COMO É DEUS
Primeira leitura (Pr.
8,22-31)
Creio ser importante aproveitar esta festa para uma reflexão
sobre Deus, pois não é suficiente acreditar em Deus, importa verificar em que
tipo de Deus se acredita. Embora haja um só Deus, há muitas ideias diferentes e
até contraditórias sobre Deus, até no AT. Só Jesus nos mostrou a verdadeira
face de Deus.
Nós cristãos acreditamos que Deus não é um ser extraterrestre
que intervém caprichosamente mandando castigos e recompensas. Não existem dois
mundos: o do alto, o céu, e o de baixo, a terra. Existe só o nosso mundo onde
Deus está presente como força criadora e força primordial de vida. Aprendemos
no catecismo: Deus está em todo lugar. Toda a vida no universo é manifestação
do Espírito de Deus, como reza o salmo 103: “Se desviais o rosto das vossas criaturas, elas se perturbam; se lhes
retirais o sopro (Espírito, expiram e voltam ao pó de onde de onde saíram. Se,
enviais, porém, o vosso sopro, elas revivem e renovais a face da terra”.
Mas sobretudo Deus está presente no homem (somos templos da trindade): Santo Agostinho: “Deus está mais perto de nós
do que nós de nós mesmos”. Importa, pois cultivar esta presença na oração.
Muitos “milagres” pequenos ou grandes acontecem em nosso cotidiano e nós não
nos damos conta porque estamos distraídos.
Mesmo assim temos que afirmar que Deus respeita as leis da
natureza e a liberdade do homem, ambas criadas por Deus. Tanto a natureza
quanto o home são autônomos. \por isso não adiante pedir que Deus intervenha
para fazer as nossas necessidades e desejos. Existe, sim, um desejo profundo em
nosso coração que devemos cultivar em nossa oração: “Fizeste-nos para ti,
Senhor e inquieto está o nosso coração até que descanse em vós” (Santo
Agostinho).
O Deus em que acreditamos é uma comunidade de três pessoas.
Não são pessoas como nós. Se o fossem seriam três deuses. É uma comunidade
unida onde tudo é comum; a criação, a salvação e a santificação.
Em Jesus Deus se tornou um dos nossos. Se quisermos saber como
é Deus é só reparar no comportamento de Jesus, no que ele disse e fez. Ele é
uma explicação viva de Deus.
Há dois tipos de religião: a religião baseada no medo e no
interesse e a religião que é resposta gratuita ao dom de Deus. A primeira, na
verdade é invenção humana: procura acumular méritos para compensar possíveis
castigos e além disso, canalizar os favores de Deus para si. É uma religião
interesseira. Ilusão. Já o segundo tipo de religião é a acolhida do dom de
Deus: A vida, o batismo, a palavra de Deus e por isso também louvor e ação de
graças. Muitas pessoas ainda encaram a religião como um patrão ou contador e
por isso se preocupam em cumprir os preceitos e assim estar reparados para o
juízo de prêmio ou castigo. Mas a verdade é que Deus não castiga nunca. Verdade
é que n AT. Encontramos passagens que atribuem a Deus a ira, a vingança,
castigos e crueldades. São invenções humanas de uma religião imperfeita. São
relíquias mortas de etapas superadas que é preciso deixar para o passado.
Diante de uma desgraça nunca se deve dizer: “Era a vontade de Deus” ou “Deus
sabe o que faz”. Isto é falar mal de Deus.
Deus perdoa sempre como o pai do filho pródigo. Não somente perdoa,
mas ainda faz uma festa. Claro está que isto não deve sugerir uma religião
light r permissiva. Não, porque o amor é
mais exigente do que o medo. O amor de Deus é exigente. Ele nos pede que
sejamos o melhor possível, que não fiquemos a meio caminho. Deus prefere que
sejamos frios ou quentes e não mornos (Ap
3,15).
Jesus exorcizou o medo. Ele fundou uma religião filial e pede
aos seus discípulos uma espiritualidade de infância. Termino com uma oração de
Santa Tereza: “Não me permitas, Senhor, temer-te por causa do inferno, nem
procurar-te por causa do céu, mas somente amar”. Eis ai, a religião pura, sem
medo e sem interesse.
Segunda leitura (Rm
5,1-5)
Depois de ter criado o universo com sabedoria, Deus não
considerou concluída a sua obra. Fez questão de permanecer no meio dos homens.
Entrou em nosso mundo para ser um de nós, para justificar-nos mediante a fé em
Jesus Cristo. O Filho veio ao mundo para ensinar-nos que o Pai justifica, isto
é, torna justos todos os homens, independente de seus méritos.
Não é que Deus não faça conta de nossos pecados. Deus torna
justos os homens porque, deixando-os sempre libres, consegue com seu amor mudar
o coração deles e torná-los bons. Ter fé no Deus Filho significa acreditar que
ele ama os homens a ponto de participar de suas próprias precariedades e de sua
fragilidade, significa alimentar a esperança de que este amor infinito poderá,
sim, registrar algum fracasso momentâneo, mas nunca uma derrota definitiva.
Evangelho Jo 16,12-15)
O mestre começa dizendo: “Muitas coisas ainda tenho a
dizer-vos, mas não as podeis suportar agora”. Será a função do Espírito recordar
e fazer que entendam melhor a obra de Jesus. O mais difícil para os discípulos
era que a salvação de Deus passasse pela cruz. Eis porque era necessária a
intervenção do Espírito para “desfazer” o absurdo da cruz. Outra função do
Espírito era fazer entender a mensagem de Jesus para os diversos tempos e
circunstâncias.
O Espírito inspira não somente os líderes da Igreja mas
também todos os discípulos (1Jo 2,27).
“Ele me glorificará”(
v.14). Jesus é glorificado quando seu projeto de salvação se concretiza, quando
o homem que pecou se arrepende, quando o necessitado encontra apoio... A marca
da Trindade pode ser identificada na comunidade cristã quando todos, mesmo os
que erraram se sintam aceitos, estimados e valorizados, quando as alegrias e as
tristezas sejam partilhadas e as diferenças sejam consideradas um
enriquecimento.
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