Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum – Ano B



O MESSIAS SERVIDOR E SEUS DISCÍPULOS

Primeira leitura (Sb 2,12.17-20)
Em Alexandria, no Egito, onde vivia o autor do livro, havia dois tipos de pessoas: os ricos  poderosos, “ materialistas”, gozadores da vida, que viviam segundo o lema: “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (Cf. Is 22,13), de um  lado; e de outro, os fiéis e piedosos israelitas que acreditavam em Deus e na vida futura. Os “materialistas” achavam que a religião era uma coisa absurda e ultrapassada... Coisa de crianças...
Os israelitas piedosos, pela vida diferente que levavam eram uma pedra no sapato dos gozadores da vida. Eram uma condenação tácita, mas permanente e intrigante dos desmandos, das orgias, das injustiças que os “materialistas” praticavam. A tensão entre os dois grupos se tornava sempre mais intensa e insustentável. O “ímpio” de fato não consegue viver por muito tempo com o “justo”; não consegue tolerar longamente a sua tácita reprovação; o justo é uma pessoa que aborrece e que deve ser eliminado.
Jesus foi eliminado justamente porque denunciava as injustiças e anunciava uma mensagem desafiadora que incomodava os detentores do poder.  O mesmo vale para os pregadores de hoje.  Se pelo contrário, sua pregação não incomoda ninguém e não denuncia a corrupção e o abuso de poder não são representantes de Jesus.

Segunda leitura (Tg 3,16-4,3)
Nesta leitura, Tiago distingue dois tipos de sabedoria: a “sabedoria que vem do alto” que se manifesta na compreensão, bondade, misericórdia, paz, generosidade, onde não há inveja nem hipocrisia.
E, de outro lado, a sabedoria “humana” que está na origem da ganância e do egoísmo e provoca contendas e guerras.
A última parte da leitura alerta os cristãos para não pedirem em suas orações coisas para gastar com suas próprias vaidades, mas a sabedoria, a capacidade de entender que a única coisa que vale na vida é o serviço ao próximo.
Evangelho (Mc 9,30-37)
Vimos no domingo passado que Pedro confessou que Jesus era o Messias, o libertador. Jesus o repreendeu asperamente porque Pedro ainda pensava num Messias glorioso e vencedor. Chamou Pedro de “Satanás” porque constituía uma tentação para Jesus. Para a decepção de Pedro e dos seus companheiros, Jesus começou a ensinar-lhes que era preciso que o Filho do Homem (Ele, Jesus) sofresse, fosse perseguido e morto. Porque era preciso?  Vontade de Deus, vontade de Jesus? Não.  Necessidade histórica.  Diante das forças do mal (Anciãos, Sumos-sacerdotes, Doutores da lei) só havia duas alternativas evitá-las, fugir delas ou enfrentá-las.  Para quem viera instaurar o Reino de Deus, só havia uma alternativa: enfrentá-las. Foi o que Jesus fez. Neste sentido a luta de Jesus contra as forças do mal e sua morte eram, sim, vontade de Deus.
Os discípulos ficaram perplexos e não entenderam o anúncio do sofrimento e morte de Jesus, mas tinham vergonha de perguntar por sentirem que se tratava de uma coisa importante.
Não obstante, na segunda parte do trecho (vv.33-37), os apóstolos, que não entenderam as palavras do mestre continuam se preocupando com os seus problemas mesquinhos e ridículos: “quem entre nós será o primeiro”. Diante disso Jesus se manifestou com uma transcendência absoluta: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos. (v.35)”.  Talvez para evitar que surgissem dúvidas, os evangelhos repetem seis vezes estas palavras do mestre.
Na comunidade cristã quem ocupa o primeiro lugar deve abandonar qualquer sonho de grandeza A comunidade não é lugar apropriado para alcançar posições de prestígio, para manter domínio sobre os outros. É o lugar onde cada um, conforme os dons recebidos de Deus, deve celebrar a própria grandeza, servindo o próximo.
Na terceira parte do evangelho narra-se um gesto muito significativo de Jesus: ele toma um menino, coloca-o no meio de todos, abraça-o e diz: “Quem acolhe um destes pequenos em meu nome, a mim acolhe”. No capítulo seguinte Marcos lembra um outro episódio que põe em destaque o carinho e a ternura de Jesus em relação às crianças. Algumas mães lhe apresentam os seus filhos para que os acaricie. Acreditava-se naquele tempo que os homens de Deus transmitissem sua força vital, sua bondade, sua ternura, seu espírito através do conato físico.
Os discípulos não gostam desse abuso de intimidade e de confiança e se sentem na obrigação de censurar a Jesus e de afastar os intrusos. Jesus reage indignado e lhes diz: “Deixai que as crianças venham a mim e não queirais impedi-las, porque o reino do céu pertence a quem for como elas”.
Em verdade vos digo: quem não aceita o reino do céu como uma criança, não poderá entrar nele.” E tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoou (Mc 10,13-16).
A criança é símbolo de humildade, de abertura. Ela nem sabe que tem direitos. Para ela tudo é dom.  Aliás no tempo de Jesus a criança não tinha valor porque não conhecia e evidentemente não observava as prescrições da Lei.
No texto de hoje, as crianças simbolizam o ser fraco e indefeso que deve ser cercado de delicadezas e de cuidados, não só as crianças propriamente ditas.
Enfim, criança é sinônimo de pessoa necessitada e dependente. Com o seu gesto em relação à criança Jesus está mostrando o que é ser discípulo, o que significa ser maior dentro da comunidade: maior é aquele que acolhe os carentes, marginalizados, oprimidos, injustiçados e por eles se interessa, dedicando-lhes tempo e vida.   

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