JESUS E A CEGUEIRA DA
HUMANIDADE
Primeira leitura ( 1Sm 16,1b.6-7.10-13ª)
Por volta do ano 1.000 a.C. o
povo de Israel estava sendo pressionado pelos vizinhos Filisteus. Era preciso
escolher um chefe valoroso, hábil, capaz de enfrentar o inimigo.
Um dia, Samuel, o último dos Juízes,
foi escolhido pelo Senhor para escolher um rei que levasse o povo à vitória.
Samuel foi a Belém, na casa de Jessé que tinha um bando de filhos, um mais
sacudido que o outro. Um a um apresentou a Samuel, sete dos oito filhos. Mas
nenhum foi escolhido. Falta um, disse Jessé, o mais novo, Davi, quase uma
criança, que está apascentando o rebanho. Samuel disse: é justamente ele, o
escolhido.
É surpreendente como Deus age,
escolhendo os pequenos, os fracos. Não escolhe os egípcios, construtores de
pirâmides, nem os babilônios, povo rico, poderoso, desenvolvido, para seu povo.
Prefere Israel, porque...é o menor (Dt
7,7-8).
Jesus terá o mesmo comportamento.
Escolherá os pequenos, os pecadores, os pobres, os pastores, as pessoas desprezadas,
que serão os primeiros convidados ao banquete do Reino. A razão está no v.7:
Deus não vê as coisas e as pessoas com
olhos humanos; o homem olha as
aparências, o Senhor olha o coração.
Segunda leitura (Ef 5,8-14)
Paulo escreve para os primeiros
cristãos que com o batismo eles passaram do mundo das trevas para o reino da
luz. Urge, pois, praticar as obras da luz: toda espécie de bondade, de justiça
e verdade.
Paulo sugere também um método muito
útil para eliminar as obras do mal: a
denúncia aberta e decidida (v. 13)
As ações vergonhosas devem ser condenadas com clareza, não se deve tentar justificá-las,
desculpá-las, ou torná-las de alguma forma aceitáveis.
Evangelho (Jo 9,1-41)
O relato é inesquecível. Chama-se
tradicionalmente a “cura do cego de
nascença”. Não conhecemos o nome desse homem. Só sabemos que é um
mendigo, cego de nascença, que pede esmolas nos arredores do templo.
Um dia Jesus passa por sua vida.
O cego está tão necessitado que o deixa untar seus olhos com lama. Não sabe
quem é, mas confia em sua força curadora. Seguindo as orientações de Jesus,
limpa seus olhos na piscina de Siloé e, pela primeira vez, começa a ver. O
encontro com Jesus começa a mudar sua vida.
Os vizinhos o veem transformado.
Parece-lhes outra pessoa. O homem lhes explica sua experiência: “um homem que
se chama Jesus” o curou. Não sabe mais
nada dele. Ignora quem é e onde mora. Mas Ele lhe abriu os olhos. Jesus
faz bem inclusive aos que só o reconhecem como homem.
Os fariseus, entendidos em
religião, pedem-lhe todo tipo de explicações sobre Jesus. Ele lhes fala de sua
experiência: “Só sei uma coisa: que eu era cego e agora vejo”. Perguntam-lhe o
que pensa de Jesus e ele lhes diz o que sente. “Sei que ele é um profeta”. O
que recebeu dele é tão bom que esse homem só pode vir de Deus. Assim vive muita
gente simples sua fé em Jesus. Não conhecem teologia, mas sentem que esse homem
vem de Deus.
Aos poucos o mendigo vai ficando
só. Seus pais tiram o corpo fora. Os dirigentes religiosos o expulsam da
sinagoga. “Quando Jesus ouviu dizer que o haviam expulso da sinagoga, foi encontrá-lo.”
Assim é Jesus. Não devemos esquecer jamais que é Ele que vem ao encontro dos
homens e mulheres que não são acolhidos pela religião. Jesus não abandona quem
o busca e o ama, mesmo que tenha sido
excluído de sua comunidade religiosa. Jesus tem seus caminhos para encontrar-se
com os que o buscam. Encontrando o mendigo, lhe
faz uma pergunta: “Crês no Filho do homem?”. O mendigo está disposto a
crer, mas encontra-se mais cego do que nunca: “E quem é, Senhor, para que eu
creia nele”?
Jesus lhe diz: “ É aquele que
estás vendo: o que está falando contigo, é esse”. Nesse momento se abrem ao cego os olhos da
alma. Ele se prostra diante de Jesus e lhe diz: “Creio, Senhor”. Só ouvindo
Jesus e deixando-nos conduzir interiormente por ele vamos caminhando para uma
fé mais plena e também mais humilde.
Será que teólogos, pregadores,
catequistas e educadores que pretendem evangelizar sem terem feito uma
experiência de Deus, um encontro com Jesus, merecem crédito? Continuam repetindo
incansavelmente velhas doutrinas sem viver uma experiência pessoal de encontro
com Jesus que abra os olhos e o coração.
Nossa Igreja não precisa hoje de
pregadores que encham as igrejas de palavras, mas de testemunhas que
transmitam, ainda que seja de maneira simples, sua pequena experiência do
evangelho. Não precisa de fanáticos que defendem “verdades” de maneira
autoritária e com linguagem vazia, tecida de tópicos e frases feitas.
Precisamos de crentes de verdade, atentos à vida e sensíveis aos problemas das
pessoas, buscadores de Deus, capazes de escutar e acompanhar com respeito
tantos homens e mulheres que sofrem, buscam e não acertam viver de maneira mais
humana nem mais crente.
Não fomos feitos para viver na
escuridão. Temos medo de caminhar no meio das trevas. E, no entanto, a vida
muitas vezes se apresenta a nós como um caminho que devemos percorrer “às
apalpadelas”.
Os cientistas tem elaborado
conhecimentos e técnicas sempre mais poderosas para dominar o mundo e a vida.
E, no entanto, a razão é uma luz
que nos deixa ainda nas trevas. A razão pode explicar tudo menos a si mesma.
Diríamos que o ser humano pode conhecer e dominar tudo, mas não pode conhecer e
dominar sua origem nem seu destino. É um cego em busca de luz e que precisa se
deixar iluminar por Jesus que é a luz do mundo.
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