A MISERICÓRDIA
DE DEUS É QUE JUSTIFICA O PECADOR
Introdução
No ano que chega ao fim pudemos
perceber que muitos brasileiros invocam o nome de Deus, vão às missas, criam uma religião ao
sabor de seus interesses para acobertar
os desmandos que cometem e as vidas que eliminam impunemente. No fundo nada
fazem senão repetir a velha tática de querer manipular a Deus, consideram-se
piedosos e homens de igreja, tentando ganhar simpatias e cargos para continuar
explorando e matando.
Ritos e funções religiosas não
convencem a Deus. Mais. Segundo a leitura
de hoje, Deus detesta ofertas, ritos, orações e celebrações que procuram
“comprar” a Deus, pois só ele e não nossas ações pode julgar. Deus se agrada daquele que o serve,
servindo o próximo e repartindo com ele
o que tem, como dizemos: “ é pouco, mas é de coração”.
Sabemos, por experiência, que o
sistema judiciário no Brasil é uma piada: a justiça se compra e se vende. Os
juízes julgam ao sabor das ideologias, emoções, propinas e partidos.
Primeira leitura ( Eclo
35,12-14.16-18)
Segundo o Eclesiástico “não
adianta querer corromper a Deus com doações e sacrifícios” (v.35,11); porque “ o Senhor é teu juiz e ele não faz distinção de pessoas” (v.12); a única condição que o comove é a pobreza, é a
necessidade do ser humano.
Deus é justo porque se enternece
diante do pobre. Quando se apresenta diante dele alguém que não tem merecimento
algum para mostrar, alguém que só pode contar com suas misérias, ele se comove
e sempre pronuncia uma sentença de salvação.
Segunda leitura (2Tm 4,6----8,16-18)
Poucos meses antes de morrer,
Paulo, encarcerado em Roma, escreve ao seu amigo Timóteo, seu amigo de trabalho
na obra da evangelização e na formação
das primeiras comunidades. Sente que já está se aproximando o dia em que deve
deixar este mundo. O seu sangue “está para ser derramado como libação e chegou
a hora de desfraldar as velas”(v,6). Como é natural nestas horas, ele faz uma
avaliação de toda a sua vida. Ele constata que foi um bom atleta submetendo-se
a todos os sacrifícios e empregando todas as energias pela causa certa, o
evangelho. Assim como os atletas que
venciam no estádio recebiam uma coroa assim, espera Paulo, que Deus lhe
entregará também a ele uma coroa que aliás será “oferecida a todos aqueles que
aguardam com amor a sua manifestação”(v,8).
Paulo foi um grande evangelizador
e também um grande teólogo. Evangelizava não somente com palavras mas
partilhando a sua experiência de Deus. Evangelizar é precisamente partilhar uma
experiência que o evangelizador tem de Deus.
Evangelho (Lc 18,9-14)
Para manifestar o seu pensamento,
Jesus usou diversas parábolas. A parábola é um jogo sutil de comunicação que
visa envolver os ouvintes, sem
ofendê-los, mas levá-los a tomar uma posição. Não se destina tano ao
povo simples, como se pensa, mas aos líderes da sociedade. Também não é
propriamente um ensinamento, mas uma janela para um mundo novo.
Os personagens da parábola de
hoje são: um fariseu e um publicano. Os fariseus formavam uma espécie de
irmandade (eram cerca de 6.000 no tempo de Jesus), observavam rigorosamente a
Lei. Viviam separados do “zé povinho”. O publicanos cobravam os impostos no
lugar dos romanos. Dividiam-se em duas classes: os chefes dos publicanos como
Zaqueu e os subordinados. Os primeiros eram ricos os outros remediados. Como
trabalhavam para Roma eram odiados pelos judeus.
Um fariseu e um publicano vão ao
templo para rezar. Ambos buscam entrar em comunhão com Deus mediante a oração.
Entre os dois há um contraste muito forte, seja quanto ao comportamento, seja
quanto à ideia de religião e oração. Uma
é falsa e a outra verdadeira. Os fariseus se consideravam justos perante Deus.
Desprezavam os que não conheciam a Lei e os que não fossem como eles.
O fariseu da parábola tem a
consciência de não ser como o resto das pessoas e por isso se dirige a Deus
com altivez, rezando em voz alta, de pé,
enumerando as suas qualidades. Não é como os ladrões, injustos e adúlteros.
Para garantir o seu mérito perante Deus jejua duas vezes por semana ( a
obrigação era uma vez por ano, no dia do Yom Kippur) e paga o dízimo
escrupulosamente, pagando mais do que o devido, compensando os sonegadores que já existiam naquele tempo..(era,
como se dizia uma “alma reparadora”. Exalta as suas virtudes, mas não fala de
caridade para com o próximo, nem fala da
misericórdia de Deus porque não precisa, pois observa a Lei. Considera-se um
credor de Deus.
O publicano é o oposto do
fariseu. Sendo cobrador de impostos era acusado de extorsão, corrupção e traição do povo judeu, já que
trabalhavam com o poder opressor.
A atitude do publicano diante de
Deus choca-se frontalmente com a do fariseu. Reconhece-se pecador, não tem
coragem de levantar os olhos, bate no peito e pede piedade(v.13). Tem
consciência de que se Deus não usar de misericórdia com ele, está perdido.
A conclusão de Jesus, que conhece
o íntimo das pessoas, mostra que o pecador voltou para casa
justificado(perdoado), e não o fariseu, que se propunha como modelo de piedade
a ser imitado. Com o não reconhecer aqui
um eco do Magnificat?
A oração do fariseu é inautêntica
por causa do rigor na aplicação da Lei,
indo muito além do que ele prescrevia. Ele crê que Deus se sinta mais que
obrigado a recompensá-lo. É ina autêntica porque cria laços entre as pessoas,
duvidando que a oração do publicano possa cancelar o pecado de injustiças. Além
disso cria a ideia de um Deus feito à sua imagem e semelhança. É inautêntica ainda porque não deixa
margem para a gratuidade. Rezar é acolher o dom de Deus, oferecido
gratuitamente em Jesus.
A oração do publicano é
autêntica, pois nasce da sua miséria e
condição de pecador. Sabe-se devedor de Deus e às pessoas. Reconhece que, se
não houver um Deus misericordioso, ele está perdido. Assim ele mergulha no
mistério de Deus, que não quer a morte
do pecador, mas sim que se converta e viva (Lc 15,7; Jo 8,11).
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