A EXCLUSÃO NÃO VEM DE DEUS, POIS ELE É O DEUS DE TODOS
Primeira leitura (Is 56,1-7)
O povo judeu era um povo xenófobo. Segundo o Dt 7, 2-5
os estrangeiros eram excluídos da liturgia do templo por medo da idolatria.
Em 598 a.C. aconteceu o exílio da Babilônia, por obra de Nabucodonosor
II, que levou a liderança judaica para o exílio. Obrigados a conviver com
outra cultura durante 50 anos, os judeus tiveram que corrigir muitos
preconceitos. Perceberam por exemplo que os pagãos não eram tão maus assim e
frequentemente até davam provas de uma vida moral muito elevada. Foi uma
“lavagem cerebral”: a convivência com os pagãos abriu a mente e o coração
para o universalismo.
Este fato lembra a declaração da ONU de 1948 de que todos os homens são
iguais independente de religião, raça, cor da pele, sexo etc. E o
texto de Isaías da leitura de hoje diz que na casa de Deus ninguém mais
se sentirá estranho. O templo será um lugar de oração para
todos os povos.
Segunda leitura (Rm 11,13-15,29-32)
Paulo está triste e abatido porque seus irmãos não aceitaram a Jesus. Lucas conta que Paulo, ao se dirigir a uma sinagoga começava por anunciar o evangelho. Diante da recusa dos judeus ele se dirigia aos pagãos.
No texto de hoje Paulo constata que a rejeição por parte dos judeus teve
um efeito positivo: permitiu a entrada dos pagãos na comunidade cristã. Na
verdade, este movimento salvou a Igreja. Sem Paulo o projeto de Jesus talvez
nem tivesse vingado. Outra, se os judeus tivessem aderido a Cristo, a Igreja
teria ficado com uma mentalidade mesquinha e fechada como a dos judeus, mais
antiquada do que é hoje. Mais uma vez: há males que vem para o bem.
A esperança de Paulo, porém, é de que um dia os judeus se tornarão
discípulos de Cristo. Infelizmente este dia ainda não aconteceu. Mas em
todo caso já aconteceu uma maior aproximação entre a Igreja e os judeus.
Evangelho (Mt 15,21-28)
Corria no tempo de Jesus a história de um fazendeiro de uma grande propriedade onde tinha de tudo: cana-de-açúcar, bananas, trigo, amendoim e outros produtos mais. Confiou a propriedade a alguns agricultores e foi viajar. Ao voltar, que decepção! A fazenda estava coberta de mato e tinha inclusive cobras e lagartos. Ficou irritado e com vontade de pôr fogo em tudo.
Enquanto assim pensava avistou no meio do mato um abacaxi maduro,
enorme, lindo. Ao prová-lo mudou de ideia: não iria queimar a fazenda. Da mesma
forma, concluíam os rabinos, por amor a Israel Deus salvará o mundo.
Assim pensavam os judeus no tempo de Jesus. Tinham a certeza de serem as
únicas pessoas puras, santas, imaculadas. Os pagãos eram como “cães” que não
conheciam a lei de Deus. Somente Israel era a alegria do Senhor.
No início da Igreja apresentava-se aos apóstolos o sério problema:
admitir ou não os estrangeiros na comunidade. Jesus havia restringido sua
pregação aos judeus. Estranho: ele não viera para trazer a salvação a todos os
povos? Mas era preciso decidir onde e com quem começar? E começou com
Israel, o povo eleito. Mesmo assim Jesus elogiou diversas vezes a fé de pagãos.
Certo dia se apresenta a Jesus uma mulher estrangeira (pagã), cananeia,
que padecia de um fluxo de sangue. Os cananeus eram um perigo para Israel
porque aliciavam as pessoas para o culto a Baal. Como Jesus reagirá diante da
mulher pagã?
De início a reação de Jesus foi dura: não se digna sequer
olhá-la e dirigir-lhe a palavra. Em seguida diz “Eu fui enviado às
velhas perdidas de Israel”. Por fim, quando a mulher se prostra aos seus pés,
pronuncia uma frase até ofensiva: “Não se deve tomar o pão dos filhos e jogá-lo
aos cães”. Certamente, senhor, retruca a mulher, mas os cachorrinhos comem ao
menos as migalhas que caem da mesa de seus donos... Parece que Jesus
despreza profundamente e rejeita os estrangeiros. Mas a verdade não é assim,
porque Jesus diz: “em verdade grande é tua fé”. Para nenhum israelita ele
dirigiu um elogio tão bonito.
Agora tudo fica claro: o que aconteceu antes: a provocação, o
desprezo pelos pagãos, o aceno à inferioridade deles, não foi senão um hábil
jogo de cena. Jesus queria conduzir os seus discípulos a uma mudança radical
quanto ao relacionamento com os estrangeiros. Por isso conduziu o diálogo de
tal forma que expôs ao ridículo a mentalidade separatista, muito arraigada no
povo e estimulada pelos guias espirituais.
E hoje, desapareceu toda forma de
discriminação nas nossas comunidades? São reconhecidos os nossos direitos e
recebem a mesma acolhida as pessoas inteligentes e as mais simples, os que
estudaram e os que não têm instrução, os bons e os que, talvez, tenham
temperamento mais problemático? Não há mesmo nenhuma classe de pessoas que
seja considerada impura, inimiga, estrangeira?
Excelente perguntas que fecham com chave de ouro a leitura conjunta dos textos! Parabéns padre José!!
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