PREPARAI O CAMINHO DO
SENHOR
Primeira leitura (Is 40,1-5.9-11)
Entre os israelitas cativos na Babilônia há um profeta muito
esperto que sabe ler os sinais dos tempos: O império de Nabucodonosor está
desmoronando e, Ciro, rei dos persas, está tomando conta de toda a região.
Assim sendo, o profeta anuncia o fim do cativeiro e que haverá um novo êxodo
comparável ao Êxodo do Egito. Daí as suas palavras: “Consolai, consolai meu
povo, animai Jerusalém, dizei-lhe bem alto que sua corvéia (castigo)
terminou...”.
Os israelitas interpretaram o cativeiro como um castigo. Na
verdade era apenas um fato político provocado pela prepotência de Nabucodonosor
e a incompetência dos chefes de Israel. Deus não castiga nunca. Criou o mundo e
deixa que as leis naturais e a liberdade humana produzam seus efeitos. A não
ser assim, Deus precisaria fazer um outro mundo, não finito, onde não houvesse
autonomia e liberdade.
.O castigo do pecado é o próprio pecado porque causa uma
dilaceração interior. Já o disse São Tomás da Aquino, o grande doutor da
Igreja: “o pecado não ofende a Deus senão na medida em que age contra o nosso
bem”.
O anúncio do profeta causou uma grande alegria, lembrou ao
povo que Deus é um Deus libertador que só quer que os homens sejam livres, livres
de todo tipo de escravidão social e espiritual. Preparar o caminho do Senhor é
libertar-se de todo tipo de apego desordenado a alguma criatura, a algum pecado
de estimação que bloqueie a nossa liberdade interior e impeça a nossa adesão ao
Senhor. Estava certa Simone Weil, a filósofa e mística francesa: “Onde falta o
desejo de encontrar-se com Deus, ali não há crentes, mas pobres caricaturas de
pessoas que se dirigem a Deus por medo ou por interesse.”
Nem todos os israelitas voltaram para Jerusalém. A maioria
ficou em Babilônia porque se tinha adaptado à vida pagã dos babilônios e já não
tinham a coragem e a energia de começar uma vida nova. Assim se formou a
primeira diáspora (comunidade judaica fora da Palestina). Um escritor judeu afirmou
que o perigo maior do exílio não foi a sua dureza, mas sim suas atrações e
seduções.
Segunda leitura (2Pd 3,8-14).
Os primeiros cristãos esperavam a volta de Cristo para logo.
Como o tempo passava e nada acontecia começaram a desanimar e ainda tiveram que
ouvir a zombaria dos descrentes: “Quando se realizará a promessa da sua vinda?
Desde que nossos pais fecharam os olhos, tudo continua como no tempo da criação”
(2Pd 3,4).
Para esses cristãos em crise, um pastor de almas escreve uma
carta para animá-los a não cederem às zombarias dos escarnecedores e para
explicar-lhes os motivos da demora da vinda do Senhor.
O trecho que hoje nos é proposto considera dois motivos: 1. O
modo como Deus mede o tempo é diferente do nosso; para ele 1.000 anos são como
um dia (v.8); e, 2. Deus não acaba imediatamente com o mundo, porque quer que
todos os homens tenham tempo para se converter e para se salvar (v.9).
Além disso, o autor pede aos seus leitores que abandonem
certas idéias retrógradas, frutos da fantasia e que não tem nada a ver com o
evangelho.
É inútil fazer cálculos, como ainda em nossos dias os
adventistas do sétimo dia, ou as testemunhas de Jeová. “Ninguém sabe o dia e a hora, nem o Filho do
Homem, só o Pai (Mc 13,30).
Também nós brasileiros, mergulhados num mar de lama, somos
tentados a perder a esperança e pensar que um Brasil justo e igualitário, sem
corrupção e sem violência seja uma utopia. Mas não! A esperança é a última que
morre.
Façamos a nossa parte
e peçamos a Deus que ilumine os nossos governantes.
Evangelho (Mc 1,1-8)
O evangelho de Marcos foi, provavelmente o primeiro texto de
catequese das comunidades primitivas. O evangelista tem por objetivo mostrar
“quem é Jesus”. E desde o início deixa claro que o que vamos encontrar neste
livro é apenas o começo. Esse dado é importante para entendermos a intenção do
evangelista: percorrer o caminho que leva a Jesus é estar sempre disposto a
começar, a reaprender, pois em Marcos os discípulos se encontram num estado
crônico de ignorância. De fato, depois que ressuscitou, Jesus os manda à Galiléia,
lugar onde ele iniciou sua atividade libertadora. É aí que poderão encontrá-lo.
