NINGUÉM MOPOLIZA DEUS
Primeira leitura ( Nm 11,25-29)
A caminhada
do povo hebreu do Egito para a terra prometida era longa e cansativa; a um
certo momento Moisés se queixou com Deus: eu não aguento mais liderar este povo
numeroso. Então Deus o aconselhou a escolher setenta anciãos (chefes
representantes dos clãs) para
ajudá-lo. Assim a liderança era partilhada e as decisões tomadas em
conjunto. As reuniões aconteciam na
tenda da reunião, onde os anciãos junto com Moisés discerniam (profetizavam) o
que era melhor para todo o povo na caminhada para a terra prometida.
Aconteceu que
dois dos representantes não foram à reunião e assim mesmo “profetizavam”. O
espírito agia também neles, independentemente de estarem ligados a uma
instituição. É o profetismos fora da instituição. Embora Josué fosse contra,
Moisés sabiamente reconheceu o profetismo fora da instituição. O Espírito age
também fora da instituição.
Segunda
leitura (Tg 5,1-6)
Tiago é o
defensor dos pobres. O texto de hoje contém a condenação mais violenta contra
os ricos.
A primeira
parte (1-3) começa com ameaças terríveis: “Ricos, chorai e gemeei por causa das
desgraças que sobre vós virão. (Tiago esperava que o fim do mundo estava
próximo). Tudo o que eles, à custa de tantos esforços e sacrifícios conseguiram
acumular, será destruído.
Porque tamanha indignação? Os bens
materiais não são uma coisa ruim. Ele condena aqueles que não a dividem com os
irmãos, aqueles que a acumulam nos seus armazéns e a usam só para si mesmos,
para satisfazer suas veleidades.
A segunda parte da leitura descreve a
origem da riqueza: quase sempre é acumulada mediante a prática de injustiças em
relação aos mais fracos; é o resultado de opressões e prepotências, da
exploração dos trabalhadores aos quais é repassada apenas uma mínima parte
daquilo que produziram.
Diante de um sistema injusto o pobre
é impotente, a menos que parta para a mobilização, reivindicação e organização
dos pobres e oprimidos, sem terra e sem teto, sem saúde e sem salários
condizentes.
Evangelho (Mc 9,38-43.4547-48)
Marcos diz neste texto que o nome de
Jesus não pode ser monopolizado. João, um dos discípulos, relata a Jesus que
proibiram alguém de expulsar demônios em nome de Jesus só pelo fato de não
fazer parte do grupo dos Doze (v.38) Nessa atitude dos discípulos transparece a
tentativa de monopólio sobre o nome de Jesus. A resposta de Jesus é muito
clara: “Não o proíbam, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar
mal de mim” (v.39). Para ser discípulo dele não é necessário pertencer a um
grupo fechado e elitista. Basta estar em sintonia com a práxis de Jesus. A
atitude dos discípulos que proíbem expulsar demônios é provavelmente movida
pela inveja que nasce da incapacidade de cumprir o mandato de Jesus (de
expulsar demônios).
Para ser discípulo de Jesus não são
necessárias grandes coisas. É suficiente a sintonia com ele e com sua prática
libertadora.
O v. 41 introduz o tema da solidariedade
para com os discípulos de cristo. Para Jesus, qualquer gesto de solidariedade, por
mais insignificante que possa parecer (para o povo da bíblia, dar um copo de
água era um pequeno gesto de acolhida, semelhante a oferecer um cafezinho em
nossa cultura) não vai ficar sem recompensa.
Os vv.42-48 são sentenças
catequéticas girando em torno do tema do escândalo. O v. 42 retoma o tema dos pequenos que acreditam. Jesus adverte contra o perigo de levar ao
pecado (desviar da fé), ou seja, à perda da fé e ao abandono do compromisso,
alguém dos que creem nele enquanto Messias servidor. Como poderia alguém levar ao pecado
(literalmente escandalizar) os pequeninos? A resposta já foi dada no domingo
passado: trata-se da competição para ver quem é o maior dentro da comunidade,
com a busca do poder e da dominação que divide a comunidade entre “grandes” e
“pequenos”
Nos versículos 43.45.47 temos três
sentenças iguais. Todas focalizam o contraste entre o caminho da vida e caminho
do inferno (literalmente geena). A geena era um vale situado a oeste de
Jerusalém, usado como o lixão da cidade onde sempre havia algo queimando e por
isso tornou-se símbolo da perdição.
Para a mentalidade judaica daquele tempo,
mão, pé e olho eram a sede dos impulsos pecaminosos e da concupiscência.
Frequentemente a mão levantada é sinal de rebelião, e o olho está associado à
cobiça.
É preferível entrar no Reino sem um
destes membros do que pecar. Contudo a automutilação era proibida pelos judeus.
São hipérboles orientais, destinadas a acentuar a gravidade do escândalo. Não
se trata de mutilar-se para entrar na vida, mas de eliminar, pela raiz, todos
os males que geram discriminação e opressão na sociedade.
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