A GANÂNCIA
IMPOSSIBILITA A VIDA
Primeira leitura (Eclo 1,2; 2,21-23)
Pelos anos de 220 a.C., vive em Jerusalém um homem sábio,
que o povo chama de Coélet, isto é, aquele que reúne ao seu redor uma assembleia,
aquele que ensina a sabedoria a numerosos discípulos. Seu livro, o
Eclesiástico, era o livro mais lido pela comunidade cristã primitiva.
Israel vive um “milagre econômico”
... Mas em meio à euforia geral se destaca um indivíduo que medita sobre o ser
humano, sobre o mundo e sobre o sentido da vida. Ele pergunta a si mesmo: Por
que nascemos e morremos? Porque tantas pessoas só pensam em prazeres? Porque
tolos e sábios têm, no fim, o mesmo destino? Vale a pena toda esta agitação se
a vida passa como um sopro, se é como a névoa que se dissolve num instante?
Coélet medita durante muito tempo
sobre tudo o que acontece na terra e conclui: “tudo é vaidade”, repetida 25
vezes em seu livro. Que vale ao homem
tanto suor se não pode levar nada deste mundo?
Coélet aconselha a seus
discípulos um moderado aproveitamento de tudo o que a vida oferece, mas deixa
sem resposta as questões fundamentais. Estas serão respondidas por Jesus.
Segunda leitura (Cl
3,1-5.9-10)
“Afeiçoai-vos às coisas lá de
cima... pensai nas coisas lá de cima, não nas desta terra”. Parece um apelo a
desprezar este mundo e desinteressar-se dos problemas materiais. Paulo ainda
usa o esquema: “mundo do alto” e “mundo de baixo”. Na verdade existe um mundo
só: este em que nós vivemos e em que Deus está presente.
Pelo batismo a pessoa morreu para
a vida antiga e começou uma vida completamente nova. “renunciar às coisas da terra” não significa
senão destruir aquela parte do homem que
pertence à terra: “A devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a
cobiça, que é uma idolatria.”
Pelo batismo o cristão se
revestiu em verdade do homem novo, já tem gravada em si a imagem do criador,
mas esta semelhança vai se formando aos poucos até atingir a maturidade adulta.
Evangelho (Lc 12,13-21)
Sabemos por experiência que os irmãos
geralmente gostam uns dos outros e vivem em harmonia, até o dia em que se trata
da partilha da herança. Aí começam as desavenças.
Um dia Jesus foi escolhido para
mediador numa destas pendências familiares (v.13).Jesus deu uma resposta
surpreendente: “ Quem me constituiu juiz
ou árbitro entre vós?”. Jesus preferiu sair pela tangente e apontar para as
causas de onde provêm todas as discórdias, os ódios, as injustiças.
Eis a causa de todos os males: a ganância pelos bens materiais, a vontade
de acumular coisas. Deus destinou os bens deste mundo para todos; quem acumula
só para si, quem quer se abarrotar de bens mais do que o necessário, sem pensar
nos outros, quem se deixa conduzir pela sua insaciável ganância, inverte todo o
plano do criador.
Para explicar melhor o seu
pensamento, Jesus conta uma parábola (vv.16-20). Certo fazendeiro acumulou
muita riqueza pelo seu trabalho: é honesto, tem até sorte e é abençoado por
Deus. A um certo momento da vida resolve parar para usufruir do merecido
descanso. Infelizmente seu merecido descanso durou pouco: Deus o chamou para a
eternidade.
Se considerarmos os personagens da parábola, ficamos
surpresos quanto ao número; são unicamente três: Deus, o homem rico, os
bens. Mas este homem não tem família,
mulher, filhos? Não tem vizinhos? Não mantém contatos com os seus empregados?
Provavelmente sim, vive cercado
de pessoas, mas não tem tempo para elas. Só lhe interessam aqueles que tratam
com ele de negócios, aqueles que podem ajudá-lo a aumentar seus tesouros. Pensa
nas colheitas, nos armazéns, nos cereais.
Na sua mente não há para mais
ninguém, nem para Deus. Seus bens se tornaram seus ídolos e criaram o vazio ao
redor dele, desumanizaram-no completamente. O próprio agricultor, no fundo, já
não é mais um homem, é uma coisa, é uma máquina que produz.
Mais do que simpatia, sentimos
por ele compaixão, dó, pois é um coitado, um infeliz, um “insensato” como diz
Jesus. Alguma coisa nele se rompeu, porque não tem equilíbrio interior, perdeu
completamente a orientação e o sentido da vida. Em seu monólogo emprega 56
palavras e, dessas, 13 repetem “eu”, “meu”. Tudo lhe pertence: existem só ele e
seus bens. É um “insensato”.
De repente surge o terceiro personagem
Deus, que naquela mesma noite lhe
pede contas de sua vida. Até parece que Deus é “mau”, “vingativo”, um “desmancha
prazeres”. Trata-se de uma “história”. Deus, na verdade, não é assim. Jesus o
faz entrar na parábola só para mostrar aos seus ouvintes aquilo que na vida tem
valor, para indicar-lhes o que na vida é importante.
Mas então a riqueza é uma coisa
má? De forma alguma! O ideal do cristão
não é uma vida miserável. O erro do agricultor, embora tenha trabalhado muito e
de forma honesta, acumulou bens para si mesmo, sem pensar nos outros.
Mas é bom lembrar que há pobres
que tem cabeça de rico, se deixam levar pelo egoísmo, pelo interesse pessoal.
Sonham com o dia em que serão ricos para gastar à vontade.
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