MISSÃO DO POVO DE DEUS
Primeira Leitura (Ex. 19,2-6ª).
Três meses após ter saído do Egito, o
povo hebreu acampou aos pés do monte Sinai. A saída fora um sucesso que Moisés
interpretou como obra de Deus, que passou a ser considerado um Deus libertador.
No monte Sinai Moisés faz uma experiência religiosa muito forte descrita como
uma Aliança (contrato)entre Deus e o povo hebreu: Deus promete
proteger o povo e este deverá, em contra-partida, observar os dez mandamentos.
É claro que Deus não falou, pois é um ser espiritual que não tem laringe. É o
autor que pôs na boca de Deus as palavras dos versículos 4-6: “...vós sereis o
povo que eu protegerei em qualquer situação, sereis para mim um reino de
sacerdotes e uma nação santa”.
Israel será um povo “santo”, isto
é, diferente dos pagãos, por sua vida religiosa e moral. Seria
também um povo de sacerdotes, porque cada membro teria
dedicado a sua vida ao serviço do Senhor.
Também o Novo Povo de Deus que começou
com o chamado e o envio dos doze apóstolos (cf. evangelho)
será um reino de sacerdotes e uma nação santa.
Segunda Leitura (Rm. 5,6-11)
Diante da experiência do pecado que os
cristãos faziam mesmo depois do batismo, surgia a pergunta: será que a
justificação aconteceu mesmo ou o Senhor nos abandonou, de modo que a nossa
esperança de salvação não possui fundamento sólido?
Paulo responde: a nossa
esperança não sofrerá desilusão porque não está fundada nas nossas
obras, nas nossas capacidades, mas no amor indefectível de Deus (v.6). Quando
começa uma obra de salvação, Deus a leva até o fim, mesmo que o homem se
obstine no pecado, Deus não se dará por vencido. Isto porque o amor de Deus não
é fraco e volúvel como o dos homens. O amor de Deus é incondicional (Isaías),
vai até ao extremo.
Nós homens conhecemos uma única justiça: recompensar
quem pratica o bem e castigar quem pratica o mal. Deus, ao contrário, é
“santo”, é completamente diferente de nós. O julgamento de Deus é salvação.
Evangelho (Mt. 9,36-10,8)
O evangelho deste dia frequentemente é
aplicado aos padres e freiras, como se eles fossem os “chamados” pelos quais é
preciso rezar “para o Senhor da messe”.
Não. Os doze apóstolos não
representam os padres e as freiras, mas todo o povo de Deus. Os
Doze eram simplesmente os primeiros membros do novo povo de Deus. A cada
seguidor de Cristo foi confiada uma tarefa no campo que é o mundo. Seja qual
for a situação em que se encontram (casados ou solteiros, intelectuais ou
agricultores...) e a capacidade de cada um, todos são responsáveis pela
evangelização.
Entende-se então o motivo pelo qual
Jesus recomenda a oração. Não se trata de informar a Deus (ele
sabe melhor do que nós o que é preciso) e muito menos de convencê-lo. A
finalidade da oração não é mudar a Deus, mas mudar a nós. Não é Deus que tem
que entrar na nossa, mas somos nós que devemos entrar na dele. Muitas pessoas
se queixam de que suas orações não são atendidas. Não são atendidas porque
rezam mal, pedem coisas banais que elas mesmas podem e devem providenciar. Deus
não é uma poderosa babá à qual se pede intervir para fazer os caprichos das
crianças. O que se deve pedir, isso sim, é luz, discernimento, força
(fortaleza) para fazer o que devemos fazer para que a evangelização aconteça de
fato. Mas, acima de tudo é preciso pedir fé, esperança, e a caridade para amar
como Deus ama e não segundo as nossas emoções.
Jesus sente compaixão do povo porque os
líderes políticos não se preocupam com ele (o povo). Eram como os nossos
deputados, senadores, juízes, desembargadores, promotores da justiça que se
preocupam preferencialmente com os próprios interesses e com a própria
carreira. Ganham rios de dinheiro, sem falar das propinas e da corrupção. Mas a
eles não interessa que o povo sinta fome, esteja doente e seja vítima de toda
espécie de abusos. Embora eleitos pelo povo não o representam.
Então Jesus chama Os Doze como
representantes das doze tribos do povo de Israel, os encarrega de continuar a
sua obra e lhes confere a autoridade de expulsar os demônios e curar
qualquer espécie de doenças. Não é um poder misterioso, especial,
milagroso, mas um símbolo a indicar a luta contra tudo aquilo que destrói a
vida quer física, quer espiritual. Os cristãos, portanto, são chamados a
“reproduzir” a vida do seu Mestre e empregar todas as suas energias na solução
dos problemas que mais angustiam os homens.
E, no final, um lembrete muito
importante: “Recebestes de graça, dai de graça”. Não trabalhar para auferir
alguma vantagem pessoal: para se tornar conhecido, estimado, reverenciado, ou
para enriquecer-se com os serviços religiosos. Sua única recompensa será a
alegria de ter servido e amado as pessoas com a mesma generosidade que eles
aprenderam do Mestre.
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