Primeira leitura (2Sm 5,1-3)
O texto mostra
o desfecho do processo que conduziu Davi
à realeza sobre todo o Israel. Ele inicia essa trajetória como chefe de guerrilheiros
(1Sm 18,5). A seguir torna-se líder
dos marginalizados e descontentes com a má administração de Saul. Com a morte
de Saul foi aclamado rei sobre todo o Israel e governou por trinta anos.
Procurando governar sem grandes conflitos com as tradições das tribos,
tornou-se símbolo da autoridade justa que defende sua gente dos inimigos
externos e implanta a justiça no meio do povo.
2Sm 5,1-5 nos ajuda a traçar o perfil da
autoridade. Em primeiro lugar, é alguém que lidera o povo na lutas pela liberdade
e justiça.
Em segundo
lugar, a autoridade autêntica tem consciência de que o povo pertence a Deus: “O
Senhor de Israel te disse: És tu que guiarás meu povo como um pastor e serás chefe de Israel” (v.2b).
Finalmente é
alguém que sabe conviver com as lideranças
populares, respeitando-as e partilhando com elas o poder, no temor do
Senhor”(v.3ª)
Segunda leitura (Cl 1,12-20)
A carta aos
Colossenses foi escrita na prisão, provavelmente em Éfeso, entre os anos 55-57.
Os Colossenses eram provenientes do paganismo e estavam ameaçados por uma
heresia que misturava elementos pagãos, judaicos e cristãos: davam muita
importância aos poderes angélicos, às forças cósmicas e outros seres
intermediários entre Deus e o homem, que teriam papel importante no destino de
cada pessoa. Essas ideias traziam, como consequência, a busca de um
conhecimento fascinante e misterioso que dominava os homens. Ao lado disso,
depositava-se confiança numa série de observâncias religiosas que garantiriam a
benevolência desses poderes superiores: festas anuais, mensais e sábados, leis
alimentares e ascéticas, culto aos anjos e às forças cósmicas.
No texto deste domingo Paulo quer mostrar que
Cristo Jesus é a plenitude do humano e do divino. Os cristãos não precisam
procurar Deus através de seres intermediários. Jesus é a plena revelação de
Deus. O Deus invisível tornou-se visível em Jesus.
Os versículos
18-20 ressaltam que, em Jesus, Deus recriou a humanidade, tornando-o cabeça
daquele corpo que é a Igreja.
Evangelho (Lc 23,35-43)
Ao escrever o
evangelho, Jesus preocupa-se com a nova história inaugurada com a presença de
Jesus no meio de nós. A zombaria dos chefes junto à cruz não faz senão revelar
qual foi a preocupação dele: “ A outros salvou...”(v.35ª). De fato ele criou
com os marginalizados e a partir deles sociedade e história completamente
novas.
Quem entra com
Jesus no “paraíso” da nova sociedade são os banidos, criminosos, publicanos,
prostitutas e outros que a sociedade excludente considerou “malditos” e
crucificou, juntamente com Jesus. Isto porque a misericórdia divina é
proposta aberta até o fim, até mesmo
quando as esperanças humanas de salvação e vida parecem ter desaparecido.
Segundo Lucas,
junto à cruz estão expectadores curiosas(o povo), lideranças
político-religiosas judaicas e soldados, além do “bom ladrão”.
Antes de
tudo o povo. Estarrecido. Nada faz, nem
a favor, nem contra. Apenas observa (v.35). Não consegue perceber como um homem
que está morrendo sem reagir possa ser o rei tão esperado. Se é um justo,
porque Deus não intervém?
Além do povo,
estão aos pés da cruz os chefes.Eis
aí os verdadeiros responsáveis! Eles deveriam estar em condições de identificar Jesus como o Messias esperado, Ao invés “escarneciam dele”
porque não é o rei que lhes agrada. Porque Jesus não dá provas que eles estão
pedindo? Porque não desce da cruz? Porque não opera o milagre? Se assim fizesse,
por acaso convenceria a todos e evitaria um crime hediondo?
Com certeza! Se
Jesus descesse da cruz todos acreditariam! Mas em que? Acreditariam num Deus
forte e poderoso que derrota e esmaga os próprios inimigos, que responde com
prodígios às provocações dos ímpios, que
incute temor e respeito, que não brinca...mas
não é este o Deus de Jesus.
Se descesse da
cruz trairia a sua missão: concordaria com a falsa ideia de Deus que os líderes
espirituais do povo têm na mente. Confirmaria que o verdadeiro Deus é aquele
que os poderosos deste mundo sempre adoraram, porque é semelhante a eles: é
poderoso, arrogante, vingativo, usa a força das armas.
O terceiro grupo
que se encontra aos pés da cruz é composto por soldados. Homens simples, arrancados de suas famílias e enviados
para cometer violências, des-humanizados, sádicos. Mais do que culpados, são
vítimas da loucura de seus chefes. Repetem as mesmas palavras dos chefes:”Se és
o rei dos judeus, salva a ti mesmo!”
Todos estão desiludidos menos um: O “bom
ladrão”, na verdade um bandido, tipo “Lampião”, o cangaceiro do nordeste. É
este (o bom ladrão) o único que reconhece em Jesus o rei esperado: “Jesus,
lembra-te de mim, quando entrares em teu reino!” Embora sua vida tenha sido uma
sequência de erros e crimes, Jesus lhe promete: “Hoje mesmo estarás comigo no
paraíso.”
A história deste homem
é a mesma de muitos de nós. Quem não errou alguma vez, embora não tenha cometido
algum crime? Se estivéssemos sozinhos, o
nosso caminho nos conduziria ao desespero, como foi o caso de Judas e do “mau
ladrão”. Mas está presente Jesus que nos acompanha e, por isso, o nosso caminho
terminará com certeza no paraíso.
Que homilia revigorante para a missão na pastoral carcerária! Parabéns padre José!!!
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