NOSSO DEUS É O DEUS DOS VIVOS
Primeira leitura (2Mc 7,1-2.9-14)
O texto se situa no tempo da
revolta dos Macabeus (II sec.a.C.), tempo da dominação grega na Judeia. Para
“amansar” os povos subordinados, os gregos impunham sua cultura e modo de
viver. Quem não aderisse à moda do dominador era caçado, torturado e morto.
É dentro deste contexto que se
enquadra o episódio da mãe e seus sete filhos que foram martirizados por não
aceitar comer carne de porco, o que era proibido pela Lei (v.1). Um a um os
sete irmãos animados pela mãe, vão sendo torturados e mortos. Isto fez crescer a convicção de que Deus é o aliado de
seu povo, capaz de gerar vida além da vida (terrestre). De fato este texto é importante
porque, pela primeira vez no Antigo Testamento, é apresentada e confessada a fé
na ressurreição individual (“É preferível ser morto pelos homens tendo em vista
a esperança, dada por Deus, de que ele um dia nos ressuscitará” (v.14s)
A esperança na ressurreição, a
partir desse momento histórico tomou corpo e cresceu, alimentando a resistência
dos que lutam pela liberdade e vida.
A prática de Jesus, sua morte e
ressurreição, irão confirmar e solidificar esta esperança: na luta pela vida
Deus tem a última palavra.
Segunda leitura (2Tm
2,16—3,4).
Entre os cristãos de Tessalônica havia,
sim, algumas tensões e alguma ideia teológica um pouco errônea. Mas, de modo
geral era uma boa comunidade.
Na segunda parte, Paulo pede que
orem para que a Palavra de Deus se difunda ainda mais entre eles e seja
conhecida por todos os homens. Pede também que rezem por ele que enfrenta
muitas dificuldades e oposições por parte de pessoas que querem destruir aquilo
que ele constrói.
Também em nossos dias, aqueles
que se dedicam à causa do evangelho estão sujeitos a passar por provas
semelhantes às que Paulo enfrentou: contrariedades, oposições, injustiças etc.
Para superar estas dificuldades Paulo recomenda que se confiem ao Senhor
através da oração. A oração mantém o homem unido a Deus, dá forças, serenidade,
restitui a calma e a paz interior.
Evangelho (Lc 20, 27-38)
O tema do evangelho é a
ressurreição. Os sete irmãos dos quais nos falou a primeira leitura tinham uma
ideia ainda muito imperfeita da ressurreição. Pensavam que fosse uma
continuação e um aperfeiçoamento da vida deste mundo.
Também os fariseus, no tempo de
Jesus, professavam uma fé muito firme na ressurreição dos mortos, mas a
interpretavam de uma forma muito grosseira. Na vida futura, diziam, as alegrias
desta vida serão multiplicadas sem limites. No céu não haverá fome, doenças,
sofrimentos, desgraças; os homens desfrutarão de todos os prazeres possíveis,
terão em abundância pão, carnes e vinhos.
O evangelho de hoje apresenta um
novo grupo político-religioso, os saduceus, composto pelos chefes dos
sacerdotes, nobreza sacerdotal, nobreza leiga e latifundiários(anciãos).
Praticavam uma política de distensão para fora (amigos dos romanos) e
conservadora para dentro. Tinham em mãos o poder econômico, político e religioso.
Apesar de religiosos, são uma espécie de ateus práticos, ou materialistas,
porque professam a fé num deus feito à imagem e semelhança de seus interesses e
privilégios.
Não acreditavam na ressurreição e
por isso entram em conflito com Jesus e o ridicularizam com uma história. A Lei
de Moisés estabelece que, se um homem morre sem deixar descendência, seu irmão
deve casar com a viúva. Os filhos nascidos deste novo casamento são
considerados filhos do falecido. Havia entre nós, contam os saduceus, uma
mulher que ficou viúva sem deixar descendência. Então, conforme a Lei casou com
o irmão do marido falecido, com o qual também não teve filhos. E assim acabou casando-se
com os outros irmãos que também não lhe deram filhos. Conseguiu, enfim acabar
com sete maridos (caramba que mulher saudável...), um depois do outro. Então os
saduceus perguntam a Jesus: com qual dos irmãos ficará ela na vida futura,
visto que todos a tiveram como esposa?
A resposta de Jesus está
estruturara em duas partes:
1.“Os filhos desse mundo casam-se
e dão-se em casamento, mas os do outro mundo... são iguais aos anjos, são
filhos de Deus”. A vossa objeção, diz Jesus aos saduceus, parte do pressuposto
que a vida futura seja a continuação(aperfeiçoamento) desta vida. A ressurreição
não é, porém, um despertar do sepulcro para retomar a vida de antes. A vida com
Deus é uma realidade completamente nova. O homem se torna um ser diferente,
imortal, igual aos anjos. Mas como será então? Ninguém pode saber.
O que pensar dos sufrágios pelos
defuntos? Há alguns que os interpretam como uma espécie de “contrato” com
Deus”. Uma espécie de “transação comercial” para conseguir algum desconto das
penas em benefício das almas dos nossos queridos que se encontram
“prisioneiros” no purgatório. É uma linguagem muito imprópria e grosseira, que
provoca frequentemente comentários desairosos dos descrentes.
Os sufrágios pelos defuntos têm
um grande valor, mas devem ser entendidos de uma forma correta, isto é, de
acordo com a nossa fé na vida eterna e na comunhão dos santos. Quando nos
reunimos ao redor do banquete eucarístico, sabemos estar em comunhão com os
irmãos no céu. Temos a certeza que a nossa lembrança e a nossa oração os torna
felizes e aumentam o nosso amor e o deles, reanimam o nosso desejo e a nossa
esperança de um dia nos podermos reunir
com Cristo e com eles.Com a nossa oração dizemos às pessoas que nos precederam
na casa do pai que nós nos sentimos felizes por estarem elas com Deus.
2. A segunda parte da resposta de
Jesus (vv.37-38) é constituída por uma clara afirmação sobre a ressurreição. Nós
não podemos imaginar como será a vida com Deus, mas temos certeza que, depois
da morte o homem continua a viver. A
prova que Jesus apresenta para convencer os saduceus é a seguinte;” O Senhor
Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, não é o Deus dos mortos, mas dos vivos,
porque todos vivem por ele.
Jesus invoca a autoridade da
Escritura. Afirma que Moisés, que viveu muitos séculos depois dos patriarcas,
chama o Senhor: “Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó”. Isso quer dizer que eles
ainda estavam vivos, pois se assim não fosse, Moisés e depois dele todos os
israelitas, teriam invocado um Deus dos mortos.
O que distingue o cristãos dos
outros homens não é uma moral heroica, mas a certeza de estar unido com Cristo,
de estar destinado a passar com ele da morte para a vida.
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