VIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A


                    A EXCLUSÃO NÃO VEM DE DEUS, POIS ELE É O DEUS DE TODOS


 Primeira leitura (Is 56,1-7)

O povo judeu era um povo xenófobo. Segundo o Dt 7, 2-5 os estrangeiros eram excluídos da liturgia do templo por medo da idolatria.

Em 598 a.C. aconteceu o exílio da Babilônia, por obra de Nabucodonosor II, que levou a liderança judaica para o exílio. Obrigados a conviver com outra cultura durante 50 anos, os judeus tiveram que corrigir muitos preconceitos. Perceberam por exemplo que os pagãos não eram tão maus assim e frequentemente até davam provas de uma vida moral muito elevada.  Foi uma “lavagem cerebral”: a convivência com os pagãos abriu a mente e o coração para o universalismo.

Este fato lembra a declaração da ONU de 1948 de que todos os homens são iguais independente de religião, raça, cor da pele, sexo etc.  E o texto de Isaías da leitura de hoje diz que na casa de Deus ninguém mais se sentirá estranho. O templo será um lugar de oração para todos os povos. 

 

Segunda leitura (Rm 11,13-15,29-32)

Paulo está triste e abatido porque seus irmãos não aceitaram a Jesus. Lucas conta que Paulo, ao se dirigir a uma sinagoga começava por anunciar o evangelho. Diante da recusa dos judeus ele se dirigia aos pagãos.

No texto de hoje Paulo constata que a rejeição por parte dos judeus teve um efeito positivo: permitiu a entrada dos pagãos na comunidade cristã. Na verdade, este movimento salvou a Igreja. Sem Paulo o projeto de Jesus talvez nem tivesse vingado. Outra, se os judeus tivessem aderido a Cristo, a Igreja teria ficado com uma mentalidade mesquinha e fechada como a dos judeus, mais antiquada do que é hoje. Mais uma vez: há males que vem para o bem.

A esperança de Paulo, porém, é de que um dia os judeus se tornarão discípulos de Cristo.  Infelizmente este dia ainda não aconteceu. Mas em todo caso já aconteceu uma maior aproximação entre a Igreja e os judeus.

 

Evangelho (Mt 15,21-28)

Corria no tempo de Jesus a história de um fazendeiro de uma grande propriedade onde tinha de tudo: cana-de-açúcar, bananas, trigo, amendoim e outros produtos mais. Confiou a propriedade a alguns agricultores e foi viajar. Ao voltar, que decepção! A fazenda estava coberta de mato e tinha inclusive cobras e lagartos. Ficou irritado e com vontade de pôr fogo em tudo.

Enquanto assim pensava avistou no meio do mato um abacaxi maduro, enorme, lindo. Ao prová-lo mudou de ideia: não iria queimar a fazenda. Da mesma forma, concluíam os rabinos, por amor a Israel Deus salvará o mundo.

Assim pensavam os judeus no tempo de Jesus. Tinham a certeza de serem as únicas pessoas puras, santas, imaculadas. Os pagãos eram como “cães” que não conheciam a lei de Deus. Somente Israel era a alegria do Senhor.

No início da Igreja apresentava-se aos apóstolos o sério problema: admitir ou não os estrangeiros na comunidade. Jesus havia restringido sua pregação aos judeus. Estranho: ele não viera para trazer a salvação a todos os povos?  Mas era preciso decidir onde e com quem começar? E começou com Israel, o povo eleito. Mesmo assim Jesus elogiou diversas vezes a fé de pagãos.

Certo dia se apresenta a Jesus uma mulher estrangeira (pagã), cananeia, que padecia de um fluxo de sangue.  Os cananeus eram um perigo para Israel porque aliciavam as pessoas para o culto a Baal. Como Jesus reagirá diante da mulher pagã?

De início a reação de Jesus foi dura: não se digna sequer olhá-la e dirigir-lhe a palavra. Em seguida diz “Eu fui enviado às velhas perdidas de Israel”. Por fim, quando a mulher se prostra aos seus pés, pronuncia uma frase até ofensiva: “Não se deve tomar o pão dos filhos e jogá-lo aos cães”. Certamente, senhor, retruca a mulher, mas os cachorrinhos comem ao menos as migalhas que caem da mesa de seus donos...  Parece que Jesus despreza profundamente e rejeita os estrangeiros. Mas a verdade não é assim, porque Jesus diz: “em verdade grande é tua fé”. Para nenhum israelita ele dirigiu um elogio tão bonito.

Agora tudo fica claro: o que aconteceu antes: a provocação, o desprezo pelos pagãos, o aceno à inferioridade deles, não foi senão um hábil jogo de cena. Jesus queria conduzir os seus discípulos a uma mudança radical quanto ao relacionamento com os estrangeiros. Por isso conduziu o diálogo de tal forma que expôs ao ridículo a mentalidade separatista, muito arraigada no povo e estimulada pelos guias espirituais.

E hoje, desapareceu toda forma de discriminação nas nossas comunidades? São reconhecidos os nossos direitos e recebem a mesma acolhida as pessoas inteligentes e as mais simples, os que estudaram e os que não têm instrução, os bons e os que, talvez, tenham temperamento mais problemático? Não há mesmo nenhuma classe de pessoas que seja considerada impura, inimiga, estrangeira?

 

Comentários

  1. Excelente perguntas que fecham com chave de ouro a leitura conjunta dos textos! Parabéns padre José!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário