DEUS QUER A VIDA E NÃO A MORTE
Primeira leitura (Ex 3,1-8ª.13-15)
A primeira leitura versa sobre Moisés. A história bíblica
conta que quando Faraó perseguiu os hebreus, Moisés foi salvo, largado num cestinho
e recolhido pela filha do Faraó que o criou. Quando adulto presenciou um
egípcio agredindo um hebreu. Foi em defesa do hebreu e matou o egípcio.
Perseguido, fugiu para o deserto do Sinai onde se tornou um pastor de ovelhas.
Um dia Moisés ouviu a voz de Deus que lhe diz: “Eu ouvi a
aflição do meu povo que está no Egito e ouvi os clamores por causa dos seus
opressores... e desci para libertá-lo dos egípcios. Moisés entende que o Senhor precisa dele e
lhe pergunta qual o seu nome, Deus responde a Moisés: “Eu sou aquele que sou”.
O que significa: vós entendereis quem eu
serei; vereis por aquilo que farei quem que sou.
Deus se mostra como libertador. Moisés ficou com medo.
Diante de semelhante situação nós talvez pensemos como Moisés. O que tenho eu a
ver com isso? Porque devo meter-me em encrencas por causa dos outros? Já não
tenho problemas demais na minha vida?
Se as lágrimas e os gemidos dos irmãos nos deixam insensíveis,
se o clamor dos oprimidos não nos impele a fazer alguma coisa em favor deles,
podemos afirma-nos filhos daquele que se revelou como o “libertador”?
Segunda leitura (1Cor 10,1-6.10-12)
A comunidade de Corinto era uma comunidade fervorosa, mas
mesmo assim havia discórdias, imoralidades, invejas. Alguns cristãos achavam
que bastava o batismo para assegurar a salvação. Para corrigir esta falsa
ilusão Paulo lembra o exemplo dos israelitas: todos acreditaram em Moisés e
atravessaram o mar Vermelho, foram protegidos pela nuvem, comeram o maná e
beberam a água que jorrou da rocha, mas por fim por causa da infidelidade,
nenhum deles entrou na terra prometida.
O mesmo pode acontecer com os cristãos. Eles devem
lembrar-se de que os benefícios de Deus não operam de maneira automática e
quase mágica. Não basta ter acreditado em Cristo (novo Moisés), ter sido
batizados (a passagem do mar vermelho), ter recebido o Espírito Santo, ter-se
alimentado da Eucaristia. É preciso levar uma vida decente, coso contrário os cristãos
também podem perder-se, como aconteceu com os israelitas no deserto.
Evangelho (Lc 13,1-9)
O evangelho de Lucas relata dois acontecimentos históricos:
um crime cometido por Pilatos e o desabamento de uma torre ao lado da piscina
de Siloé.
Pilatos era um homem duro. Os historiadores nos relatam
diversos episódios dramáticos dos quais ele é o protagonista. O evangelho de
hoje narra um deles: alguns peregrinos vindos da Galileia para oferecer
sacrifícios no templo, provavelmente por ocasião da páscoa, veem-se envolvidos
numa encrenca que acaba em morte. Como a Páscoa celebrava a libertação é
provável que os galileus enfrentaram as forças de ocupação. Pilatos, sem
qualquer respeito pelo lugar sagrado, massacrou os infelizes galileus. Um gesto
brutal e sacrílego, um ultraje ao Senhor, uma provocação frontal ao povo que
considera o seu templo como a morada de Deus.
Alguém vai contar a Jesus o acontecimento, esperando que ele
dê uma dura em Pilatos. Os fariseus achavam que a sorte dos galileus fora um
castigo pelos seus pecados. Jesus
surpreende a todos ao excluir qualquer relação entre o acontecido e os pecados
cometidos por eles; em seguida convida a todos para que aprendam uma lição a
partir do episódio, deve ser considerado, ensina ele, como um apelo para a
conversão.
Para tornar mais claro ainda o seu pensamento, ele cita mais
um fato: a morte de 18 pessoas, provocada pelo desabamento de uma torre. Estas
pessoas também não foram punidas por causa de seus pecados: foram vítimas de
uma fatalidade. Também este acontecimento deve ser interpretado como um apelo à
conversão.
A conversão que Jesus pede é renunciar à agressividade, a
indignação, a raiva, o ódio e o desejo de vingança. Ele nega que haja uma
relação direta entre as culpas e as desventuras que acontecem. Ainda há muitos
cristãos que continuam raciocinando como os fariseus daquele tempo: consideram
a sorte, a riqueza, a boa saúde como bênçãos que Deus reserva aos bons e acham
que o sofrimento seja um castigo para os maus. Isso não é verdade. Algumas
desventuras são provocadas pela maldade dos homens, outras dependem de algum
desleixo ou da pura fatalidade. A escassez de chuvas, um incêndio, um acidente
de trabalho ou na estrada, a doença de uma criança, não podem ser atribuídos
nem a Deus e nem ao pecado de alguém: acontecem porque tem que acontecer,
porque o nosso mundo é este e não outro.
Não que Deus esteja ausente, mas ele quer que o universo
siga o seu curso e a natureza siga as suas leis, deixa que os homens exerçam a
sua liberdade, não se intromete indevidamente, não se envolve com mesquinharias
na sua criação, mas acompanha tudo e faz com que até dos males possa resultar
algum bem.
O apelo de Jesus à conversão é um convite a mudarmos a nossa
maneira de pensar.
Os judeus cultivam pensamentos de violência, de vingança, de
rancor contra os opressores. Estes não são os sentimentos de Deus. É preciso
que revejam com urgência a própria posição. Devem renunciar à confiança que
depositam no uso da força. Infelizmente não estão dispostos à conversão e, por
isso, quarenta anos mais tarde todos (inocentes e culpados) perecerão num novo
massacre.
Quando devemos executar esta mudança? Podemos adiá-la por
alguns meses, por alguns anos? Jesus responde na segunda parte do Evangelho com a parábola da figueira.
O ensinamento da parábola é claro: daquele que ouviu a
mensagem do Evangelho, Deus espera frutos saborosos e abundantes. Não quer
práticas religiosas externas, não se satisfaz com aparências, procura obras de
amor.
Diversamente dos outros evangelistas que nos falam de uma
figueira estéril, que secou na mesma hora ou pouco depois, Lucas, o evangelista
da misericórdia, fala de mais um ano de espera, antes da intervenção
definitiva.
Ele apresenta um Deus paciente, tolerante com a fraqueza
humana, compreensivo com a dureza da nossa mente e do nosso coração.
Lindo! Lindo! interessante essa narrativa que Pilatos era durão! Parabéns por toda a reflexão! Edlamar
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