DÉCIMO TERCEIRO DOMINGO COMUM – ANO C



              É FÁCIL SEGUIR JESUS?
Primeira leitura ( 1Rs 19,16b.19-21)
A leitura de hoje versa sobre Elias e Eliseu. Eliseu estava arando a terra. Elias se aproxima, toma seu próprio manto e o  coloca nos ombros de Eliseu, sem dizer uma palavra (daí a expressão “jogar a toalha”). Naquele tempo o manto era considerado como parte da pessoa que o usava. Acreditava-se que a força e os poderes extraordinários do seu proprietário estivessem concentrados nele. De fato, com o manto de Elias, Eliseu realizará feitos extraordinários, semelhantes aos do seu mestre (2 Rs 2,14).
Chegando em casa Eliseu tomou uma junta de bois e imolou-os; queimou os aparelhos de sua antiga profissão e, nesse mesmo braseiro, achou um churrasco e deu-o de comer à sua gente (v.21). Este gesto é muito significativo. Mostra que ele está decidido a abandonar tudo. Renunciou definitivamente à vida de agricultor e abraçou uma nova profissão: ser profeta para seguir Elias. De modo semelhante , o chamado à vida cristã é um apelo para assumir um ministério na sua própria comunidade.
É também muito significativo o modo como Eliseu rompe com o seu passado. Quem é chamado para a vida cristã deve “queimar” decididamente todos os laços com a vida pagã: corrupção, mentira, ganância de bens materiais.
Segunda leitura (Gl 5,1.13-18)
“É para sejamos livres que Cristo nos libertou... e portanto não nos submetais outra vez ao jugo da escravidão” (v.1).  Os gálatas abraçaram o cristianismo com entusiasmo, mas como eram muito ingênuos se deixaram levar por alguns fanáticos que os levavam a observar  as prescrições e disposições da lei de Moisés em vez de observar o único mandamento que tem valor para um cristão: o amor fraterno, síntese de toda a Lei (vv.13-14).
Mas ser livre não significa que cada um pode fazer o que bem entender.  “Não abuseis da liberdade como pretexto para prazeres carnais” (v.13).
Alguém pode imaginar Deus como um soberano severo, intransigente e exigente, que impõe a seus súditos as suas leis definidas e claras. Deus não é patrão.
A bíblia nos ensina que as nossas relações com Deus não são as do servo, mas as de esposa que segue como única norma os seus impulsos de amor, ou como a mãe que ama o filho naturalmente. É esta a liberdade da qual nos fala Paulo: a liberdade iluminada pelo amor, como a da esposa ou da mãe.
Evangelho (Lc 9,51-62)
Seguir Jesus é o coração da vida cristã. É o essencial. Não há nada mais importante ou decisivo. No começo o movimento de Jesus se chamava “O Caminho”. Infelizmente a palavra “seguimento” sumiu do vocabulário cristão. Neste sentido Lucas descreve três pequenas cenas, para que as comunidades que lerem o seu evangelho tomem consciência de que, aos olhos de Jesus, nada pode haver de mais urgente e inadiável.
Jesus emprega palavras duras e escandalosas. Vê-se que ele quer sacudir as consciências. Não faz questão de ter muitos seguidores, mas sim seguidores mais comprometidos que o sigam sem reservas, renunciando a falsas seguranças e assumindo as rupturas necessárias. Suas palavras colocam, no fundo, uma única questão: que relação queremos estabelecer com Ele nós que nos dizemos seguidores seus.
Primeira cena. Um dos que acompanham Jesus sente-se tão atraído por Ele que, antes de ser chamado, toma ele próprio a iniciativa: “Eu te seguirei  para onde fores”. Jesus o faz tomar consciência do que está dizendo: “As raposas tem tocas e os pássaros tem ninhos”, mas Ele “não tem onde reclinar a cabeça”.
Seguir Jesus é toda uma aventura. Ele não oferece segurança ou bem estar aos seus. Não ajuda a ganhar dinheiro ou adquirir poder. Seguir Jesus é “viver a caminho”, sem instalar-se no vem estar ou sem buscar um falso refúgio na religião. Uma Igreja menos poderosa e mais vulnerável não é uma desgraça. É o melhor que nos pode acontecer para purificar nossa fé e confiar mais em Deus.
Segunda Cena. Outro está disposto  a segui-lo, mas pede-lhe que o deixe cumprir primeiro  com a obrigação sagrada de “enterrar seu pai”. A resposta de Jesus é desconcertante: “Deixe que os mortos enterrem os mostos”, tu vais anunciar o reino de Deus”. Trata-se naturalmente de uma hipérbole que não deve ser lida ao pé da letra.
Abrir caminhos para  o reino de Deus trabalhando por uma vida mais humana é sempre a tarefa mais urgente. Nada deve atrasar nossa decisão. Ninguém nos deve reter ou frear. Os “mortos” que não vivem a serviço do reino da vida, já se dedicarão a outras obrigações menos prementes do que o reino de Deus e sua justiça.
Terceira cena. A um terceiro, que quer despedir-se de sua família antes de segui-lo, Jesus lhe diz: “Aquele que põe a mão no arado e continua olhando para trás não serve para o reino de Deus “(alusão a Eliseu). Não é possível seguir Jesus olhando para trás. Não é possível abrir caminhos para  o reino de Deus permanecendo no passado. Trabalhar no projeto do Pai exige dedicação total, confiança no futuro de Deus e audácia para seguir os passos de Jesus. Quando se sufoca a criatividade ou se mata a imaginação evangélica, quando se controla toda novidade como perigosa e se promove uma religião estática, estamos impedindo o seguimento vivo de Jesus. É o momento de buscar, mais uma vez, “vinho novo em odres novos”. Jesus o pedia.

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