Terceiro Domingo do Tempo Comum – Ano C





O PROGRAMA DE JESUS: LIBERTAR OS POBRES

Primeira leitura (Ne 8,2-4ª.5-6.8-10)
Estamos na década 400 a.C. O povo hebreu fora libertado do Exílio por um decreto do rei Ciro. Mas na vida da Palestina havia muita confusão: roubos, violências, exploração dos pobres. Para por ordem na casa o rei Artaxerxes da Pérsia enviou para Jerusalém Esdras “sacerdote e escriba versado na Lei de Moisés, dada pelo Senhor” (Esd 7,11)
Percebendo que a origem dos males era o descumprimento da Lei, Esdras convocou uma grande assembleia sagrada, que durou desde o nascer do sol até o meio dia e fez a leitura da Lei. Não faltou ninguém. Não somente leu, mas também explicou a Lei. Afinal a Palavra de Deus só é eficaz na medida em que é entendida, por isso é preciso que seja interpretada e explicada através de uma linguagem simples, compreensível a todos: sábios ou ignorantes, instruídos ou analfabetos.
A homilia de Esdras teve um sucesso extraordinário. Oxalá a Palavra de Deus proclamada hoje em dia em nossas assembleias tenha o mesmo resultado.

Segunda Leitura (1Cor 12,12-30)
O tema da leitura é novamente os carismas como no domingo passado. Paulo explica que os dons do Espírito são como os membros do corpo: cada um tem a sua função, nenhum pode ser desprezado. Todos estão a serviço da comunidade; quando entram a competição, os ciúmes, as invejas, o organismo inteiro da comunidade sofre as consequências e pode até se desintegrar.
Na última parte da leitura (vv.28-30) encontramos uma classificação dos carismas. O dom do governo está em penúltimo lugar e antecede só o “dom das línguas”. Os mais importantes são os relacionados com o anúncio da Palavra: os apóstolos, os profetas, os mestres (1Cor 8-10).
Isto significa que na Igreja católica que prestigia por demais os sacramentos se deve dar um lugar maior à Palavra.

Evangelho (Lc 1,1-4;4,14-21)
Lucas escreve nos anos 80. Não conheceu pessoalmente a Jesus. Era um médico de Antioquia. Escreve a partir das tradições que circulavam nas comunidades em que viveu, mas faz questão de ser fiel à tradição. Ele escreve a partir do que Jesus fez e ensinou conforme o que testemunhas oculares “viram com os olhos” e “tocaram com suas mãos” e que dedicaram totalmente a própria vida para anunciar fielmente aquilo que tinham visto e ouvido.
Lucas diz que investigou diligentemente tudo desde o início para que seus leitores tenham a certeza de que sua fé tem um fundamento sólido; para tanto é preciso ler atentamente página por página o seu evangelho. É este o convite que nos é feito neste ano. Se participarmos fielmente de todas as celebrações dominicais da palavra de Deus, chegaremos ao fim mais convencidos de que é realmente a fé cristã que vivemos.
A segunda parte da passagem deste dia (Lc 4,14-21) refere-se à celebração da sinagoga no sábado. Primeiro lia-se um texto da Lei (pentateuco) e depois um trecho de um profeta. Em seguida, qualquer adulto, a convite do presidente, podia fazer um comentário.
Quem fazia a segunda leitura podia escolher o trecho de sua preferência. Jesus seleciona um texto do profeta Isaias: “O Espírito do Senhor está sobe mim(...) enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração e para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os prisioneiros e para publicar o ano da graça do Senhor”.
Em Israel, ao ser proclamado o “ano de graça”, todos os que tinham dívidas recebiam o indulto; as terras hipotecadas ou roubadas pela ganância dos latifundiários eram devolvidas, e todo o povo recomeçava vida nova, porque a partilha dos bens voltava a regular as relações sociais. O programa de Jesus prevê não só a libertação dos marginalizados, mas a plena integração na sociedade, com a recuperação plena de tudo aquilo do qual foram defraudados... Essa é a evangelização de Jesus: não consiste em palavras, doutrinação, conceitos, dogmas, documentos etc. mas numa prática que leve as pessoas marginalizadas à posse da vida plena.
O texto se refere a um profeta que mais ou menos 400 anos antes de Cristo, foi enviado por Deus para consolar os israelitas que tinham voltado do exilio da Babilônia. A situação era difícil, embora tivesse acabado a opressão dos estrangeiros, outras opressões tinham começado: os ricos exploravam os pobres, os patrões não pagavam os seus empegados, os fortes oprimiam os fracos. Todas as formas de escravidão, disse ele, estão chegando ao fim. O profeta sentiu-se invadido pelo Espírito de Deus e enviado para denunciar estas injustiças.
Após ter lido o trecho, Jesus tece o seu comentário: “Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir. Chegou a hora da liberdade.

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