QUEM SABE FAZ A
HORA NÃO ESPERA ACONTECER
Primeira leitura (Ml 3,19-20)
Muitos anos após a volta do
Exílio (sec. II a.C.) o povo estava decepcionado. É que os profetas do Exílio
haviam feito promessas otimistas de um reino de paz, de bem-estar e de justiça.
Tudo ilusão! Em vez disso, uma sociedade
marcada por roubos, opressão e
violência por parte dos poderosos, e dos
persas que ainda dominavam o país: faltava tudo: comida, roupa, terra para
cultivar, casa para morar etc. Daí
também a desilusão em termos de fé: “É trabalho inútil servir a Deus”.
O profeta Malaquias entra em cena
para consolar os desanimados usando uma linguagem simbólica que não deve ser
lida ao pé da letra: “ O Senhor decidiu golpear os malvados e fazer triunfar os
justos, está para provocar um grande incêndio, um dilúvio de fogo terrível
contra os ímpios, enquanto para os justos “surgirá o sol de justiça”. Outros
profetas falam de perturbações cósmicas: sol e lua não darão mais sua luz,
estrelas cairão...
Não são informações sobre o fim
do mundo como pensam as testemunhas de Jeová e outros que admitem intervenções
cósmicas de Deus. Isto nunca acontecerá porque Deus não é um Deus intervencionista.
“A terrível ira de Deus” e o
“fogo” não se dirigem contra o homem, mas à condenação de tudo o que
destrói o homem: a injustiça, a inveja, a ganância, o ódio e a violência. O “sol da justiça” pode referir-se ao próprio
Cristo. O fogo que destruirá todo o mal já foi aceso: é o Espírito que nos foi
enviado por Jesus, é seu Espírito que já
começou a renovar a face da terra.
Segunda leitura (2Ts 3,7-12)
Havia entre os tessalonicenses
alguns fanáticos que se baseavam em
visões imaginárias e afirmavam que o fim do mundo estava próximo. As tolices
espalhadas por estes fanáticos perturbavam a comunidade. Alguns já nem queriam
trabalhar porque achavam que não valia mais a pena. Ficavam vadiando e vivendo às custas dos
outros.
Paulo responde com o exemplo de
sua própria vida: “Sabeis perfeitamente que labutei dia e noite com fadiga e
esforço para não ser pesado para nenhum de vós”(v.8). Paulo tem orgulho de sua
independência econômica: durante o dia fazia tendas e de noite evangelizava.
Agora “ quem não quiser
trabalhar, não tem o direito de comer (v. 10).
Não haverá também hoje pessoas que descuidam das próprias
obrigações familiares para dedicar-se a atividades inúteis?
Evangelho (Lc 21, 5-19)
Lucas escreve o seu evangelho
mais ou menos cinquenta anos depois da morte e ressurreição de Jesus; e nesses
cinquenta anos aconteceram fatos terríveis. Houve guerras, revoluções
políticas, catástrofes: o templo de Jerusalém foi destruído, os cristãos são
vítimas de injustiças e perseguições. As calamidades que estão acontecendo e sobretudo a destruição do templo, que era o
orgulho dos judeus, começaram a ser interpretados como sinais de que o fim do
mundo estava próximo e que o senhor Jesus estava para aparecer entre as nuvens
do céu. O evangelho de hoje quer dar uma resposta a estas falsas expectativas:
“é necessário que tudo isto aconteça
primeiro, mas não será logo o fim” (v.9).
Quando Jesus anunciou a
destruição do templo, as pessoas perguntaram: Quando será isto? Jesus não soube
identificar a data, pois não a conhece, como não conhece o dia e a hora do fim
do mundo (Mt 24,36)
Lucas narra este episódio para
alertar as suas comunidades sobre aqueles que confundem os próprios sonhos
com a realidade. Há alguns fanáticos que
atribuem a Cristo algumas profecias que, ao invés, são hipóteses extravagantes
e invenções. O evangelista convida seus cristãos a abandonar estes malucos e
refletir, ao contrário, sobre a única coisa que lhes deve interessar: o que
fazer concretamente, para colaborar com o advento do mundo novo, do reino de
Deus. Lucas lembra que também Jesus se preocupou em alertar os seus discípulos
sobre aqueles que vão espalhando: “ o fim do mundo está perto”; exortou-os com
insistência: “Não sigais seus passos”. O fim do mundo, se é que virá, não virá
tão cedo; o tempo da gestação do mundo novo será longo!
O que acontecerá no tempo que nos
separa da vinda do Senhor, até o fim dos tempos? Jesus responde com uma
linguagem que era comum na época: a linguagem apocalíptica; Fala de levantes de
nações contra nações, de terremotos, de fome e de pestes, de fenômenos
espantosos e de grandes sinais nos céus. Não devem ser interpretadas como
previsões assustadoras, mas como anúncio de alegria e de esperança.
Compreendemos então porque Jesus exorta os seus discípulos a não se deixarem
tomar pelo pavor “: Não vos assusteis” (v.9). E um pouco depois recomendou
novamente: “Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai
as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa libertação”(21.28).
Depois de ter alertado os
discípulos para considerarem o tempo de espera como uma gestação que antecede o
parto, Jesus alerta para as dificuldades que os discípulos deverão enfrentar:
perseguições, prisão, calúnias, perseguições injustas, denúncias, etc.
Nestas situações difíceis os
discípulos poderão sentir-se tentados a desanimar e fracassados. Não devem
sentir-se desamparados. Se de fato forem
coerentes com as exigências da própria vocação, Jesus, o bom pastor, tomará a
sua defesa. Dar-lhes-á uma força à qual ninguém poderá resistir: a força da
verdade, do amor, do perdão.
Por fim, Jesus lembra uma
expressão muito usada no seu tempo: “Não se perderá um só cabelo da vossa cabeça”. No entanto, não
deverão esperar por libertações espetaculares: perderão os próprios bens, o
emprego, a reputação e talvez a própria vida pela causa do Evangelho. Jesus,
porém, lhes garante: não obstante as aparências contrárias, o reino de Deus
continuará crescendo. Os que tiverem sacrificado a si mesmos por amor ao
Cristo, talvez não colherão os frutos do bem que semearam, mas devem conservar
a venturoso certeza de que os frutos serão abundantes.
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