EM JESUS A SALVAÇÃO É
OFERECIDA A TODOS
Primeira litura (Is 60,1-16)
É um texto difícil, de pouco
interesse para nós do século XXI, situação, aliás muito comum na liturgia. O Texto
se refere à situação desoladora de Jerusalém pós-exílio .Por causa do amor fiel
que Javé tem para com Jerusalém a cidade será transformada em ponto de
convergência da caminhada das nações. O ânimo do profeta convida a cidade a levantar-se de sua prostração e
resplandecer. A presença de Javé na cidade põe em movimento todas as nações,
que começam a peregrinação para a cidade-luz. Tudo isso porque Javé se levanta sobre a cidade. manifestando aí a
sua glória. Nesta procissão está a resposta de Javé: ele dá a Jerusalém, filhos e filhas, que vêm a
ele carregados ao colo pelas nações. A cidade-esposa, tornou-se mãe, cujos
filhos são reconhecidos entre todos os povos. Na caravana há também camelos e
dromedários, carregados de riquezas de todas
as nações do Oriente: Ouro, incenso. Todos se dirigem para a montanha
sagrada,(v.6) porque a luz do Senhor
iluminou também os outros povos. Jerusalém voltou a ser e continuará para
sempre, o centro do Universo.
Segunda leitura (Ef 3,2-3.5-6)
A libertação e a salvação anunciadas pelos profetas e das
quais Jesus falou, são para todos os homens e para todas as nações. O projeto
de Deus é que judeus e pagãos formem um só povo.
A libertação acontece quando termina a separação entre os
homens e Deus, e quando entre os homens desaparecem a inveja, as discórdias, a
guerra. Surge desse modo uma nova realidade: os homens começam a viver
como irmãos, sem suspeitas, sem inveja
sem ódios, sem homicídios. Vivem desse modo porque Cristo lhes ensinou que são
filhos de um único Pai.
Evangelho(Mt 2,1-12)
Os Magos sempre desfrutaram de muita popularidade e
simpatia por parte dos cristãos. Prova
disso é que 150 anos após o nascimento de Cristo, começa a ser reproduzida a
figura deles nos cemitérios cristãos.
Os evangelhos são muito discretos em relação aos Magos. Os
cristãos nunca se sentiram satisfeitos com as escassas informações encontradas
nos evangelhos. Faltam muitos detalhes: de onde vieram, quantos eram? Qual o
meio de transporte que usaram? O que fizeram depois que voltaram à sua terra?
Onde estão enterrados?
Para responder a todas essas perguntas, surgiram ao longo dos
tempos muitas estórias... Foi dito que eram reis, que eram em número de três,
que vinham um da África, outro da Ásia, outro ainda da Europa e que eram um
negro, outro amarelo e outro branco. Guiados pela estrela, se encontraram num
mesmo ponto, e depois de percorrerem o
último trecho da estrada, chegaram a Belém Chamavam-se Gaspar, Melquior e
Baltasar. Para a viagem serviram-se de
camelos e dromedários. Depois de voltarem para casa, e após atingirem a
venerável idade de 120 anos, certo dia, viram novamente a estrela, retomaram a
viagem e se encontraram numa cidade da Anatólia para participar da missa do
Natal, e no mesmo dia, felizes morreram.
Suas relíquias deram a volta ao mundo e repousam agora na
catedral de Colônia, na Alemanha.
Muito bem! Estas são estórias! Voltemos agora ao texto
evangélico e tentemos entender a mensagem que Mateus nos quer transmitir. Para tanto precisamos esclarecer alguns
detalhes.
Primeiro, segundo o evangelho os Magos não eram reis. Com certeza pertenciam àquele grupo de
pessoas, muito comuns na antiguidade que sabiam interpretar os sonhos, prever o
futuro observando o curso dos astros ou observando o vôo dos pássaros, e sabiam
ler a vontade de Deus através dos acontecimentos comuns ou extraordinários da
vida.
Não deve causar
espanto, portanto, quando se afirma que os magos conseguiram
interpretar, como uma mensagem do céu, o aparecimento de uma estrela.
