FÉ E GRATUIDADE
CONSTROEM UM MUNDO NOVO
Primeira leitura (Hab 1,2-3;
2,2-4)
Habacuc vive aproximadamente 600
anos a.C. O poder político está nas mãos de
Joaquim que gosta do luxo; das festas, dos grandes palácios, mas que não
tem competência para governar.
O povo dirige-se ao profeta para
que ele interceda junto a Deus para mudar a situação. Mas Deus se cala. Habacuc
tem a ousadia de pedir contas a Deus pelo seu silêncio. Depois se cala e
espera. Também nós nos voltamos a Deus e
nos perguntamos porque e até quando
tolerará a injustiça, a opressão contra os fracos, a condenação dos inocentes,
a morte de uma criança, o sofrimento dos justos?
É que nós esperamos que Deus
intervenha com um milagre. Ilusão. Os acontecimentos do mundo tem a sua causa natural ou são provocados pelo homem:
uma e outra tem as sua autonomia. A finalidade da religião não é modificar a
criação ou mudar os planos de Deus. Abrir o nosso coração, ajuda-nos a superar
as nossas expectativas e crer que Deus age na história sem alterar as suas
leis.
Segunda leitura ( 2Tm
1,6-8.23-14)
A segunda carta a Timóteo é
endereçada sobretudo àqueles que, na comunidade cristã, exercem o ministério da
presidência. O autor pede que Timóteo “reavive a chama do dom de Deus que
recebeu pelas mãos de Paulo”(v.6).
De modo semelhante o cristão deve
reavivar o amor que, o dia do batismo, foi aceso nele pelo Espírito. Diante das múltiplas
dificuldades e distrações da vida, o entusiasmo pode diminuir. Para não fraquejar
diante do desânimo, é necessário renovar o compromisso e relembrar as escolhas
fundamentais da vida.
Na segunda parte Paulo recomenda que o presidente da comunidade
esteja vigilante para que não sejam introduzidas doutrinas errôneas.
Esta exortação não deve ser
confundida com o imobilismo espiritual. Não podem ser ignoradas as novas
interpretações da bíblia. Mão são desvios da fé as novas explicações do Evangelho que o tornam mais
compreensível e mais próximo da nossa vida. Não constituem uma infidelidade à
tradição as novas formas litúrgicas, os
novos textos de catequese, a atualização
mais atualizada da vida das comunidades.
Por exemplo: uma é a expressão da fé da criança, outra é a fé adulta,
esclarecida inteligente.
Não devemos, portanto, confundir
a fidelidade ao “depósito da fé” com a
exata repetição e sempre idêntica de
fórmulas, às vezes incompreensíveis, e de gestos litúrgicos que talvez hoje não
nos conseguem dizer mis nada. A nossa não é uma fidelidade morta, mas viva e
sempre em crescimento, por obra do Espírito.
Evangelho (Lc 17,5-10)
O evangelho de hoje contém passagens
difíceis sobretudo para quem interpreta as palavras de Jesus em sentido
literal.
Os discípulos pedem a Jesus que
lhes aumente a fé. É preciso esclarecer que a fé não é adesão a um elenco de
verdades, mas é, sobretudo, confiança: viver a partir de Deus e para Deus, no
sentido da palavra de Sto.Agostinho: “Fizeste-nos para ti, Senhor e inquieto
está o nosso coração até que descanse em vós.”
A fé do cristão envolve uma
escolha concreta: o seguimento que pode ser mais decidido ou menos, pode ser
interrompido, envolvido em dúvidas, não querer abandonar certos hábitos, recuar
diante de exigências dolorosas... aí está uma fé ainda fraca, que precisa de
reforço. O motivo é que Jesus falara de entrar pela porta estreita(Lc13,24); “odiar” o pai e a mãe (Lc 14,26); perdoar sem limites e sem condições
(Lc 17,5-6)....
Os apóstolos sentem que estão
vacilando, sentem-se tentados a voltar atrás: “Isto é muito duro! Quem o pode
admitir?”. Daí o pedido de socorro : “aumenta a nossa fé”. Jesus em vez de
atendê-los começa a descrever em linguagem simbólica as maravilhas que a
fé pode produzir. Fala do sicômoro que ninguém consegue
arrancar. A fé, entretanto o consegue.
Mateus e Marcos falam de uma montanha que com um pouco de fé pode ser
transportada ao mar. São hipérboles: nunca, ninguém, nem Jesus, conseguiu tal
proeza! A fé não é um recurso para obter milagres. A fé não desloca nenhum
objeto material.
O que produz então a fé, embora
seja ainda pequena. Se a mesma for entendida só como uma vaga crença nas coisas do além, então produz pouco ou
nada. Se, ao invés, é uma adesão firme e radical à proposta do Mestre, se
conduz a um compromisso concreto de vida, então os resultados são
extraordinários. A fé é capaz de
eliminar ódios, rancores, reconciliar pessoas, povos, raças, tribos e nivelar
montanhas, morais e sobretudo culturais.
A segunda parte do evangelho,
parece, no mínimo de mau gosto. Um empregado, após uma dura jornada de trabalho
chega em casa esgotado. O patrão em vez de convidá-lo a sentar-se à mesa e
comer alguma coisa trata-o asperamente. Vamos, depressa! Sirva-me a ceia,
cinge-te e serve-me, enquanto como e bebo, e depois disso tu comerás e beberás.
Sendo que o patrão representa
Deus e os servos somos nós, temos motivos para ficar preocupados: no fim da
nossa vida, seremos recebidos “com
tantas gentilezas”?
A maioria dos cristãos espera que
se levarem uma vida decente, observarem os mandamentos, serão recompensados um
dia. Deus não esquecerá os sacrifícios e as lágrimas, os gestos de amor e de
solidariedade dos seus servos fiéis. Serão recompensados...
A parábola do patrão exigente
quer eliminar a “religião dos merecimentos”: fazer uma boa obra para marcar um
ponto.... Esta é uma religião egoísta....
A última frase do evangelho tem a
mesma mensagem: mesmo quando tiver feito tudo o que lhe foi ordenado, o homem
deve repetir: “ sou um servo inútil; só cumpri com o meu dever”. A expressão
dura usada por Jesus é uma outra maneira de condenar a “religião dos méritos”.
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