DEUS, AMIGO DA VIDA E
COMPASSIVO
Primeira leitura (Sb 11,22—12,2
Escrevendo sobre o Êxodo, o autor
mostra que Deus agiu com moderação contra o Egito no episódio das pragas, em
vez de castigá-lo exemplarmente. Em poucas palavras o autor afirma que Deus
agiu assim por ser amante da vida e porque sua pedagogia visa a conversão
daquele que outrora oprimiu os hebreus, isto é, o Egito.
Deus é por excelência, o
Todo-poderoso. Mas o poder por si só não
define nem revela quem é Deus,
menos ainda as pessoas investidas de poder (que, na bíblia, é sempre visto como
um poder delegado). Contudo o modo
como Deus exerce o poder é novo e totalmente original: pelo fato de tudo poder,
ele se enche de compaixão para com
todos. Portanto o poder de Deus é um poder
compassivo, que se expressa no perdão, cuja pedagogia conduz ao
arrependimento. Todas as coisas que existem são fruto do amor de Deus. Ele as
criou porque as quis e as ama.
O texto traz uma das melhores
definições de quem é Deus: amigo da vida (v.26). E porque é amigo da vida, o
seu espírito incorruptível está em todas as coisas (12,1) de modo que em cada
ser criado há um pouco da divindade que o criou.
Segunda leitura (2Ts 11-2,2).
Os tessalonicenses estavam
confusos porque alguns “pregoeiros fanáticos” anunciavam como iminente o fim do
mundo. A questão se avolumou tanto a ponto de perturbar o andamento da
comunidade. Alguns já não queriam mais trabalhar. A eles Paulo diz: quem não
quiser trabalhar que não coma.
Paulo escreve então aos
tessalonicenses e lhes recomenda muita atenção para não se deixar iludir por
estes “fanáticos” que, em vez de anunciar o evangelho, espalham “visões” e
“inspirações pessoais”.
Também hoje aparecem visionários
e fanáticos que anunciam o fim do mundo e aliciam pessoas para as suas seitas.
Paulo reza incessantemente a Deus
para que os tessalonicenses consigam entender onde está a verdade e pede que o
Senhor seja glorificado não por meio da conversa inconsequente de gente sonhadora,
mas pelo testemunho de amor que os membros da comunidade manifestam.
Evangelho (Lc 19,1-10)
O personagem principal do
evangelho de hoje é um publicano, um cobrador de impostos. É que os romanos
para evitar encrencas com os judeus haviam terceirizado a cobrança de impostos.
Zaqueu não é um simples publicano, mas “chefe de publicanos”. Para o povo um
gerente de ladrões. Provavelmente Jesus o conhecia, pois o chama pelo nome.
Além do nome, Lucas observa outro
detalhe curioso: 0 homem é de baixa estatura: não somente
por seu aspecto físico, mas também moral. É muito pequeno, insignificante,
quase imperceptível. É um pequeno ´ponto perdido numa sociedade que se
considera pura e sem mancha. É um dos excluídos do reino de Deus e ele está bem
consciente disso. Contudo ele quer ver Jesus e para tanto não lhe importa
passar por ridículo agindo de maneira pouco condizente com sua dignidade: como
um moleque qualquer, corre para adiantar-se a todos e “sobe num sicômoro. Só
quer ver Jesus.
Ao chegar àquele ponto, Jesus
“levanta os olhos” e vê Zaqueu. O relato sugere um intercâmbio de olhares entre
o profeta defensor dos pobres e aquele rico explorador. Jesus o chama pelo
nome: “Zaqueu desce imediatamente porque hoje preciso hospedar-me em tua casa e
estar contigo”. A religião tradicional inventada pelo homem protesta: onde já
se viu ele vi hospedar-se na casa de um pecador.
Zaqueu lhe abre a porta com
alegria. Deixa-o entrar em seu mundo de dinheiro e poder.
É sintomático o fato de que esse homem que teve tudo na vida, ainda
esteja insatisfeito. Em contato com Jesus Zaqueu muda. Começa a pensar nos
“pobres”: compartilhará com eles os seus bens. Lembra-se de que são vítimas de
seus negócios irá devolver-lhes sobejamente o que lhes roubou. Deixa que Jesus
introduza em sua via, verdade, justiça e compaixão.
Jesus se alegra porque a “salvação”
chegou também a essa casa poderosa e rica. Para isto ele veio: para “procurar e
salvar o que estava perdido”. Jesus é sincero: a vida dos que são escravos do
dinheiro é vida perdida, vida sem verdade, sem justiça e sem compaixão para com
os que sofrem. Mas Jesus ama também os ricos. Não quer que nenhum deles se
perca. Todo rico que o deixar entrar em seu mundo experimentará sua força
salvadora.
São muitos os cristãos de posição
cômoda que se sentem incomodados por esta “moda” que entrou na Igreja de falar
tanto dos pobres. Não entendem que o evangelho possa ser boa notícia para
todos. E, portanto, só possa ser ouvido pelos ricos como ameaça aos seus interesses
e como condenação de sua riqueza.
Parece-lhes que tudo não é senão
demagogia barata, ideologização do evangelho e, definitivamente, “política de
esquerda”. Porque, vejamos: não se aproxima Jesus de todos igualmente? Não
acolhia pobres e ricos com o mesmo amor? Não oferecia a todos a salvação?
Sem dúvida, Jesus se aproxima de
todos, mas não da mesma maneira. E, concretamente, aproxima-se dos ricos para,
antes de mais nada, “salvá-los” de suas riquezas.
Zaqueu acolheu Jesus e decidiu
dar a metade de seus bens aos pobres. E Jesus proclama: “Hoje a salvação entrou
nesta casa”.
A atuação de Jesus é
surpreendente. Ninguém vê nele o representante da Lei, mas o profeta da
compaixão, que acolhe a todos com o amor entranhável do próprio Deus. Não
´parece preocupado com a moral, mas com o sofrimento concreto de cada pessoa.
Não é visto obcecado em defender sua doutrina, mas atento a quem não consegue
viver de maneira sadia.
Oferece-se, convida propõe um
caminho de vida sadia. Sabe que a semente pode cair em terra hostil e sua mensagem
ser rejeitada. Não se sente ofendido. Continua semeando com a mesma atitude de
Deus, que envia a chuva e faz sair seu sol sobre seus filhos: bons e maus.
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