VIGÉSIMO QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C



              DEUS NÃO ABANDONA SEU POVO


Primeira leitura ( Ex 32,7-11.13-14)

Os povos do antigo Oriente eram agricultores e criadores de gado. A religião deles incluía cerimônias nas quais predominava a figura do touro, símbolo da força e da fecundidade, para  garantir colheitas abundantes e rebanhos férteis.
Por incrível que pudesse parecer, o povo de Israel, poucas semanas após a saída do Egito, não obstante a proibição de fazer imagens (Ex 24,4), também recorreu à magia, fazendo um bezerro de ouro,  símbolo da força e do poder de Deus.
Descendo da montanha, Moisés ouviu do Senhor estas palavras: “Deixa, pois, que se acenda a minha cólera contra este povo e o reduzirei a nada; mas de ti farei uma grande nação”(v.10). Moisés, porém, assume a atitude característica dos profetas que intercedem pelo povo (1Sm 12,19.23; Am 7,2-3).Moisés põe Deus contra a parede. A primeira coisa que lhe recorda, é que o povo pertence exclusivamente a Deus. Assim sendo, o processo de libertação não pode ser abandonado. Se Deus faz perecer o povo, já não é o Deus libertador. Aí está  em jogo o próprio  ser de Deus e seu compromisso com a obra que iniciou.
Moisés solidariza-se com Israel, arriscando ser destruído com ele. E agora o que Javé irá fazer? Como ficam as promessas feitas a Abraão, Isaac e Jacó (v.13)? Isto tudo revela  o rosto do Deus libertador: a partir da  dúvidas e da ousadia de Moisés, ele se revela como o Deus que não abandona o seu povo.

Segunda leitura (1Tm 1,12-17)

Havia conflitos entre as lideranças da comunidade de Éfeso que haviam se deixado contaminar pelo vírus que ronda sobretudo as hierarquias: o poder que faz a cabeça das lideranças, levando-as a se considerar invulneráveis, donas do saber, que sempre tem razão. Incapazes de reconhecer os próprios limites e erros, não tem misericórdia com os outros.
A partir de  sua experiência, Paulo  tenta iluminar essas questões. Em primeiro lugar afirma que Jesus confia no pecador, chamando-o a seu serviço não porque seja perfeito, ou porque um dia venha a sê-lo, mas porque Deus é bom. Foi o que aconteceu com Paulo: no passado era blasfemador, perseguidor e insolente, mas Deus teve misericórdia e desconsiderou este passado.
A síntese do texto de hoje está no v.15:  “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro”. Paulo se considera o menor dos apóstolos. Nele, contudo, Deus pôde demonstrar toda a sua misericórdia.  Se alguém como ele, inimigo da fé, “o primeiro entre os pecadores” conseguiu misericórdia, poderá alguém ainda ter medo de que Deus o trate com severidade?
Como é possível que Deus castigue os maus se Jesus veio justamente para salvá-los?  Mas e se tivessem cometido pecados extremamente horríveis? Pois nem mesmo neste caso poderiam se livrar de seu amor.

Evangelho(Lc 15,1-32)

No evangelho deste domingo nos são propostas as  “parábolas da misericórdia”. É importante registrar que os destinatários das parábolas não são os publicanos e pecadores, mas os fariseus e escribas, portanto “os justos”. A intenção de Jesus é mostrar o verdadeiro rosto do Pai. Em nome dele Jesus não somente aceita os convites dos pecadores, mas acolhe tranquilamente estas pessoas em sua casa.
Os fariseus e os escribas estão escandalizados porque os rabinos recomendavam: “Ninguém deve se juntar aos ímpios, nem mesmo para seguir a lei de Deus. Nas três parábolas se organiza uma festa, mas nem todos participam dela.
Os pecadores  eram “desgarrados”, eram como moedas e como ovelhas perdidas, mas agora estão todos perto de Jesus, permanecem em casa com ele, estão festejando, comem alegremente com ele. Quem está precisando de um convite para a conversão, agora, não são eles , mas os “justos”. São os “justos” as noventa e nove ovelhas, as nove dracmas, o filho mais velho, que correm o risco de perder a festa, que não entendem o que está acontecendo, que são surpreendidos pela novidade.
A ovelha desgarrada”(vv,4-7). Deixar as noventa e nove ovelhas e ir em busca da centésima não é lógico. Este pastor evidentemente não pensa com a cabeça, mas com o coração. Mas é justamente esta falta de lógica que revela o sentido da parábola. A atitude de Jesus, que dá acolhida aos pecadores e come com eles, revela uma face de Deus que os fariseus não podem aceitar: é escandalosa.
Ensinavam os rabinos: o Senhor se alegra com a ressurreição dos justos e com a ruína dos ímpios. Jesus, ao contrário, proclama que ele se alegra com a ressurreição dos ímpios: “Haverá mais alegria no céu por um pecador que fizer penitência do que por noventa e nove  justos que não necessitam de arrependimento”(v.7). Não é um convite para pecar, mas para reconhecer-nos todos pecadores diante de Deus. Ninguém é “justo”.  O Deus que retribui exatamente na proporção dos méritos, só existe na cabeça dos fariseus (de ontem e de hoje). O Deus de Jesus é aquele que salva a todos que não “quer que se perca que se perca nenhum destes pequenos (Mt 18,14).
A moeda  perdida(vv.8-10). A mulher que havia perdido uma moeda explode de alegria incontida quando a encontra e faz uma festa para a qual convida as amigas e as vizinhas. Como na primeira parábola há um exagero no encontro da moeda e na festa que se segue. É a imagem de Deus que não se resigna a perder uma só das suas criaturas e que não se senta  à mesa do banquete eterno senão depois que o último dos seus filhos tenha entrado em casa.
 Notável mudança da imagem de Deus: não é mais  o homem que procura a Deus mas é Deus que procura do homem; é ele que vai em busca de quem se perdeu.
A parábola do “filho pródigo” que Jesus contará logo em seguida, colocará em evidência o respeito de Deus pela liberdade do homem. O pai não obriga o filho a permanecer em casa e menos ainda  o força a voltar. Sabe esperar.


Não vou repetir o comentário desta parábola que já foi explicada no quarto domingo da quaresma.

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