Oitavo Domingo do Tempo Comum – Ano C




OS ATOS MOSTRAM QUEM SÃO AS PESSOAS

Primeira leitura (Eclo 27,5-8)
O livro do Eclesiástico, do início do segundo século a.C. fala do imperialismo cultural e religioso que os gregos insistiam em impor aos judeus. É um livro de resistência que tenta salvar a memória histórica de um povo.
Os quatro versículos da liturgia deste domingo tem sabor proverbial. Recolhem experiências de vida para mostrar quem é quem na presente situação do povo.
O primeiro exemplo vem da roça: com a peneira, o agricultor separa a semente dos refugos, cascas etc.. O autor conclui “assim os defeitos de uma pessoa aparecem no seu falar”. (V.4b).  O segundo exemplo vem da cidade: o artesão (oleiro) sabe que os vasos de barro precisam passar pelo teste do forno. Se não forem bem moldados o calor os arrebentará (v.5a). Mais um exemplo tirado da vida da roça: “O fruto revela como foi cultivada a árvore (v.6a). E mais uma vez o exemplo é aplicado às relações sociais: “Assim, a palavra mostra o coração da pessoa (v.6b).
O autor do Eclesiástico se apressa em tirar lições desses exemplos: “Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar; pois é no falar que a pessoa se revela (v.7), pois a palavra é expressão do ser e do agir das pessoas. Mas é preciso estar atento: muitas vezes o discurso está longe da prática de quem fala. Por exemplo como dar crédito à linguagem daqueles políticos que fazem da política instrumento de enriquecimento? Como dar crédito ao discurso dos latifundiários que matam posseiros e gente indefesa?

Segunda leitura (1Cor 15,54-58)
No tempo de Paulo havia muita confusão em Corinto em torno da ressurreição de Cristo. Alguns diziam: com a morte acaba tudo; outros, de mentalidade grega admitiam somente a sobrevivência da alma; Outros, enfim, afirmavam que a ressurreição é o momento presente, ou seja, pertencer a Cristo, aqui e agora e, ponto final.
Paulo não adere à ideia grega da imortalidade da alma; para ele o corpo de Cristo ressuscitado é de capital importância. E por isso afirma que “esse nosso corpo que passa, vai se vestir do que não passa (um corpo “espiritual)”. É estranho que as pessoas ainda pedem missa  “pela  alma de..., de...”.  Quando invocamos os santos não invocamos a alma de, digamos Sto. Antônio, Santa Luzia... Mas, invocamos a pessoa e não a alma, isto é, supomos que a pessoa esteja com Deus, e não só a alma.

Evangelho (Lc 6,39-45)
Mateus no “sermão da montanha” apresenta Jesus como o novo Moisés, portador da nova Lei e da justiça do Reino. Já Lucas, no “sermão da planície” apresenta Jesus como a expressão máxima da misericórdia divina: Sejam misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).
Lucas está preocupado com problemas internos das comunidades às quais escreve: ali havia pessoas que consideravam a religião como algo a ser dito e ensinado “para os outros” e não para si próprios em primeiro lugar. Lucas insiste que a nova sociedade começa dentro da comunidade. Aos que gostavam de emitir juízos obre os demais, Lucas lembra que só Deus pode julgar (v. 37-38). “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco?”(v.39). No evangelho de Mateus (cf.15,14), os fariseus é que são cegos. Aqui, em Lucas, cegos são os discípulos que pretendem julgar os outros, colocando-se no lugar de Deus. Jesus continua: Um discípulo não é maior do que o mestre. Todo discípulo bem formado será como o mestre (v,40) “
O mestre é Jesus, e ele não julga, nem condena (cf. Jo 3,17). O cristão, para ser como o mestre, deixa que Deus julgue e dê a sentença. “Não julguem, e vocês não serão julgados; não condenem, e vocês não serão condenados” (6,37). A norma comum a todos é a misericórdia do Pai (v.36). O que fazer então, diante dos erros dos outros? Talvez a melhor solução seja a “cura do espelho”: procurar imitar aquilo que de bom vemos nos outros, e corrigir dentro de nós o que achamos de errado em nossos semelhantes.
Segundo Lucas, a vida na comunidade deve se reger pela misericórdia e pelo amor desinteressado. A recompensa para os que assim agem será grande: Por acaso terão um lugar de maior distinção no paraíso? Não, muito mais! Serão filhos do Altíssimo; porque ele é bom para com os ingratos e maus (v.35). Esta será a recompensa: a semelhança com o Pai, a sua mesma felicidade, experimentar já neste mundo a alegria inefável de amar sem esperar nada em troca.
Resumindo o evangelho de hoje poderíamos dizer que há três categorias de pessoas: no patamar inferior encontram-se os maus (os que, embora recebendo o bem, praticam o mal); no patamar logo acima encontram-se os justos (os que respondem ao bem com o bem e ao mal com o mal); por fim, no patamar mais elevado, estão os que ao mal respondem com o bem: estes são os filhos de Deus.

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