“Galiléia” é onde se encontram os marginalizados. Marcos, portanto, nos garante
uma coisa: se quisermos encontrar Jesus e saborear a boa notícia que ele é e
traz, precisamos sempre recomeçar com os empobrecidos e marginalizados da
sociedade, aprendendo com suas esperanças e lutas.
Durante os primeiros 30 anos a mensagem de Jesus era
anunciada de boca em boca que, como podemos imaginar, corria o risco de alterar
a mensagem, porque quem conta um conto.... Para evitar este perigo decidiu-se,
já no fim dos anos 60, escrever em Roma um texto oficial contendo a “Boa
Notícia” da vida e mensagem de Jesus. Marcos foi o primeiro evangelista, depois
seguiram-se Mateus, Lucas e João. Graças a eles chegou até nós o testemunho dos
apóstolos e seus discípulos a respeito de Jesus que em sua vida era a revelação
perfeita de Deus. Era muito importante ter um roteiro da vida e da mensagem de
Jesus, porque, afinal de contas, ele é o nosso guru, o mestre, e nós cristãos, somos
os seus discípulos.
A palavra “evangelho” quer dizer “Boa notícia”. Era usada
para referir notícias a respeito do imperador de Roma: nascimento, vida,
vitórias que despertavam esperanças de bem-estar, de saúde e paz.
Marcos, ao retomar, esta palavra quer dizer “os evangelhos”
dos imperadores nos desiludiram. Somente a mensagem de Jesus traz alegria e
felicidade para os homens, portanto, é um verdadeiro evangelho.
Os versículos 2-8 falam de João Batista, o precursor do
Messias. Em toda a região da Judéia havia uma grande expectativa em torno do
Messias que devia chegar. Ele, dizia-se, transformará a situação social: tirará
os ricos dos seus tronos, destruirá os malvados, e tornará felizes os pobres.
Mas porque demora tanto, perguntavam todos. Os rabinos
respondem: ele não vem por causa dos pecados do povo. O Batista, então, começa
a sua pregação ao longo do rio Jordão, conclama todos para a conversão e exige
que se constitua uma comunidade de pessoas dispostas a mudar de vida.
A palavra do Batista nos interpela também sobre a maneira
como estamos nos preparando para o Natal. A celebração renovada da presença de
Jesus em nossa vida é uma ocasião de rever a nossa adesão à pessoa de Jesus?
Quais são os valores que orientam a minha vida? O que é realmente importante
para mim? Sou de fato um discípulo de Jesus ou apenas um simpatizante?
Infelizmente perdeu-se na vida cristã a idéia do discipulado
e do seguimento. Os primeiros discípulos abandonaram o templo para seguirem
Jesus. É preciso renovar esta idéia do discipulado e do seguimento. Natal é uma
ocasião para isto. Jesus nunca pediu adoração mas sempre seguimento
João prega no deserto (v.4).
Deserto é para o povo hebreu um lugar simbólico. Vindo do Egito, foi lá que o
povo realizou uma campanha de purificação e de conversão. Foi no deserto que os
israelitas passaram de uma mentalidade de escravos a uma mentalidade de homens
livres, de uma mentalidade de egoísmo a uma mentalidade de partilha (a pobreza
une as pessoas), de uma mentalidade descomprometida a uma aliança com Javé. A
pregação de João lembrava aos israelitas a necessidade de voltar ao “deserto” e
de percorrer um caminho semelhante àquele que os antepassados tinham
percorrido.
O modo como João se
vestia era, antes de mais nada, esquisito. “vestia uma pele de camelo e tinha
os rins cingidos com um cinto de couro. Não se trata de uma informação
indiscreta sobre o “look” do Batista (que certamente não era pessoa que
esbanjasse dinheiro em roupas de “griffe”. Era um profeta nas palavras e no
modo de ser. Marcos apresenta João como um novo Elias do qual se diz em 2Rs 1,8 que “vestia uma pele não
trabalhada e trazia uma cinta de couro em volta dos rins”.
Sua pregação e vida são ao mesmo tempo denúncia e apelo.
Denúncia do que aí está, e apelo do que vai ser com a vinda do Messias. A
figura do Batista ainda está presente entre nossos pobres: chinelos de dedo,
tênis velhos, camisetas surradas, calças gastas, farinha e rapadura, arroz e
feijão... Tudo isto é uma denúncia de uma sociedade onde 10% concentra 40% da
riqueza do país.
Por fim o Batista anuncia a vinda do forte que vem depois dele e que batizará com o Espírito Santo.
Que lindo o sentido da palavra Evangelho. Eu sabia que significava "boa nova", mas não conhecia os demais sentidos:Era usada para referir notícias a respeito do imperador de Roma: nascimento, vida, vitórias que despertavam esperanças de bem-estar, de saúde e paz.
ResponderExcluirExcelente!
Edlamar