Quanto à estrela: nos temos antigos acreditava-se que,
quando nascia uma pessoa destinada a uma grande missão, aparecia ao mesmo tempo
uma estrela no céu. (ainda hoje quando
alguém é favorecido pela sorte, ele talvez
diga: ôpa, enfim minha estrela brilou...)
Mas enfim, os Magos
viram um cometa?
Muitos astrônomos consumiram boa parte das suas pesquisas e estudos para
verificar se, há dois mil anos atrás, apareceu no céu um cometa. Poderiam ter
empregado melhor o seu tempo em qualquer outro estudo, pois a estrela que os
Magos viram não era um astro material, mas a estrela da qual fala a Escritura.
Vamos aos fatos. Se
lermos os capítulos 22-24 do livro dos Números, encontramos a surpreendente
história de Balaão e da sua jumenta falante. Balaão era um
adivinho, um mago do Oriente, exatamente como aqueles dos quais fala o
evangelho de hoje.
Certo dia, ele, sem querer, fez uma profecia importante.
Disse: “Eu vejo, mas não é um acontecimento que virá dentro em breve; eu o
sinto, mas não está perto: uma estrela desponta da estirpe de Jacó, um reino,
nascido de Israel se levanta...alguém sairá de Jacó e dominará os seus
inimigos”(Nm 24,17.19).
Assim falava, cerca de 1.200 anos antes do nascimento de
Jesus, Balaão, “o homem do olhar penetrante”(Nm. 24,3).
Desde então os israelitas começaram a aguardar com ansiedade o descontar desta
estrela que não é senão o próprio Messias.
Estas ideias eram muito familiares para Mateus e seus
leitores. Apresentando-nos os Magos do Oriente que vêem a estrela, o
evangelista nos quer dizer que finalmente chegou o esperado libertador da
estirpe de Jacó. É aquele Jesus que os Magos reconheceram e adoraram. É ele a Estrela.
Tentemos agora relacionar o Evangelho de hoje com a primeira
leitura. O profeta dizia que, quando em Jerusalém tivesse brilhado a luz do Senhor, todas as nações se teriam
posto a caminho rumo à cidade santa, levando os seus dons. Mateus interpreta o
episódio dos Magos como sendo a realização desta profecia: guiados pela luz do
Messias os povos pagãos (representados pelos Magos) se dirigem para Jerusalém,
para levar os seus dons: ouro, incenso e mirra.
Da mesma forma, a história da caravana de animais não foi
inventada à toa; a primeira leitura já
nos fala de “um tropel de camelos e
dromedários”, vindos do Oriente (Is
60,6).
Mas então, não seria melhor tirar o cometa dos nossos
presépios? Não! Vamos continuar contemplando esta estrela, vamos aprontá-la par
nossas crianças, mas ensinemos a elas que a estrela
não é um astro do céu, mas é Jesus, é ele a luz que ilumina todos os
homens.
Assim sendo, Os Magos representam os homens que buscam a luz
em meio às trevas. Os Magos são também a imagem da Igreja, formada por povos de
todas as etnias, tribos, línguas, nações. Entrar para a Igreja não quer dizer
renunciar à própria identidade, não quer dizer submeter-se a uma injusta e
falsa uniformidade. Todas as pessoas e todos os povos devem manter as próprias
características culturais, que até enriquecem a igreja universal. Ninguém é tão
rico que não precise de nada e nem tão pobre que não tenha nada para dar.
Nos dias de hoje, como nos tempos de Jesus, diante da estrela,
as pessoas assumem posturas diferentes. Há as que, como os Magos, se ajoelham
(v.11), reconhecem nele a luz do mundo e se submetem; há outras que
permanecem indiferentes e outras, enfim,
que tentam apagar esta luz. Todos viram a mesma realidade: um menino recém-
nascido, mas os corações foram e são diferentes. Quem está em condições de
reconhece-lo? Os que se deixam iluminar pela Escritura que fala dele.
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