TRIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C



             

DEUS, AMIGO DA VIDA E COMPASSIVO


Primeira leitura (Sb 11,22—12,2

Escrevendo sobre o Êxodo, o autor mostra que Deus agiu com moderação contra o Egito no episódio das pragas, em vez de castigá-lo exemplarmente. Em poucas palavras o autor afirma que Deus agiu assim por ser amante da vida e porque sua pedagogia visa a conversão daquele que outrora oprimiu os hebreus, isto é, o Egito.
Deus é por excelência, o Todo-poderoso. Mas o poder por si só não define nem revela quem é Deus, menos ainda as pessoas investidas de poder (que, na bíblia, é sempre visto como um poder delegado). Contudo o modo como Deus exerce o poder é novo e totalmente original: pelo fato de tudo poder, ele se enche de compaixão para com todos. Portanto o poder de Deus é um poder compassivo, que se expressa no perdão, cuja pedagogia conduz ao arrependimento. Todas as coisas que existem são fruto do amor de Deus. Ele as criou porque as quis e as ama.
O texto traz uma das melhores definições de quem é Deus: amigo da vida (v.26). E porque é amigo da vida, o seu espírito incorruptível está em todas as coisas (12,1) de modo que em cada ser criado há um pouco da divindade que o criou.

Segunda leitura (2Ts 11-2,2).

Os tessalonicenses estavam confusos porque alguns “pregoeiros fanáticos” anunciavam como iminente o fim do mundo. A questão se avolumou tanto a ponto de perturbar o andamento da comunidade. Alguns já não queriam mais trabalhar. A eles Paulo diz: quem não quiser trabalhar que não coma.
Paulo escreve então aos tessalonicenses e lhes recomenda muita atenção para não se deixar iludir por estes “fanáticos” que, em vez de anunciar o evangelho, espalham “visões” e “inspirações pessoais”.
Também hoje aparecem visionários e fanáticos que anunciam o fim do mundo e aliciam pessoas para as suas seitas.
Paulo reza incessantemente a Deus para que os tessalonicenses consigam entender onde está a verdade e pede que o Senhor seja glorificado não por meio da conversa inconsequente de gente sonhadora, mas pelo testemunho de amor que os membros da comunidade manifestam.

Evangelho (Lc 19,1-10)

O personagem principal do evangelho de hoje é um publicano, um cobrador de impostos. É que os romanos para evitar encrencas com os judeus haviam terceirizado a cobrança de impostos. Zaqueu não é um simples publicano, mas “chefe de publicanos”. Para o povo um gerente de ladrões. Provavelmente Jesus o conhecia, pois o chama pelo nome.
Além do nome, Lucas observa outro detalhe curioso:  0 homem é de baixa estatura: não somente por seu aspecto físico, mas também moral. É muito pequeno, insignificante, quase imperceptível. É um pequeno ´ponto perdido numa sociedade que se considera pura e sem mancha. É um dos excluídos do reino de Deus e ele está bem consciente disso. Contudo ele quer ver Jesus e para tanto não lhe importa passar por ridículo agindo de maneira pouco condizente com sua dignidade: como um moleque qualquer, corre para adiantar-se a todos e “sobe num sicômoro. Só quer ver Jesus.
Ao chegar àquele ponto, Jesus “levanta os olhos” e vê Zaqueu. O relato sugere um intercâmbio de olhares entre o profeta defensor dos pobres e aquele rico explorador. Jesus o chama pelo nome: “Zaqueu desce imediatamente porque hoje preciso hospedar-me em tua casa e estar contigo”. A religião tradicional inventada pelo homem protesta: onde já se viu ele vi hospedar-se na casa de um pecador.
Zaqueu lhe abre a porta com alegria. Deixa-o entrar em seu mundo de dinheiro e poder.
É sintomático o fato de que esse homem que teve tudo na vida, ainda esteja insatisfeito. Em contato com Jesus Zaqueu muda. Começa a pensar nos “pobres”: compartilhará com eles os seus bens. Lembra-se de que são vítimas de seus negócios irá devolver-lhes sobejamente o que lhes roubou. Deixa que Jesus introduza em sua via, verdade, justiça e compaixão.
Jesus se alegra porque a “salvação” chegou também a essa casa poderosa e rica. Para isto ele veio: para “procurar e salvar o que estava perdido”. Jesus é sincero: a vida dos que são escravos do dinheiro é vida perdida, vida sem verdade, sem justiça e sem compaixão para com os que sofrem. Mas Jesus ama também os ricos. Não quer que nenhum deles se perca. Todo rico que o deixar entrar em seu mundo experimentará sua força salvadora.
São muitos os cristãos de posição cômoda que se sentem incomodados por esta “moda” que entrou na Igreja de falar tanto dos pobres. Não entendem que o evangelho possa ser boa notícia para todos. E, portanto, só possa ser ouvido pelos ricos como ameaça aos seus interesses e como condenação de sua riqueza.
Parece-lhes que tudo não é senão demagogia barata, ideologização do evangelho e, definitivamente, “política de esquerda”. Porque, vejamos: não se aproxima Jesus de todos igualmente? Não acolhia pobres e ricos com o mesmo amor? Não oferecia a todos a salvação?
Sem dúvida, Jesus se aproxima de todos, mas não da mesma maneira. E, concretamente, aproxima-se dos ricos para, antes de mais nada, “salvá-los” de suas riquezas.
Zaqueu acolheu Jesus e decidiu dar a metade de seus bens aos pobres. E Jesus proclama: “Hoje a salvação entrou nesta casa”.
A atuação de Jesus é surpreendente. Ninguém vê nele o representante da Lei, mas o profeta da compaixão, que acolhe a todos com o amor entranhável do próprio Deus. Não ´parece preocupado com a moral, mas com o sofrimento concreto de cada pessoa. Não é visto obcecado em defender sua doutrina, mas atento a quem não consegue viver de maneira sadia.

Oferece-se, convida propõe um caminho de vida sadia. Sabe que a semente pode cair em terra hostil e sua mensagem ser rejeitada. Não se sente ofendido. Continua semeando com a mesma atitude de Deus, que envia a chuva e faz sair seu sol sobre seus filhos:  bons e maus.

Comentários