TRIGÉSIMO QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C



 O REI QUE OUVE O CLAMOR DOS “MALDITOS”


Primeira leitura (2Sm 5,1-3)

O texto mostra o desfecho do processo  que conduziu Davi à realeza sobre todo o Israel. Ele inicia essa trajetória como chefe de guerrilheiros (1Sm 18,5). A seguir torna-se líder dos marginalizados e descontentes com a má administração de Saul. Com a morte de Saul foi aclamado rei sobre todo o Israel e governou por trinta anos. Procurando governar sem grandes conflitos com as tradições das tribos, tornou-se símbolo da autoridade justa que defende sua gente dos inimigos externos e implanta a justiça no meio do povo.
2Sm 5,1-5 nos ajuda a traçar o perfil da autoridade. Em primeiro lugar, é alguém que lidera o povo na lutas pela liberdade e justiça.
Em segundo lugar, a autoridade autêntica tem consciência de que o povo pertence a Deus: “O Senhor de Israel te disse: És tu que guiarás meu povo como  um pastor e serás chefe de Israel” (v.2b).
Finalmente é alguém que sabe  conviver com as lideranças populares, respeitando-as e partilhando com elas o poder, no temor do Senhor”(v.3ª)

Segunda leitura (Cl 1,12-20)

A carta aos Colossenses foi escrita na prisão, provavelmente em Éfeso, entre os anos 55-57. Os Colossenses eram provenientes do paganismo e estavam ameaçados por uma heresia que misturava elementos pagãos, judaicos e cristãos: davam muita importância aos poderes angélicos, às forças cósmicas e outros seres intermediários entre Deus e o homem, que teriam papel importante no destino de cada pessoa. Essas ideias traziam, como consequência, a busca de um conhecimento fascinante e misterioso que dominava os homens. Ao lado disso, depositava-se confiança numa série de observâncias religiosas que garantiriam a benevolência desses poderes superiores: festas anuais, mensais e sábados, leis alimentares e ascéticas, culto aos anjos e às forças cósmicas.
 No texto deste domingo Paulo quer mostrar que Cristo Jesus é a plenitude do humano e do divino. Os cristãos não precisam procurar Deus através de seres intermediários. Jesus é a plena revelação de Deus. O Deus invisível tornou-se visível em Jesus.
Os versículos 18-20 ressaltam que, em Jesus, Deus recriou a humanidade, tornando-o cabeça daquele corpo que é a Igreja.

Evangelho (Lc 23,35-43)

Ao escrever o evangelho, Jesus preocupa-se com a nova história inaugurada com a presença de Jesus no meio de nós. A zombaria dos chefes junto à cruz não faz senão revelar qual foi a preocupação dele: “ A outros salvou...”(v.35ª). De fato ele criou com os marginalizados e a partir deles sociedade e história completamente novas.
Quem entra com Jesus no “paraíso” da nova sociedade são os banidos, criminosos, publicanos, prostitutas e outros que a sociedade excludente considerou “malditos” e crucificou, juntamente com Jesus. Isto porque a misericórdia divina é proposta  aberta até o fim, até mesmo quando as esperanças humanas de salvação e vida parecem ter desaparecido.
Segundo Lucas, junto à cruz estão expectadores curiosas(o povo), lideranças político-religiosas judaicas e soldados, além do “bom ladrão”.
Antes de tudo  o povo. Estarrecido. Nada faz, nem a favor, nem contra. Apenas observa (v.35). Não consegue perceber como um homem que está morrendo sem reagir possa ser o rei tão esperado. Se é um justo, porque Deus não intervém?
Além do povo, estão aos pés da cruz os chefes.Eis aí os verdadeiros responsáveis! Eles deveriam estar em condições de  identificar Jesus como o  Messias esperado, Ao invés “escarneciam dele” porque não é o rei que lhes agrada. Porque Jesus não dá provas que eles estão pedindo? Porque não desce da cruz? Porque não opera o milagre? Se assim fizesse, por acaso convenceria a todos e evitaria um crime hediondo?
Com certeza! Se Jesus descesse da cruz todos acreditariam! Mas em que? Acreditariam num Deus forte e poderoso que derrota e esmaga os próprios inimigos, que responde com prodígios  às provocações dos ímpios, que incute  temor e respeito, que não brinca...mas não é este o Deus de Jesus.
Se descesse da cruz trairia a sua missão: concordaria com a falsa ideia de Deus que os líderes espirituais do povo têm na mente. Confirmaria que o verdadeiro Deus é aquele que os poderosos deste mundo sempre adoraram, porque é semelhante a eles: é poderoso, arrogante, vingativo, usa a força das armas.
O terceiro grupo que se encontra aos pés da cruz é composto por soldados. Homens simples, arrancados de suas famílias e enviados para cometer violências, des-humanizados, sádicos. Mais do que culpados, são vítimas da loucura de seus chefes. Repetem as mesmas palavras dos chefes:”Se és o rei dos judeus, salva a ti mesmo!”
Todos estão desiludidos menos um: O “bom ladrão”, na verdade um bandido, tipo “Lampião”, o cangaceiro do nordeste. É este (o bom ladrão) o único que reconhece em Jesus o rei esperado: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares em teu reino!” Embora sua vida tenha sido uma sequência de erros e crimes, Jesus lhe promete: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso.”

A história  deste homem  é a mesma de muitos de nós. Quem não errou alguma vez, embora não tenha cometido algum crime?  Se estivéssemos sozinhos, o nosso caminho nos conduziria ao desespero, como foi o caso de Judas e do “mau ladrão”. Mas está presente Jesus que nos acompanha e, por isso, o nosso caminho terminará com certeza no  paraíso.

Comentários

  1. Que homilia revigorante para a missão na pastoral carcerária! Parabéns padre José!!!

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