A ORAÇÃO DOS
CRISTÃOS: COMUNHÃO COM O PROJETO DE DEUS
Primeira leitura (Gn 18, 20-32)
Esta primeira leitura fala de
Abrão negociando com Deus que havia decidido destruir Sodoma. O problema era
que em Sodoma morava um sobrinho de Abraão. Este, então, num diálogo espontâneo
e sincero, procura negociar com Deus para salvar o seu sobrinho. “Se em Sodoma
viverem 50 justos, o senhor vai destruir a cidade?” E a pechincha continua: se
forem 40, 30, 20, 10. A estas alturas Abraão ficou com vergonha, pois não havia
nem 10 justos, e a cidade foi destruída.
Esta “história” nos ensina a nos
dirigir a Deus como um amigo como Abraão.
Segunda Leitura (Cl 2,12-14)
S. Paulo nos diz que no céu havia
um livro, no qual estavam registradas todas as nossas “dívidas” que eram, na
verdade, muito elevadas. O que fez Jesus? Pegou este livro, picou-o em
pedacinhos e pregou-o na cruz. Por isso nós não devemos temer mais nada.
“Agora, pois, não há mais nenhuma condenação para os que estão em Jesus Cristo...”
(Rm 8,1).
Evangelho (Lc 11,1-13)
Todos os que acreditam em Deus
rezam para pedir toda espécie de favores. Por que Deus quer que rezemos e
imploremos? O homem não é autônomo, e o mundo criado por Deus precisa ser
consertado a toda hora? Não é ridícula a oração que pede a Deus que mude seus planos
para nos favorecer?
v. 1Um dia Jesus estava num lugar
em oração. Os apóstolos se aproximaram então de Jesus e lhe pediram para ensiná-los
a rezar como o Batista havia ensinado os seus discípulos.
A oração não é somente uma solicitação de
favores. Se o fosse, Jesus não teria tido necessidade de rezar. A oração não é
uma forma de mendicância. Não se pede a Deus que mude a sua vontade, mas que
nos conceda conhecê-la, que nos ajude a identificar-nos com ela, que nos dê a
força e a coragem de segui-la. Também Jesus precisava desta oração.
vv.2-4. Dizem muitos: o Pai-nosso é a mais bela de todas as nossas
orações! Melhor que a Ave-Maria e a Salve rainha, por exemplo. Mas não é assim!
O Pai Nosso não é uma fórmula de oração, superior às outras; é uma síntese de
toda a mensagem cristã. Nas orações reflete-se o conteúdo da própria fé e a
imagem do Deus no qual se acredita. Com efeito, não é suficiente rezar, é
preciso também saber como rezar. Por isso Jesus ensinou aos seus discípulos uma
oração, que deve servir como modelo. Disse-lhe então:
“Quando rezardes, dizei; pai”.
O cristão sabe que seu Deus não é
um patrão exigente, um juiz severo do qual se deve ter medo. O cristão não
precisa de proteção, recomendações ou “padrinhos”. Ele vai diretamente a Deus
porque sabe que ele é pai. Qualquer outra espécie de oração significa que temos
em mente uma imagem de Deus ainda pagã ou herética.
“Santificado seja o vosso nome”
O nome de Deus não é “santificado”
ou glorificado quando são muitos os que o ovacionam com salvas de palmas (Ele
não precisa disso!). Os nossos hinos, as nossas incensações, as nossas
cerimônias solenes nada dão a Deus. O seu nome é glorificado quando a sua
salvação alcança o homem. O homem não tem poder sobre Deus. Nem o pecado o
ofende. O prejudicado do pecado é sempre o próprio pecador.
Um aleijado restabelecido, um
coração libertado do ódio, um pecador que reconquista a felicidade, uma família
que reconstrói a harmonia doméstica “santificam o nome de Deus”, porque fazem a
pessoa exultar num grito de alegria e de gratidão.
“Venha o vosso Reino”
Todas as orações do cristão devem
manifestar o desejo de ver realizado o projeto de Deus. Ao pedirmos que ele
destrua o reino do mal, do ódio, das injustiças, das vinganças, das traições,
nós reassumimos para nós mesmos o compromisso firmado no Batismo de colocar
todas as nossas energias a serviço de Deus para que logo possa manifestar-se o
seu reino de justiça, de amor e de paz.
Quando nós elevamos a Deus o
nosso brado de esperança, não pretendemos, com certeza, exercer a nossa
influência sobre a sua vontade, que já é perfeita. As nossas súplicas não
modificam a Deus, mas modificam o nosso coração e o tornam disponível para dar
acolhida à sua salvação. A oração acelera de fato a santificação do nome de
Deus e a vinda do seu Reino, porque transforma o nosso coração.
“Dai-nos hoje o pão necessário ao
nosso sustento”.
O cristão precisa do pão, isto é, de todas as
coisas necessárias para a vida: o alimento, a roupa, a casa, a saúde...sabemos
também que tudo isso só pode ser obtido mediante o nosso esforço. Para que
rezar então?
A oração não é uma fórmula mágica
que nos consegue gratuitamente, sem esforço e de forma milagrosa, tudo aquilo
que desejamos. O milagre da oração é outro: lembra-nos que devemos procurar o
“´pão” não só para nós mesmos, mas para todos, e nos comunica uma disposição e
uma vontade renovadas para consegui-lo. Não reza bem o Pai Nosso que acumula
bens só para si mesmo.
“Perdoai-nos os nossos pecados,
pois também nós perdoamos”.
Pode-se rezar a Ave Maria ou a
Salve Rainha com ódio no coração, mas não o Pai nosso, pois aí nós pedimos que
Deus nos perdoe na mesma pedida que nós perdoamos. Seria uma incoerência não
perdoar quem espera o nosso perdão. Ou omitir: “perdoai-nos assim como nós....
“E não nos deixeis cair em
tentação”.
A tentação da qual pedimos ser
libertados não se refere às pequenas fraquezas, misérias e imperfeições de
todos os dias, mas ao esquecimento e ao abandono da “lógica do evangelho” para
substituí-la pela “lógica deste mundo”.
vv.5-8: Jesus nos apresenta a
parábola do amigo chato: um sujeito vai pedir a um amigo que lhe empreste três
pães, numa hora inoportuna.
Será que esta história quer
ensinar-nos que é preciso vencer a Deus pelo cansaço? De modo algum. A oração
persistente não modifica a Deus, mas abre a nossa mente, muda o nosso coração
para compreender que não é Deus, mas somos nós que temos que mudar; e isto é
difícil: exige esforços, renúncias, sacrifício para conquistar a adesão
interior à vontade de Deus.
Vv. 9-13: Jesus nos ensina que a
oração é sempre atendida, mas a nossa experiência parece não confirmar esta
afirmação. O problema é que não sabemos orar. Orar significa sair das trevas dos
nossos pensamentos e das nossas paixões para imergir-nos em Deus. Só depois de
termos dialogado com ele é que nossos olhos se abrirão e poderão contemplar o
mundo, os homens e os acontecimentos numa ótica diferente. Fora de nós tudo
continua como antes, mas nós não somos mais os mesmos. O Espírito terá
transformado a nossa mente e o nosso coração e assim a oração terá alcançado o
seu resultado. É bom lembrar que Lucas diz que o Pai dará o Espírito a quem o
pedir.
Mto linda explicação sobre oração, principalmente o 'Pai Nosso', ainda mais qdo cantada pelo senhor... Obrigada pelo envio...
ResponderExcluirBela explicaço ajuda a enriquecer nossa oraçao.Que o EspiritoSanto continue sempre te iluminando.Muito agradecida.
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