VIGÉSIMO SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C




FÉ E GRATUIDADE CONSTROEM UM MUNDO NOVO

Primeira leitura (Hab  1,2-3; 2,2-4)

Habacuc vive aproximadamente 600 anos a.C. O poder político está nas mãos de  Joaquim que gosta do luxo; das festas, dos grandes palácios, mas que não tem  competência para governar.
O povo dirige-se ao profeta para que ele interceda junto a Deus para mudar a situação. Mas Deus se cala. Habacuc tem a ousadia de pedir contas a Deus pelo seu silêncio. Depois se cala e espera.  Também nós nos voltamos a Deus e nos perguntamos porque  e até quando tolerará a injustiça, a opressão contra os fracos, a condenação dos inocentes, a morte de uma criança, o sofrimento dos justos?
É que nós esperamos que Deus intervenha com um milagre. Ilusão. Os acontecimentos do mundo tem a sua  causa natural ou são provocados pelo homem: uma e outra tem as sua autonomia. A finalidade da religião não é modificar a criação ou mudar os planos de Deus. Abrir o nosso coração, ajuda-nos a superar as nossas expectativas e crer que Deus age na história sem alterar as suas leis.

Segunda leitura ( 2Tm 1,6-8.23-14)

A segunda carta a Timóteo é endereçada sobretudo àqueles que, na comunidade cristã, exercem o ministério da presidência. O autor pede que Timóteo “reavive a chama do dom de Deus que recebeu pelas mãos de Paulo”(v.6).
De modo semelhante o cristão deve reavivar o amor que, o dia do batismo, foi aceso nele  pelo Espírito. Diante das múltiplas dificuldades e distrações da vida, o entusiasmo pode diminuir. Para não fraquejar diante do desânimo, é necessário renovar o compromisso e relembrar as escolhas fundamentais da vida.
Na segunda parte  Paulo recomenda que o presidente da comunidade esteja vigilante para que não sejam introduzidas doutrinas errôneas.
Esta exortação não deve ser confundida com o imobilismo espiritual. Não podem ser ignoradas as novas interpretações da bíblia. Mão são desvios da fé as novas  explicações do Evangelho que o tornam mais compreensível e mais próximo da nossa vida. Não constituem uma infidelidade à tradição as novas formas litúrgicas,  os novos textos  de catequese, a atualização mais atualizada  da vida das comunidades. Por exemplo: uma é a expressão da fé da criança, outra é a fé adulta, esclarecida inteligente.
Não devemos, portanto, confundir a fidelidade  ao “depósito da fé” com a exata repetição e sempre idêntica  de fórmulas, às vezes incompreensíveis, e de gestos litúrgicos que talvez hoje não nos conseguem dizer mis nada. A nossa não é uma fidelidade morta, mas viva e sempre em crescimento, por obra do Espírito.

Evangelho (Lc 17,5-10)

O evangelho de hoje contém passagens difíceis sobretudo para quem interpreta as palavras de Jesus em sentido literal.
Os discípulos pedem a Jesus que lhes aumente a fé. É preciso esclarecer que a fé não é adesão a um elenco de verdades, mas é, sobretudo, confiança: viver a partir de Deus e para Deus, no sentido da palavra de Sto.Agostinho: “Fizeste-nos para ti, Senhor e inquieto está o nosso coração até que descanse em vós.”
A fé do cristão envolve uma escolha concreta: o seguimento que pode ser mais decidido ou menos, pode ser interrompido, envolvido em dúvidas, não querer abandonar certos hábitos, recuar diante de exigências dolorosas... aí está uma fé ainda fraca, que precisa de reforço. O motivo é que Jesus falara de entrar pela porta estreita(Lc13,24); “odiar” o pai e a mãe (Lc 14,26); perdoar sem limites e sem condições (Lc 17,5-6)....
Os apóstolos sentem que estão vacilando, sentem-se tentados a voltar atrás: “Isto é muito duro! Quem o pode admitir?”. Daí o pedido de socorro : “aumenta a nossa fé”. Jesus em vez de atendê-los começa a descrever em linguagem simbólica as maravilhas que a fé  pode produzir.  Fala do sicômoro que ninguém consegue arrancar. A fé, entretanto o consegue.  Mateus e Marcos falam de uma montanha que com um pouco de fé pode ser transportada ao mar. São hipérboles: nunca, ninguém, nem Jesus, conseguiu tal proeza! A fé não é um recurso para obter milagres. A fé não desloca nenhum objeto material.
O que produz então a fé, embora seja ainda pequena. Se a mesma for entendida só como uma vaga crença  nas coisas do além, então produz pouco ou nada. Se, ao invés, é uma adesão firme e radical à proposta do Mestre, se conduz a um compromisso concreto de vida, então os resultados são extraordinários.  A fé é capaz de eliminar ódios, rancores, reconciliar pessoas, povos, raças, tribos e nivelar montanhas, morais e sobretudo culturais.
A segunda parte do evangelho, parece, no mínimo de mau gosto. Um empregado, após uma dura jornada de trabalho chega em casa esgotado. O patrão em vez de convidá-lo a sentar-se à mesa e comer alguma coisa trata-o asperamente. Vamos, depressa! Sirva-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto como e bebo, e depois disso  tu comerás e beberás.
Sendo que o patrão representa Deus e os servos somos nós, temos motivos para ficar preocupados: no fim da nossa vida, seremos recebidos  “com tantas gentilezas”?
A maioria dos cristãos espera que se levarem uma vida decente, observarem os mandamentos, serão recompensados um dia. Deus não esquecerá os sacrifícios e as lágrimas, os gestos de amor e de solidariedade dos seus servos fiéis. Serão recompensados...
A parábola do patrão exigente quer eliminar a “religião dos merecimentos”: fazer uma boa obra para marcar um ponto.... Esta é uma religião egoísta....
A última frase do evangelho tem a mesma mensagem: mesmo quando tiver feito tudo o que lhe foi ordenado, o homem deve repetir: “ sou um servo inútil; só cumpri com o meu dever”. A expressão dura usada por Jesus é uma outra maneira de condenar a “religião dos méritos”.
















Comentários