Trigésimo Domingo do Tempo Comum - Ano B



O CAMINHO DA FÉ

Primeira leitura(Jr 311,7-9)
Primeiro um pouco de história. Quando Salomão morreu, as tribos de Israel se dividiram: as 10 tribos do  norte formaram o  “Reino de Israel”, e as duas tribos do sul formaram o “reino de Judá”. O Reino do Norte foi aniquilado pelos Assírios em 721 a.C.e a população conduzida para o exílio; o Reino do sul foi aniquilado por Nabucodonosor em 587 e os líderes foram conduzidos para a Babilônia. A primeira leitura de hoje fala da libertação de Israel cerca de 100 anos após 721.
O profeta fala da volta dos exilados. No meio da multidão há “ cegos, coxos, mulheres grávidas e mulheres que deram à luz”. À diferença dos homens que se interessam só pelos mais fortes, Deus se preocupa com a necessidades de cada um e mostra um desvelo especial pelos mais pobres.
Esses exilados representam todos aqueles que Deus chama da escravidão do pecado para uma vida nova. Como abandonar certos hábitos, como renunciar a certos laços afetivos que nos escravizam, como manter fidelidade ao evangelho?  O profeta nos alerta, porém, que Deus presta seu socorro especialmente aos que não conseguem  caminhar sozinhos.
As palavras de conforto do profeta nos devem trazer à memória que o caminho encetado  no batismo é sem dúvida comprometedor, Mas ao mesmo tempo está repleto de muitas alegrias. Não sejamos pessimistas, valorizemos também as alegrias e as vitórias e não demos valor só aos acertos e desacertos que praticamos. E não nos frustremos por não sermos aquilo que gostaríamos de ser e não somos, porque a vida cristã nunca é plenitude.

Segunda leitura (Hb5,1-6).
Este texto se dirige aos cristãos convertidos do judaísmo mas que sentem saudade dos ritos praticados no Templo de Jerusalém. Então o autor  se empenha em mostrar a originalidade e unicidade do sacerdócio de Cristo;
O autor retrata os sacerdotes do A.T.: 1.eram pessoas do povo e instituídos em favor do povo; 2. Sua função era de oferecer sacrifícios pelos pecados; 3. Sendo pecadores cmo todos os mortais, deviam oferecer pelos próprios  e, aprendendo assim a ter compaixão daqueles que representam diante de Deus; cabia a Deus escolhê-los com escolheu a Aaarão.  Diante disso, o texto pretende mostrar a excelência, originalidade e unicidade do sacerdócio de Cristo, constituindo-o único mediador entre Deus e os homens.
De fato, Jesus não usurpou o sacerdócio, pelo contrário, o próprio  Deus o declara seu Filho( “Tu és meu filho, eu hoje te gerei”....cf.Sl 2,7), sendo que seu sacerdócio é superior ao da antiga aliança: “Tu és sacerdote para sempre , segundo a ordem de Melquisedec (cf.Sl 110,4. Outros versículos 97-8) mostram que Jesus é sumo sacerdote porque se apresentou a si próprio como oferta, e mediante o sofrimento obteve a alvação de todos.
O texto de Hebreus escolhido para a liturgia deste domingo enfatiza que Cristo, solidário em tudo com as pessoas, é o único mediador entre Deus e a humanidade, pois sua morte é o sacrifício que apaga nossos pecados e nos aproxima, de modo extraordinário e único de Deus.

Evangelho (Mc 10,46-52)
Jesus está caminhando rumo a Jerusalém, Onde enfrentará as forças do poder. Não obstante as previsões da paixão o povo o acompanha, iludido que ainda está que tudo   terminará com um triunfo  de Jesus.
Ao sair de Jerusalém, Jesus encontra  Bartimeu,  sentado à beira do caminho, que era cego e mendigava. Sua situação lembra a dos que vivem à margem da sociedade, cuja sobrevivência depende da compaixão das pessoas. Ele está à margem e, depois de enxergar, não voltará  mais à sociedade que o marginalizou, mas seguirá Jesus.
Ao ouvir que Jesus de Nazaré passava, Bartimeu confessou, por duas vezes, que Jesus é o Messias, o Cristo, chamando-o de “filho de Davi”(vv.47.48). Sua confissão está muito próxima da de Pedro (cf.8,29) e do oficial romano (cf. 15,39). Ele sabe Quem é Jesus e por isso grita com coragem: “tem pena de mim!”. O verdadeiro discípulo sabe quem é Jesus mesmo sem tê-lo visto.
O discípulo, contudo, encontra obstáculo: “Muitos  o repreendiam para se calasse (v.48). A sociedade que manda o cego calar é a mesma que tenta “calar” o Mestre, eliminando-o. Isso porque quem “vê” perturba, agita e desestrutura tudo o que está estabelecido, denunciando a cegueira de quem afirma estar enxergando. E hoje, quem  é que tenta abafar o clamor do povo?  O que é que aliena  o povo, fazendo-o “esquecer” a miséria em que vive?
Jesus é Aquele que  aproxima os marginalizados: “chamem  o cego”, detendo-se diante deles  Ao perceber que Jesus o chamava, Bartimeu joga fora o manto  e se aproxima de Jesus. O gesto de se desfazer do manto pode significar que o cego rompe com a sociedade na qual vivia marginalizado. Agora não precisa mais do manto ( e da sociedade estabelecida) e a Jesus não pede esmola mas “Mestre que eu veja” (v.51b). Quando é que o nosso povo vai tomar consciência de que viver de esmola não é vida?
Marcos apresentou como último milagre de Jesus, a cura de um cego. 0 fato tem finalidade catequética, pois na pessoa de Bartimeu temos a figura do discipulado radical: verdadeiro discípulo é aquele que, pela fé, enxerga e segue a Jesus rumo a Jerusalém. Ser discípulo de Jesus é desejar enxergar e comprometer-se. Batimeu supera Simão Pedro que, após confessar Jesus como Messias, quer impedi-lo de sofrer(8,32), supera os doze porque, no caminho, discutem entre si quem seria o maior (9,34); supera os filhos de Zebedeu porque buscam privilégios  (10,37). Por isso, Bartimeu é modelo de toda pessoa que precisa abrir os olhos, tomar consciência, comprometer-se e seguir o Mestre até o fim.

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