QUEM É JESUS?
Primeira leitura (Is 22,19-23)
Acontece às vezes (no Brasil “de vez em sempre”)
que quem exerce o poder político, ao invés de preocupar-se com os problemas do
povo, pensa em seus próprios interesses, favorece parentes e amigos e emprega o
dinheiro público para se enriquecer.
No tempo do rei Ezequias (sec.VIII a.C.) havia, no
reino de Judá, um primeiro ministro chamado Sebna: um oportunista corrupto, que
com o dinheiro do povo, começa a construir para si um monumento de mármore para
perpetuar sua memória. O profeta Isaías ficou furioso e decretou, em nome de
Javé, que Sebna fosse destituído do cargo. Note-se a força de Isaías. De fato,
os profetas eram ao mesmo tempo místicos e políticos.
Para substituí-lo, o rei escolheu Eliakim que
recebeu as chaves do seu palácio, isto é, recebeu plenos
poderes para administrar os bens do soberano. O evangelho nos dirá que
Jesus entregou a Pedro as chaves do Reino dos Céus, isto é, lhe conferiu
plenos poderes.
“Eliakim será como um pai para os habitantes de
Jerusalém e para todo o povo de Judá”. Também isto nos prepara para entender em
que consiste o serviço da autoridade que Jesus conferiu a
Pedro.
Não se trata de um poder semelhante ao dos chefes
políticos, não é uma autorização para fazer e impor o que bem se entender, e
muito menos é um direito para receber honras e privilégios. Consiste, sim, em
ser um pai disposto a sacrificar-se pelos filhos.
Segunda leitura (Rm 11,33-36)
Paulo ficou profundamente decepcionado com a recusa
dos judeus, seus patrícios, de reconhecer em Jesus o Messias. Mas esta recusa
acabou tendo um resultado positivo: a entrada dos pagãos na Igreja. É que as
perseguições por parte dos judeus obrigaram os discípulos a abandonar
Jerusalém, a dispersar-se pelo mundo, a anunciar o Evangelho aos pagãos (At 11,19-21).
Diante desta “habilidade” de Deus em conduzir os
acontecimentos da história e em extrair o bem até do mal Paulo exclama: “Quão
grande é a sabedoria de Deus e como são imperscrutáveis os seus desígnios e
inacessíveis os seus caminhos!”(v.33).
De fato assim é: nós nos confrontamos todos os dias
com problemas e situações que não têm explicação humana: mortes de inocentes,
desastres, sofrimento dos justos, injustiças. Por trás estão as causas naturais
e a liberdade humana que Deus tem que respeitar para ser coerente com a sua
criação. Mas ao mesmo tempo ele é poderoso o suficiente para envolver tudo com
a sua providência que, na verdade, é objeto de fé e não de experiência.
Evangelho (Mt 16,13-20)
A pergunta de Jesus: “Quem dizem os homens que eu
sou?” teria hoje, como naquela época, respostas diferentes: Um mestre de moral,
um humanista, um revolucionário, um feminista, um reformador, um profeta...
Nós, como cristãos, responderíamos, sem dúvida, que ele é o “Filho de Deus
Encarnado”, o “Redentor” do mundo, o “Salvador” da humanidade, ou como
disse S. Pedro: o “Messias”. Mas é bom lembrar que professar que Jesus é o
Messias quer dizer estar convencido de que como ele não existiu e não existirá
mais ninguém.
As respostas acima fazem parte do que aprendemos no
catecismo. Mas expressam a nossa fé pessoal? “E vós, quem dizeis que eu sou?”
As palavras de Jesus pedem uma resposta pessoal e radical. Ou Jesus é para nós
um personagem a mais entre tantos outros da história, ou Ele é a pessoa
decisiva que nos traz a compreensão última da existência, a orientação decisiva
para a nossa vida e nos oferece a esperança definitiva?
A pergunta: “ E vós quem dizeis...” adquire então um
conteúdo novo. Não é mais apenas uma questão sobre Jesus, mas sobre nós mesmos.
Quem sou eu? Em quem eu creio? A partir de que oriento a minha vida? A que se
reduz a minha fé?
Todos temos que lembrar sempre que a fé não se
identifica com as fórmulas que pronunciamos. Para compreender melhor o alcance
“do que eu creio” é necessário verificar como vivo, a que aspiro, em que me
comprometo.
Mais. Durante os vinte séculos de cristianismo
Jesus foi revestido de roupagens diferentes conforme as épocas e o interesse
dos crentes, foi diminuído ou exaltado e, enfim, desfigurado. Mas o Jesus
original sempre desconcerta quem se aproxima dele com postura aberta e sincera.
Sempre é diferente do que esperávamos. Sempre abre novas brechas em nossa vida,
rompe nossos esquemas e nos atrai para uma vida nova. Quanto mais o conhecemos,
mais sabemos que ainda estamos começando a descobri-lo.
“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha
Igreja”. Não é fácil estabelecer o significado dessas palavras. A “rocha” não é
sem mais Pedro. Outros textos do Novo Testamento dizem que Jesus é a “pedra
angular” da Igreja (Ef 2,20; cf. Tb. 1Pd 2,4-6);
ou ainda: “Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já
foi posto: Jesus Cristo (1Cor 3,11).
Quando Jesus afirma: “sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja” Ele se refere à fé professada por Pedro.
“As portas do inferno” não deve ser
entendido em sentido material. Indica as forças do mal, o que é contrário à
vida e ao bem do homem. Nada poderá impedir a Igreja, que acredita firmemente
em Cristo, de realizar sua missão de salvação.
Pedro recebe também as chaves e o poder de
ligar e desligar. Antes de mais nada é preciso observar que o poder de
ligar e de desligar não é reservado a Pedro, é conferido, logo depois, a toda a
comunidade (Mt18,18; cf. Jo 20,23).
Estas imagens, usadas frequentemente pelos rabinos
do tempo de Jesus, indicam a autoridade de transmitir os ensinamentos do Mestre
e de decidir o que é conforme e o que é contrário ao evangelho.
Qual é o ministério específico de Pedro? É este o
ponto que divide as comunidades cristãs de todo o mundo. Essa divisão é
provocada certamente pelo pecado dos homens, não pela Palavra de Deus.
Na verdade, para reconstruir a unidade não podemos
pretender que sejam os outros que se devam converter a nós, nem os irmãos das
outras confissões exigir que nos convertamos a eles. Todos devemos
converter-nos: para Cristo e para a sua Palavra. Os irmãos protestantes e
anglicanos reconhecem agora que Jesus realmente conferiu a Pedro uma missão
particular a serviço dos irmãos. No Novo Testamento esse apóstolo aparece
sempre em primeiro lugar e é ele que deve confirmar a fé dos outros (Mt 10,2; Lc 22,32; Jo 21,15-17).
Isso indica que a Igreja tem, no bispo de Roma, o encarregado de manter a
unidade da fé em Cristo, professada por Pedro.
Também nós, católicos, devemos converter-nos.
Devemos abandonar tudo o que não é evangélico no nosso modo de entender a
ministério do Papa e a autoridade da Igreja. Devemos adequar-nos, sobretudo, ao
que Jesus repetiu tantas vezes e tão claramente: “o primeiro entre vós seja
como o menor e quem governa seja como aquele que serve” (Lc 22,25)
Provavelmente a melhor definição do ministério do
Papa continua sendo a de um famoso bispo da Igreja dos primeiros séculos,
Irineu de Lion, que chamava o bispo de Roma “aquele que preside à caridade”.
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