve quando Jesus a pronunciou.
A festa de casamento em Israel era muito solene e
tinha a duração de mais ou menos uma semana. No primeiro dia o marido se
dirigia até a casa dos sogros para buscar a mulher e levá-la à própria casa. Para
recebê-lo estava presente a esposa acompanhada de suas amigas (as moças
“casadouras” do povoado) que, entre danças e cantos, eram encarregadas de
acompanhá-la até a sua nova casa, onde era organizada a festa de casamento.
Jesus se serve deste acontecimento muito comum para
comunicar um ensinamento seu. Qual?
Tanto o número cinco como a “virgem” são
símbolos do povo de Deus. As dez virgens representam o povo de
Israel que espera o Messias (o esposo): uma parte deste povo (as
cinco virgens prudentes) está preparada para acolhê-lo e entra na comunidade
cristã, uma outra parte, ao contrário (as cinco virgens
descabeçadas), não presta atenção nos projetos de Deus, é infiel e permanece
fora da sala do banquete.
Depois de cinquenta anos, Mateus retoma esta
parábola e a adapta aos problemas das suas comunidades.
Dissemos ao comentar a segunda leitura que os
primeiros cristãos esperavam com ansiedade a volta do Senhor. Aos poucos,
porém, começam a perceber que o Esposo vai demorar. Surgem as primeiras
dúvidas, começa o desânimo e muitos até abandonam a comunidade.
Na nova versão, as dez virgens já
não simbolizam Israel, mas a Igreja, que espera a volta do seu Senhor, do seu
Esposo. Observe-se que na parábola não aparece a esposa, porque
ela é a comunidade cristã, representada pelas dez virgens.
Algumas, estão de prontidão, prestam
atenção às coisas essenciais; outras, ao contrário, não tem juízo, pensam em
tudo menos naquilo que de fato importa: preocupam-se com o vestido, com as joias,
com os perfumes, com o penteado e, por fim, esqueceram-se da coisa mais
importante: do azeite.
Acontece também em nossos dias: na nossa comunidade
cristã há pessoas que perdem o rumo por coisas banais (dinheiro, as festas, os
prazeres...) e não se dão conta de estarem perdendo um tempo valioso, não se
lembram dos valores autênticos pelos quais vale a pena comprometer-se. Esquecem
que o matrimonio é um sacramento e preocupam-se com a festa: os vestidos, as
fotografias, a comida etc.. Talvez pensem que no fim da vida poderão consertar
tudo. Mas é bom lembrar que uma vida estragada ou mal usada, não se reconstrói
no último minuto. Naquela hora ninguém nos poderá emprestar uma parte de sua
vida (é este o sentido do azeite que é negado pelas virgens prudentes).
Cada momento é precioso e deve ser usado para o
único objetivo que no final dá valor à vida: a compaixão ou as obras de
misericórdia (cf. Mt 25,31-46, favor não reparar nas imagens
dramáticas usadas por Mateus para sacudir e impressionar... é o método dele...)
O último versículo (v.13) resume a mensagem que
Mateus quer que os cristãos das suas comunidades assimilem. Pede-lhes vigilância. O
Esposo não virá somente uma vez no fim do mundo ou no fim de nossa vida. Ele
está sempre presente e quer ser acolhido.
Ele vem ao nosso encontro no grito do pobre, no
desespero do marginalizado, no pranto do doente. Naquele que anuncia a paz,
naquele que clama por justiça, por amor, por respeito, por igualdade, está
presente o Esposo que vem para nos interpelar. Por isso é importante não
cochilar e atender ao seu apelo.
Bravo padre José!!
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