TERCEIRO DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C


            JESUS APONTA O CAMINHO DA COMUNIDADE

Primeira leitura (At 5,27b-32.40b-41)
A comunidade cristã, desde o início, teve que enfrentar a oposição dos líderes espirituais de Israel. Após a morte do Mestre, os discípulos se organizaram e fundaram uma nova e perigosa “seita”. Certo dia foram presos e levados perante o Sinédrio onde foram proibidos de ensinar em nome de Jesus. “Quereis fazer recair sobre nós o sangue deste homem?”.   Pedro, em nome de todos, respondeu com firmeza e coragem: “Importa mais obedecer a Deus do que aos homens” (v.29).
Procuremos entender a situação: Cristo foi um homem incômodo para os detentores do poder, quer político, quer religioso; Os apóstolos, da mesma forma foram incômodos para as autoridades constituídas e por isso foram presos. A situação continua hoje: os cristãos autênticos continuarão dando aborrecimentos aos que defendem situações injustas, incompatíveis com o evangelho. Será que não há entre nós pessoas que se deixam influenciar pelo medo ou por algum arranjo com as autoridades? Não haverá corruptores ou corruptos?
Na segunda parte, Pedro, de forma dramática, contrapõe a ação de Deus à das autoridades judaicas: “Deus ressuscitou Jesus que vós matastes”. Jesus foi condenado como uma pessoa perigosa porque se opunha à “Sagrada Lei” judaica. Há também hoje os “conservadores” das “sagradas tradições” que se opõem à construção de um mundo novo, mais justo.

Segunda leitura (Ap  5,11-14)
Há perguntas às quais os homens não conseguem dar uma resposta: de onde viemos, para onde vamos, porque a vida, porque a morte, por que o sofrimento? Etc.
O texto em questão diz que o Cordeiro imolado (Jesus) se aproxima do trono de Deus, toma da sua mão direita o livro e rompe os selos. Significado: o Cordeiro, isto é, Jesus, é o único que pode abrir o livro no qual se encontra a resposta às questões mais misteriosas do coração do homem.
Em v.5,11 os anjos, todos os seres vivos, todos os membros do povo de Deus, felizes e cheios de gratidão ao Cordeiro, entoam um hino de júbilo. A este louvor unem-se também as criaturas inanimadas: todas as criaturas foram finalmente libertadas da escravidão do pecado. Pois quando eram utilizadas pelo homem para o mal, eram escravas.

Evangelho (Jo 21,1-19).
O texto não é uma crônica. Há muitas incongruências. Importa a catequese que o autor quer passar para os cristãos de suas comunidades.
Ao contrário das aparições anteriores que aconteceram num domingo, dia do Senhor para celebrar a eucaristia, a aparição narrada hoje acontece num dia de semana, quando os apóstolos estão pescando (é estranha a retomada desta atividade normal em vez de se dedicar imediata e totalmente à pregação do evangelho).
A seguir, é significativo o número dos ocupantes da barca: são sete. Este número indica a perfeição, a totalidade. Pedro e os outros seis apóstolos indicam a totalidade dos discípulos que formam a comunidade cristã.
O mar: para os israelitas era o símbolo de todas as forças inimigas do homem. Como “pescadores de homens” os discípulos tinham que “pescar” os homens, isto é, tirá-los das águas, para livrá-los de todas as situações negativas que os impedem de ser livres, de amar, de planejar uma vida feliz.
O ressuscitado não está na barca. Ele já alcançou a margem, a terra firma, a situação definitiva... foi glorificado. Está presente, mas não de maneira física.
A pescaria durante a noite não deu em nada. Pescaram dentro do esquema da lógica humana.  Mas quando, ao amanhecer, eles prestam atenção à palavra que lhes vem da margem, quando seguem as orientações de Jesus, quando confiam nele, eis o milagre: um resultado surpreendente.
A experiência da comunidade primitiva é semelhante à nossa. Nós também devemos entender que Jesus, embora estando “na margem”, isto é, na glória do Pai, está sempre conosco, todos os dias até o fim do mundo. É preciso estar antenado para ouvir a sua voz.
O evangelista frisa a quantidade de peixes colhidos pela rede: 153 grandes peixes. Os zoólogos gregos haviam classificado 153 espécies de peixes. O sentido, então, seria este: a ação da comunidade, sob o comando de Jesus, é capaz de reunir todos os povos em volta de si, sem com isso sofrer ruptura (a rede não se rasgou). E Pedro, convertido e reconciliado com Jesus, arrasta a rede sem que se rompa.
Jesus toma a iniciativa e convida a comunidade à eucaristia: “Venham comer” (v.12ª). É a refeição onde estão presentes todos os povos (153 grandes peixes). A partir desse gesto ninguém mais tem necessidade de perguntar a Jesus: “Quem és tu”?  Porque sabem que ele é o Senhor (v.12).
Os versículos seguintes falam de Pedro: 1. Condições para seguir Jesus; 2.A vocação do discípulo. Jesus pergunta: “Simão, filho de João, você me ama mais do que estes?” A tríplice pergunta é uma alusão à tríplice negação de Pedro. O que Jesus pede é o amor incondicional. Este projeto assumido pelo discípulo acarretará dar a própria vida, como fez Jesus. A expressão “estender as mãos” é uma provável alusão ao gesto dos condenados à crucificação, que abriam os braços para carregar a trave superior da cruz. “Deixar-se cingir” lembra a corda atada aos que eram conduzidos à crucificação.
A vocação do discípulo é a de seguir Jesus: “Eu sou o caminho” (14,6). João não precisa mais especificar qual a finalidade da vocação. Ela se torna evidente na ação de Jesus.



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