TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C



              A MISERICÓRDIA DE DEUS É QUE JUSTIFICA O PECADOR

Introdução
No ano que chega ao fim pudemos perceber que muitos brasileiros invocam o nome de  Deus, vão às missas, criam uma religião ao sabor  de seus interesses para acobertar os desmandos que cometem e as vidas que eliminam impunemente. No fundo nada fazem senão repetir a velha tática de querer manipular a Deus, consideram-se piedosos e homens de igreja, tentando ganhar simpatias e cargos para continuar explorando e matando.
Ritos e funções religiosas não convencem a Deus. Mais. Segundo a leitura  de hoje, Deus detesta ofertas, ritos, orações e celebrações que procuram “comprar” a Deus, pois só ele e não nossas ações pode  julgar. Deus se agrada daquele que o serve, servindo o próximo e  repartindo com ele o que tem, como dizemos: “ é pouco, mas é de coração”.
Sabemos, por experiência, que o sistema judiciário no Brasil é uma piada: a justiça se compra e se vende. Os juízes julgam ao sabor das ideologias, emoções, propinas e  partidos.

Primeira leitura ( Eclo 35,12-14.16-18)

Segundo o Eclesiástico “não adianta querer corromper a Deus com doações e sacrifícios”  (v.35,11); porque “ o Senhor é teu juiz  e ele não faz distinção de  pessoas” (v.12); a única  condição que o comove é a pobreza, é a necessidade do ser humano.
Deus é justo porque se enternece diante do pobre. Quando se apresenta diante dele alguém que não tem merecimento algum para mostrar, alguém que só pode contar com suas misérias, ele se comove e sempre pronuncia uma sentença de salvação.

Segunda leitura (2Tm 4,6----8,16-18)

Poucos meses antes de morrer, Paulo, encarcerado em Roma, escreve ao seu amigo Timóteo, seu amigo de trabalho na obra da evangelização  e na formação das primeiras comunidades. Sente que já está se aproximando o dia em que deve deixar este mundo. O seu sangue “está para ser derramado como libação e chegou a hora de desfraldar as velas”(v,6). Como é natural nestas horas, ele faz uma avaliação de toda a sua vida. Ele constata que foi um bom atleta submetendo-se a todos os sacrifícios e empregando todas as energias pela causa certa, o evangelho.  Assim como os atletas que venciam no estádio recebiam uma coroa assim, espera Paulo, que Deus lhe entregará também a ele uma coroa que aliás será “oferecida a todos aqueles que aguardam com amor a sua manifestação”(v,8).
Paulo foi um grande evangelizador e também um grande teólogo. Evangelizava não somente com palavras mas partilhando a sua experiência de Deus. Evangelizar é precisamente partilhar uma experiência que o evangelizador tem de Deus.

Evangelho  (Lc 18,9-14)

Para manifestar o seu pensamento, Jesus usou diversas parábolas. A parábola é um jogo sutil de comunicação que visa envolver os ouvintes, sem  ofendê-los, mas levá-los a tomar uma posição. Não se destina tano ao povo simples, como se pensa, mas aos líderes da sociedade. Também não é propriamente um ensinamento, mas uma janela para um mundo novo.
Os personagens da parábola de hoje são: um fariseu e um publicano. Os fariseus formavam uma espécie de irmandade (eram cerca de 6.000 no tempo de Jesus), observavam rigorosamente a Lei. Viviam separados do “zé povinho”. O publicanos cobravam os impostos no lugar dos romanos. Dividiam-se em duas classes: os chefes dos publicanos como Zaqueu e os subordinados. Os primeiros eram ricos os outros remediados. Como trabalhavam para Roma eram odiados pelos judeus.
Um fariseu e um publicano vão ao templo para rezar. Ambos buscam entrar em comunhão com Deus mediante a oração. Entre os dois há um contraste muito forte, seja quanto ao comportamento, seja quanto à ideia de religião e oração.  Uma é falsa e a outra verdadeira. Os fariseus se consideravam justos perante Deus. Desprezavam os que não conheciam a Lei e os que não fossem como eles.
O fariseu da parábola tem a consciência de não ser como o resto das pessoas e por isso se dirige a Deus com  altivez, rezando em voz alta, de pé, enumerando as suas qualidades. Não é como os ladrões, injustos e adúlteros. Para garantir o seu mérito perante Deus jejua duas vezes por semana ( a obrigação era uma vez por ano, no dia do Yom Kippur) e paga o dízimo escrupulosamente, pagando mais do que o devido, compensando  os sonegadores que já existiam naquele tempo..(era, como se dizia uma “alma reparadora”. Exalta as suas virtudes, mas não fala de caridade para com  o próximo, nem fala da misericórdia de Deus porque não precisa, pois observa a Lei. Considera-se um credor de Deus.
O publicano é o oposto do fariseu. Sendo cobrador de impostos era acusado de extorsão,  corrupção e traição do povo judeu, já que trabalhavam com o poder opressor.
A atitude do publicano diante de Deus choca-se frontalmente com a do fariseu. Reconhece-se pecador, não tem coragem de levantar os olhos, bate no peito e pede piedade(v.13). Tem consciência de que se Deus não usar de misericórdia com ele, está  perdido.
A conclusão de Jesus, que conhece o íntimo das pessoas, mostra que o pecador voltou para casa justificado(perdoado), e não o fariseu, que se propunha como modelo de piedade a ser imitado.  Com o não reconhecer aqui um eco do Magnificat?
A oração do fariseu é inautêntica por causa do rigor  na aplicação da Lei, indo muito além do que ele prescrevia. Ele crê que Deus se sinta mais que obrigado a recompensá-lo. É ina autêntica porque cria laços entre as pessoas, duvidando que a oração do publicano possa cancelar o pecado de injustiças. Além disso cria a ideia de um Deus feito à sua imagem e  semelhança. É inautêntica ainda porque não deixa margem para a gratuidade. Rezar é acolher o dom de Deus, oferecido gratuitamente em Jesus.
A oração do publicano é autêntica, pois nasce da sua  miséria e condição de pecador. Sabe-se devedor de Deus e às pessoas. Reconhece que, se não houver um Deus misericordioso, ele está perdido. Assim ele mergulha no mistério de Deus, que não quer a morte  do pecador, mas sim que se converta e viva (Lc 15,7; Jo 8,11).


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