Trigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum – Ano B




A RELIGIÃO DE QUEM DÁ SEM MEDIDA

Primeira leitura (1Rs 17.10-16)
Os habitantes de Canaã adoravam Baal, o deus que enviava a chuva e dava prosperidade à terra proporcionando abundantes colheitas, animais férteis, riqueza, prosperidade. O Profeta Elias, para acabar com esta ilusão rogou uma prega: durante três anos não cairia uma gota de água sobre Israel. Dito e feito. Descoberto, Elias foi jurado de morte pelo rei Acab e sua esposa Jezabel que passaram a persegui-lo para matá-lo.
Elias teve que fugir e na fuga encontrou uma viúva à qual pediu um pouco de água e também um pedaço de pão. A viúva respondeu: só tenho um pouco de farinha e um pouco de óleo. Estou catando uns gravetos de lenha para fazer um pão para mim e meu filho e depois morrer. Elias lhe promete que nem a farinha, nem o óleo acabariam se ela atendesse a ao seu pedido. E Assim aconteceu.
Dessa narrativa podemos extrair dois ensinamentos> Inicialmente o fato põe em destaque a compaixão de Deus pelos pobres. Para Israel, como para todos os povos antigos (e ambém os evangélicos de hoje) a riqueza material era considerada como uma bênção de Deus. Bastava agir corretamente. Os profetas mostraram que muitas vezes a riqueza não era resultado da proteção de Deus, mas fruto de roubos, injustiças e exploração dos pobres. Teve início desta forma a conscientização de que as preferências de Deus não eram pelos ricos, mas pelos mais fracos pelos estrangeiros pelos órfãos e pelas viúvas.
Segundo Ensinamento: Deus abençoa os que partilham os seus próprios bens. A generosidade da viúva que oferece tudo o que possui a quem necessita mais do que ela, é a causa da multiplicação do alimento. O egoísmo é que provoca a fome, a nudez, a miséria.

Segunda Leitura (Hb. 9,24-28)
“Sacerdote” no NT não se refere aos padres, mas a Jesus Cristo e a todos os cristãos que junto com ele oferecem sacrifícios espirituais.
Jesus Cristo é o único verdadeiro sacerdote. Os sacerdotes antigos ofereciam animais e frutos da terra a não a si mesmos e por isso o sacrifício deles não tinha o poder e expiar o pecado. O mal não era curado pela raiz, os homens continuavam sendo maus e necessitando do rito de expiação. Jesus, ao invés, ofereceu, um só e perfeito sacrifício, não derramando o sangue de animais, mas doando seu próprio e, com o seu gesto de amor, destruiu definitivamente o pecado (vv. 25-27)

Evangelho (Mt 12,38-44)
O evangelho de hoje se divide em duas partes. A primeira (vv.12-18) nos apresenta o julgamento de Jesus sobre as pessoas mais respeitáveis da sociedade judaica do seu tempo: Os escribas. A segunda (vv.41-44) contém o exemplo de um comportamento oposto: o gesto de uma viúva.
O contraste entre as duas cenas é total. Na primeira, Jesus põe as pessoas em guarda contra os escribas do templo A religião deles é falsa: utilizam-na para buscar sua própria glória e explorar os mais fracos. Não se deve admirá-los nem seguir seu exemplo. Na segunda Jesus observa o gesto de uma pobre viúva e chama os seus discípulos. Desta mulher eles podem aprender algo que os escribas nunca lhes ensinarão: uma confiança total em Deus e uma generosidade sem limites.
A crítica de Jesus é dura: em vez de orientar o povo para Deus buscando sua glória eles atraem a atenção para si buscando sua própria honra. Gostam de “andar com roupas compridas” buscando saudações e reverências das pessoas.
Mas existe algo que, sem dúvida, incomoda mais a Jesus do que este comportamento insensato e pueril de ser contemplados saudados e reverenciados. Enquanto aparentam uma piedade profunda em suas “longas orações” em público, aproveitam de seu prestígio religioso para viver às custas das viúvas. Abusavam da ingenuidade dessas mulheres indefesas para surripiar-lhes as esmolas ou então cobravam muito caro pelos seus serviços como advogados quando eram chamados para defendê-las no tribunal. Há ainda uma terceira crítica de Jesus: “Dão a aparência de rezar longas orações” (v40). Isso é o cúmulo! Além de serrem exploradores descarados, os escribas são além do mais comediantes, exibem-se em práticas religiosas impecáveis. Protendem dar provas de uma grande piedade e, desta forma, induzem todos a pensar que Deus está do lado deles.
Em contradição aos escribas e às pessoas que dominam a sociedade, a segunda parte do evangelho (vv.41-44) apresenta um exemplo de religiosidade autêntica. Uma pobre viúva que liberta o seu coração dos bens desse mundo e doa tudo o que tem.
Para compreender a importância desse episódio é preciso lembrar que esta viúva não tinha conhecido Jesus, não ouviu os seus ensinamentos, nem respondeu a u chamado, não se tornou uma sua seguidora. Não o acompanhou como fizeram os Doze e muitas outras mulheres que ficaram a seu lado durante os três anos de vida pública (cf. Lc 8,1-3). Ela representa todos aqueles que, também em nossos dias, mesmo não tendo lido uma única página do evangelho, tem uma vivência evangélica.
A primeira lição, a mais simples e imediata, é a humildade: a viúva merece o elogio de Jesus porque cumpriu o seu gesto sem despertar a atenção de ninguém, sem querer aparecer. Esta, porém, não é a mensagem principal da passagem.

Ao contrário do jovem rico (cf. 4º domingo passado)0, doa tudo o que tem. Doa duas moedas de bronze. Poderia ter guardado uma para si, mas não age assim oferece tudo o que tem. Cumpre a condição  indispensável para se tornar discípulo: renuncia a tudo.
É muito oportuno lembrar o que disse Sant Agostinho: “ O pobres são os nossos mestres”-
A segunda lição é a mais importante: a viúva que oferece tudo é uma imagem de Deus, é uma imagem de Jesus Cristo que como diz S. Paulo, “sendo rico se fez pobre” (2Cor 8,9)
 

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