A
LIBERTAÇÃO NÃO SE ESPERA, CONSTRÓI-SE
Primeira leitura ( Sb 18,
6-9)
Todos os povos celebram
acontecimentos e feitos heroicos para manter viva a memória de seu passado e
garantir a sua identidade, porque um povo sem memória perde a sua identidade.
Também o povo de Israel celebra o
seu passado feito de mitos e lendas atribuídas a Deus, como garantia da
presença de Deus no hoje de sua história. Assim a saída do Egito, a passagem do
mar, O maná, o deserto, a água brotando da rocha, a serpente de bronze, a entrada na terra
prometida, marcada pelo cerco de Jericó, embora lendárias, foram
incorporadas na consciência histórica do
povo e sempre lembrados para garantir a identidade e a confiança na presença de
Deus. Eis porque decidiram reunir-se, todos os anos, para celebrar, na noite de
páscoa, estes acontecimentos “gloriosos”.
Também nós cristãos temos um
acontecimento que comemoramos todos os domingos, a ressurreição de Jesus, e o
tornamos presente porque nele Deus manifestou todo o seu amor e toda a sua
fidelidade.
Segunda Leitura (Hb 11,1-2.18-19)
Quarenta anos depois da morte de
Jesus, Jerusalém e seu maravilhoso templo são destruídos. Muitos judeus fogem e
se dispersam pelo mundo. Alguns deles abraçam a fé cristã, mas se sentem
desanimados e se perguntam por que eles, o povo eleito, foi golpeado por tantas
catástrofes, injustiças e desgraças.
O capítulo 11 é dedicado à fé.
Começa dizendo que “a fé é o fundamento da esperança, é uma certeza daquilo que
não se vê” (v.1). Em seguida, cita o dois modelos de fé: Abraão e Sara. À
Abraão Deus promete uma terra desconhecida, onde teria uma posteridade como as
estrelas do céu.
Também Sara, contra todas as
evidências humanas, acreditou que teria um filho. No entanto um e outra
morreram sem ter visto o cumprimento da
promessa. Tiveram um único filho. Não uma multidão. Só após setecentos anos seus filhos, ou seja,
seus descendentes, se estabeleceram na terra prometida. Aí está: Abraão e Sara
só viram um pequeno sinal, um início
da realização das promessas: um filho fraco e uma terra vista só de longe; mas
não obstante isso, acreditaram.
Também nós como os judeus aos
quais foi endereçada a carta, somos levados ao desânimo. Esperamos com
ansiedade que se realizem as promessas de libertação, e a paz anunciadas por
Jesus. Em vez disso, vemos a ganância, corrupção endêmica, a banalização da
vida e o planeta em perigo de extinção. A exemplo de Abraão e Sara é preciso esperar
contra toda esperança e nos comprometer a trabalhar pela libertação.
Evangelho (Lc 12,32-48)
A parábola do domingo passado, que tratava do fim infeliz do rico agricultor
pode ter deixado uma impressão muito forte e os discípulos com medo. Parece-me
que os erros cometidos por ele são dois: “não se enriqueceu diante de Deus” e
depois deixou-se abater pela surpresa da morte.
Jesus responde à primeira
pergunta: como se pode “ser ricos diante de Deus”? É muito simples, afirma
Jesus, “vendei o que possuis e dai esmola”.
Se o homem da parábola tivesse
escutado a palavra de Deus, teria descoberto o segredo de transferir para os
“paraísos fiscais” os seus capitais: distribuí-los para os pobres (Cf.tb 4,7-11;Eclo 29,8-13). Um velho provérbio diz: “Quem dá aos pobres,
empresta a Deus”. De fato, assim é: “o homem passa como uma sombra, e é em vão
que ele se agita; amontoa, sem saber quem recolherá” (Sl 39,7). Melhor, muito melhor é guardá-los no céu, onde os ladrões
não chegam e onde a traça nos os corrói.
`A segunda pergunta Jesus
responde com três parábolas
1.A primeira (vv,35-38). Um senhor viaja para uma festa de casamento
e deixa em casa os seus empregados que não sabem quando o senhor voltará, por
isso devem ficar vigilantes: lâmpadas acesas, rins cingidos (preparados para a
luta) e a túnica dobrada. Nem pensar em comes e bebes: devem estar preparados
para responder a todas as solicitações que lhes forem feitas. A vida dos
discípulos é, portanto, uma espera
vigilante uma permanente
disponibilidade para o serviço.
O rico latifundiário errou em
tudo: Não foi um servo, mas um senhor, não foi vigilante durante o serviço, só
exigiu ser servido!
2.A segunda parábola (vv. 39-40) alerta contra o ladrão que não
avisa, mas chega de repente. Estranha parábola: parece sugerir que o Senhor nos
espreita para nos pegar de surpresa. Se esta fosse a interpretação não seria
uma “boa notícia”, não seria um evangelho.
É verdade que nós encontraremos o
Senhor no fim da nossa vida. Aquela será, sem dúvida, a mais importante de suas
vindas e é necessário estar preparados. A morte, porém, geralmente não chega de
repente: é precedida por sinais bem claros: velhice, doença, dores.... Há,
porém, outras vindas do Senhor que acontecem de repente, como as dos ladrões e
que podem nos pegar de surpresa. Lembremos Mt
25: o pobre, o faminto, o doente, o prisioneiro são “visitas” do Senhor.
“Tudo o que fizerdes por eles é por mim que o fazeis”.
Na parábola de domingo passado o
rico latifundiário não foi surpreendido só pela última vinda do Senhor. Durante
toda a vida ele foi distraído, nunca lhe deu acolhida.
3.A terceira parábola constitui a resposta de Jesus a pergunta de
Pedro que lhe pergunta quem deve mantar-se vigilante. Todos, respondeu o Mestre,
devem vigiar mas sobretudo aqueles que na comunidade são os responsáveis por
algum ministério (1Pd 4, 10-11).
Há dois tipos de administradores:
um fiel e prudente, o outro negligente e arrogante. O Senhor os estabeleceu
sobre seus operários “para lhes dar a seu tempo a sua medida de trigo” (v.42).
Não lhes deu autoridade para dominar, mas para servir. Administrador fiel é,
por exemplo, aquele que durante a
semana já prepara a liturgia do domingo.
Há outros servidores que em vez
de se considerar servos, assumem o papel de senhores: são orgulhosos e
autoritários, desperdiçam os bens da comunidade, entregam-se a todo tipo de
farra possível. Ai desses animadores comunitários, diz Jesus, a
responsabilidade deles é muito grande e a prestação de contas será muito severa
para eles.
Os dirigentes das nossas
comunidades façam um sério exame de consciência e verifiquem que tipo de
administradores são eles: agem como servos ou como senhores? São vigilantes ou
estão dormitando e permitindo que a comunidade se arraste de qualquer maneira,
sem entusiasmo, sem vida, sem interesse
pelo Senhor que está chegando.
Bela reflexão padre José! Que Deus nos inspire a fidelidade e vigilância! Edlamar
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