SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A




QUEM É JESUS?


Primeira leitura(Is 49,3-5)

O povo de Israel está no exílio da Babilônia e vive sonhando com as maravilhas do Êxodo. Pois bem! Nesta situação lamentável Israel é escolhido para levar a luz e a salvação a todos os povos, através do Servo fiel do Senhor que a comunidade primitiva identificou com Jesus de Nazaré. Ele cumpriu a sua missão, com o dom de si mesmo; sempre se colocou,  por princípio, ao lado do derrotado, do marginalizado, do oprimido. Sua intenção era melhorar a qualidade da vida humana, instalando uma sociedade igualitária chamada de “Reino de Deus”. Esta era a intenção de Jesus. Seu sangue foi vertido não para compensar a honra do Pai ofendido pelos pecados dos homens. Deus Pai não é um ser melindroso e suscetível que exigia o sangue de uma vítima inocente para ter a honra “reparada”. Como afirmava Sto. Tomás de Aquino; dizer que o pecado ofende a Deus é admitir que o homem tem poder sobre Deus. Isto seria uma blasfêmia. Não é verdade que com a morte de Jesus, Deus Pai ficou mais feliz....
Como já disse em outras oportunidades: nós fomos salvos não pelo sofrimento, mas pela obediência de Jesus. Quem ganhou com a morte de Jesus não foi Deus Pai mas nós, que estávamos no Verbo de Deus que se solidarizou conosco. Unidos a ele somos novas criaturas.
As nossas comunidades cristãs são convocadas a tornar presente o Servo que traz luz e salvação aos povos. Cumprem a sua missão não quando se associam aos poderosos  mas quando se colocam ao lado dos pobres.
A Leitura sublinha dois elementos na vocação do Servo: ele recebeu uma vocação pessoal por parte de Deus e, em segundo lugar, foi predestinado para uma missão. A “vocação! Não se refere apenas aos padres e freiras.  Segundo o Vat.II, todos os membros da comunidade cristã são chamados como o Servo: devem ser luz e portadores da salvação.

Segunda Leitura(1Cor1,10-13.17)

Em primeiro lugar, Paulo se apresenta como “apóstolo por vocação”. Para justificar a sua própria autoridade, ele não  apela aos estudos que fez, nem à sabedoria que acumulou ao longo dos anos. Ele se refere à sua vocação, ao seu chamamento pessoal que recebeu de Deus. Paulo foi escolhido para uma missão, foi chamado a ser “apóstolo”. Ao evocar esta vocação, Paulo pretende  induzir os cristãos de Corinto a entenderem que aquilo que ele está para dizer provém diretamente de Deus.
Segundo o estilo das cartas do tempo, depois dos remetentes são citados os destinatários. A carta de Paulo se destina para a “igreja de Deus que está em Corinto”(v.2). Com esta  palavra “igreja” se entende “comunidade”, o “grupo de cristãos” de Corinto.
Os cristãos de Corinto são “santos convocados”(v.21). O sentido da palavra “santo”  não é o mesmo que nós entendemos hoje em dia. “Santo”, aqui, quer dizer separado, colocado de lado, reservado para Deus. Os coríntios são santos porque separados dos pagãos. São separados porque conduzem uma vida completamente diferente.
O último  ponto importante destes três primeiros versículos é a insistência de Paulo quanto à unidade que deve reinar entre os que acreditam em Cristo. Os coríntios devem se lembrar que a comunidade deles faz parte da Igreja universal.
A definição que o Apóstolo dá dessa Igreja é muito bonita. Ela é constituída por “todos aqueles que, em qualquer lugar, invocam o nome do Senhor Jesus Cristo”(v.22).

Evangelho (Jo 1,29-34)

Era de se esperar que João falasse da vocação de Jesus, assim como na primeira e  a segunda leitura se falou da vocação do Servo e de Paulo. Em vez disso João fala de Jesus como o  “Cordeiro de Deus”. Expressão incompreensível para nós hoje. Melhor seria substituí-la por outra: salvador, mártir, mestre...etc.   Mas a expressão faz parte do vocabulário bíblico. Refere-se à lenda do êxodo em que os israelitas foram convidados a ungir os umbrais das portas com o sangue de cordeiros para que o anjo exterminador (Javé) não matasse os primogênitos dos israelitas e sim os primogênitos  (inocentes!...) dos egípcios... não fosse uma lenda deveríamos admitir que Deus é um assassino...  Por causa do sangue dos cordeiros, os primogênitos dos israelitas foram poupados. Por isso se diz que por causa do sangue de Jesus os pecadores foram poupados...( “sangue” aqui está no lugar de morte...)
Foram poupados e são poupados também hoje na medida em que cultivam uma relação pessoal com Jesus. Ele é o Verbo de Deus no qual todos os homens estão presentes. Mas não basta conhecer a doutrina, é preciso uma adesão pessoal a Jesus. Como diz S. Paulo: em Jesus já morremos e ressuscitamos. O seu martírio, a sua entrega vale para nós porque ele é o Verbo que engloba todos os homens e porque ele se solidarizou com todos. Assim sendo, a nossa salvação acontece na medida em que nos solidarizamos com ele e sua obra. Não bastam os ritos e os sacramentos se não tiverem impacto em nossa vida interior.
João levou um certo tempo para conhecer a verdadeira identidade de Jesus. No começo ele  não conhecia Jesus(vv.31.33).  Em seguida pensa que é um homem excepcional. Por fim descobre que em Jesus atua o Espírito de Deus e que, portanto, ele é o “Cordeiro de Deus”. O último passo do caminho espiritual do Batista é o de reconhecer  em Jesus o Filho de Deus (v.34)
Esse também é o percurso dos candidatos ao batismo: começam reconhecendo em Jesus   um homem muito sábio e inteligente ,depois um profeta e, enfim, o Servo fiel, possuído pelo Espírito de Deus.
Acreditar que ele é o Cordeiro de Deus implica mudanças radicais na  nossa vida pessoal e também das nossas comunidades. Quais são as iniciativas  nas quais transparece com clareza que nós cristãos continuamos a missão iniciada pelo Cordeiro de Deus?
Quem são as pessoas que esperam uma ajuda, uma luz, uma esperança?




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