TRIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C



              QUEM SABE FAZ A HORA NÃO  ESPERA ACONTECER


Primeira leitura (Ml 3,19-20)

Muitos anos após a volta do Exílio (sec. II a.C.) o povo estava decepcionado. É que os profetas do Exílio haviam feito promessas otimistas de um reino de paz, de bem-estar e de justiça. Tudo ilusão!  Em vez disso, uma sociedade marcada  por roubos, opressão e violência  por parte dos poderosos, e dos persas que ainda dominavam o país: faltava tudo: comida, roupa, terra para cultivar, casa para morar etc.  Daí também a desilusão em termos de fé: “É trabalho inútil servir a Deus”.
O profeta Malaquias entra em cena para consolar os desanimados usando uma linguagem simbólica que não deve ser lida ao pé da letra: “ O Senhor decidiu golpear os malvados e fazer triunfar os justos, está para provocar um grande incêndio, um dilúvio de fogo terrível contra os ímpios, enquanto para os justos “surgirá o sol de justiça”. Outros profetas falam de perturbações cósmicas: sol e lua não darão mais sua luz, estrelas  cairão...
Não são informações sobre o fim do mundo como pensam as testemunhas de Jeová e outros que admitem intervenções cósmicas de Deus. Isto nunca acontecerá porque Deus não é um Deus intervencionista.
“A terrível ira de Deus” e o “fogo” não se dirigem contra o homem, mas à condenação de  tudo o  que destrói o homem: a injustiça, a inveja, a ganância,  o ódio e a violência.  O “sol da justiça” pode referir-se ao próprio Cristo. O fogo que destruirá todo o mal já foi aceso: é o Espírito que nos foi enviado por Jesus, é seu Espírito que já  começou a renovar a face da terra.

Segunda leitura (2Ts 3,7-12)

Havia entre os tessalonicenses alguns fanáticos que se baseavam  em visões imaginárias e afirmavam que o fim do mundo estava próximo. As tolices espalhadas por estes fanáticos perturbavam a comunidade. Alguns já nem queriam trabalhar porque achavam que não valia mais a pena.  Ficavam vadiando e vivendo às custas dos outros.
Paulo responde com o exemplo de sua própria vida: “Sabeis perfeitamente que labutei dia e noite com fadiga e esforço para não ser pesado para nenhum de vós”(v.8). Paulo tem orgulho de sua independência econômica: durante o dia fazia tendas e de noite evangelizava.
Agora “ quem não quiser trabalhar, não tem o direito de comer (v. 10).
Não haverá também  hoje pessoas que descuidam das próprias obrigações familiares para dedicar-se a atividades inúteis?

Evangelho (Lc 21, 5-19)

Lucas escreve o seu evangelho mais ou menos cinquenta anos depois da morte e ressurreição de Jesus; e nesses cinquenta anos aconteceram fatos terríveis. Houve guerras, revoluções políticas, catástrofes: o templo de Jerusalém foi destruído, os cristãos são vítimas de injustiças e perseguições. As calamidades que estão acontecendo  e sobretudo a destruição do templo, que era o orgulho dos judeus, começaram a ser interpretados como sinais de que o fim do mundo estava próximo e que o senhor Jesus estava para aparecer entre as nuvens do céu. O evangelho de hoje quer dar uma resposta a estas falsas expectativas: “é necessário que tudo isto aconteça  primeiro, mas não será logo o fim” (v.9).
Quando Jesus anunciou a destruição do templo, as pessoas perguntaram: Quando será isto? Jesus não soube identificar a data, pois não a conhece, como não conhece o dia e a hora do fim do mundo (Mt 24,36)
Lucas narra este episódio para alertar as suas comunidades sobre aqueles que confundem os próprios sonhos com  a realidade. Há alguns fanáticos que atribuem a Cristo algumas profecias que, ao invés, são hipóteses extravagantes e invenções. O evangelista convida seus cristãos a abandonar estes malucos e refletir, ao contrário, sobre a única coisa que lhes deve interessar: o que fazer concretamente, para colaborar com o advento do mundo novo, do reino de Deus. Lucas lembra que também Jesus se preocupou em alertar os seus discípulos sobre aqueles que vão espalhando: “ o fim do mundo está perto”; exortou-os com insistência: “Não sigais seus passos”. O fim do mundo, se é que virá, não virá tão cedo; o tempo da gestação do mundo novo será longo!
O que acontecerá no tempo que nos separa da vinda do Senhor, até o fim dos tempos? Jesus responde com uma linguagem que era comum na época: a linguagem apocalíptica; Fala de levantes de nações contra nações, de terremotos, de fome e de pestes, de fenômenos espantosos e de grandes sinais nos céus. Não devem ser interpretadas como previsões assustadoras, mas como anúncio de alegria e de esperança. Compreendemos então porque Jesus exorta os seus discípulos a não se deixarem tomar pelo pavor “: Não vos assusteis” (v.9). E um pouco depois recomendou novamente: “Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa libertação”(21.28).
Depois de ter alertado os discípulos para considerarem o tempo de espera como uma gestação que antecede o parto, Jesus alerta para as dificuldades que os discípulos deverão enfrentar: perseguições, prisão, calúnias, perseguições injustas, denúncias, etc.
Nestas situações difíceis os discípulos poderão sentir-se tentados a desanimar e fracassados. Não devem sentir-se desamparados. Se de fato  forem coerentes com as exigências da própria vocação, Jesus, o bom pastor, tomará a sua defesa. Dar-lhes-á uma força à qual ninguém poderá resistir: a força da verdade, do amor, do perdão.
Por fim, Jesus lembra uma expressão muito usada no seu tempo: “Não se perderá  um só cabelo da vossa cabeça”. No entanto, não deverão esperar por libertações espetaculares: perderão os próprios bens, o emprego, a reputação e talvez a própria vida pela causa do Evangelho. Jesus, porém, lhes garante: não obstante as aparências contrárias, o reino de Deus continuará crescendo. Os que tiverem sacrificado a si mesmos por amor ao Cristo, talvez não colherão os frutos do bem que semearam, mas devem conservar a venturoso certeza de que os frutos serão abundantes.






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