SEXTO DOMINGO DA PÁSCOA



              O ESPÍRITO SANTO: MEMÓRIA DAS AÇÕES DE JESUS

Primeira leitura (At 15,1-2.22.22-29)
Na igreja primitiva havia dois grupos: os cristãos vindos do judaísmo, e os cristãos vindos do paganismo. O primeiro grupo exigia que o segundo grupo cumprisse as disposições da Lei do Antigo Testamento e dos rabinos. Já os pagãos achavam que para conseguir a salvação bastava acreditar em Jesus Cristo. A questão era o contraste entre fé e cultura: a mesma fé vivida em culturas diferentes. A questão é atual, como dizia Paulo VI: a inculturação do evangelho: aceitar a Jesus não significa aceitar a cultura judaica: são duas coisas diferentes.
Pedro e Tiago, o “irmão de Jesus” eram tradicionalistas: necessidade da circuncisão, abster-se da carne de porco, do sangue etc.   Já Paulo era a favor dos pagãos: a justificação vem pela fé  e não pelas  obras. Por fim chegaram a um acordo: as comunidades mistas deviam abster-se das carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e evitar contrair matrimônio com pessoas com as quais tivessem algum parentesco.
O problema continua hoje: muitas práticas e orações (  por ex. os salmos) datam de dois ou três mil anos atrás e já não dizem nada para nós, não alimentam a nossa fé e invocam um Deus intervencionista e castigador que não existe. A liturgia romana não pode ser imposta a todos os povos porque muito ritualista e intelectualista e incompreensiva para a maioria dos fiéis.

Segunda leitura (Ap 21,10-14.22-23)
O livro do Apocalipse se destina aos cristãos que enfrentam dificuldades por causa das perseguições. No domingo passado o povo de Deus, a Igreja, era comparada a uma esposa muito bonita. Neste domingo compara-a a uma maravilhosa cidade com muros, alicerces, doze portas, distribuídas pelos quatro lados: o número quatro, na bíblia, indica a universalidade, a porta, evidentemente, se refere à possibilidade de entrar. O sentido da figura é, portanto este: o povo de Deus está aberto para o mundo, em direção ao sul e ao norte, ao oriente e ao ocidente; dá acolhida para todos os homens, elimina qualquer separação, rejeita tudo o que divide e discrimina.
Nesta cidade não existe templo porque supérfluo: o homem encontrará Deus face a face.
O que pensar então dos nossos templos, das nossas liturgias, dos nossos gestos solenes, destinados a desaparecer? São um apelo  para nos lembrar a precariedade da nossa vida, nos alertam para nossa condição de estrangeiros, ainda distantes da morada definitiva.

Evangelho (Jo 14,23-29)
Há três firmações importantes de Jesus:
1.A primeira:  “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu pai o amará e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada (vv23-24)”. Para entender estas palavras é preciso lembrar outra frase pronunciada por ele durante a última Ceia. Respondendo a Felipe, disse: “ O Pai, que permanece em mim, é que realiza as suas próprias obras. Eu estou no Pai e o Pai em mim. Crede-o ao menos por causa destas obras(Jo 14,10-11). Aqui Jesus aduz como prova da sua unidade com o Pai as obras que ele realiza. Quais são elas? Não são os milagres. Ele nunca apresenta os prodígios para provar que é “um” com o Pai. Refere-se ao invés a tudo aquilo que ele faz. As intervenções só e sempre se verificam em benefício do homem, têm como finalidade libertá-lo de todas as formas de escravidão às quais está sujeito: trata-se das correntes do pecado, da doença, da superstição, da segregação religiosa e social.
Que Jesus e o Pai estabelecem sua morada em nós significa que recebemos a vida de Deus e nos tornamos capazes de realizar as mesmas obras de Jesus e o Pai: nós também nos tornamos libertadores dos homens.
2.Jesus promete o Espírito Santo, o “Consolador que ensinará e recordará tudo  o que lhes tinha dito” (v,26).
Duas são as funções do Espírito: comecemos pela primeira, a de “ensinar”. Não é que Jesus tenha omitido alguma coisa, mas não lhe foi possível explicitar todas as consequências e todas as aplicações concretas da sua mensagem para toda a história da Igreja. Imaginem quantos problemas novos surgiram e ainda surgirão. Então é preciso contar, sim com o evangelho escrito e a luz do Espírito Santo. O que pensar da “guerra santa....” da pena de morte, dos meios anticoncepcionais, como tratar as pessoas de outras religiões, os ateus, o papel da mulher na Igreja etc.
A segunda função do Espírito é “recordar”. Jesus falou muitas coisas e não deixou nada escrito e além disso os apóstolos eram homens simples, da roça, não podiam reter tudo o que Jesus falara.  Durante muitos séculos os cristãos conseguiram tapar os próprios ouvidos aos apelos do Espírito: Cfr. As Cruzadas, a Inquisição etc.
3.A promessa da paz: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá”. O império romano havia conseguido estabelecer a paz em todo mundo, mas era uma paz baseada na opressão, na violência, na injustiça. Em nossos dias não há guerras territoriais, mas de fato reina a paz de Cristo? Certamente não reina naquelas sociedades nas quais está consolidada em leis a exploração dos ricos sobre os pobres, dos mais fortes sobre os fracos, dos mais vivos e inteligentes sobre os menos favorecidos.

Comentários

  1. Maravilha de homilia! Que Deus nos dê a Sua paz, onde todo mundo tem alimento, trabalho, amor, espaço para falar e ouvir os outros! Parabéns padre José!! Edlamar

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