TESTEMUNHAR EM MEIO AOS CONFLITOS
Primeira leitura (Is 61,1-2a.10-11)
O texto fala da esperança na reconstrução do país depois que
os exilados judeus na Babilônia, puderam voltar à própria terra. A volta não
foi fácil. Os que haviam ficado, receberam os “retirantes” com apatia e até
mesmo com certa hostilidade. Eles haviam tomado conta de tudo: não tinham casas
para morar, nem terras para trabalhar, de tal modo de se tornarem cada vez mais
pobres, sujeitos até a se tornarem escravos dos ricos proprietários de terras.
A eles o profeta Isaías anuncia um Ano jubilar, “um ano de graça do Senhor”.
Segundo o livro do Levítico
25,11 a cada 50 anos celebrava-se um ano de júbilo: nele devia se proclamar
a libertação para todos os habitantes do país. Cada um recuperava sua
propriedade e voltava para a sua família. O profeta, portanto, anuncia a
chegada de uma nova era em que as relações humanas são transformadas radicalmente.
No discurso inaugural de Jesus em Nazaré ele dirá: “O Espírito do Senhor me ungiu... para
publicar um ano de graça do Senhor” (Lc4,19).
Segunda leitura (1Ts 5,14-24)
Este trecho contém algumas exortações preciosas sobre a vida
comunitária. A primeira: Vivei sempre contentes (v.16). A alegria é um dos
sinais características da presença do Espírito de Deus no coração de um homem.
Todos aspiram à felicidade. 0 problema consiste em saber como
atingi-la. A maioria dos homens a confunde com o prazer da bebida, das drogas,
do sexo, da vida imoral.
O trecho deste dia nos ensina onde nasce a verdadeira
alegria. Da oração, antes de tudo: “rezai sem cessar, dai graças” (vv.17-180.
Da abertura do coração aos impulsos do Espírito que enriquece com seus dons a
comunidade (vv.19-20).
Por fim, de uma vida moral irrepreensível (v.22).
Uma comunidade construída sobre estes princípios se torna
“santa” (vv.23-24), isto é, completamente diferente das outras associações e de
qualquer outro grupo humano.
Esta santificação é obra de Deus.
Evangelho(Jo1,6-8.19-28).
Na primeira leitura o profeta anuncia a felicidade para
aqueles que estão com o coração alquebrado. Exclama: “Eu estou repleto de
alegria no meu Senhor”. Na Segunda leitura Paulo recomenda: “Sede sempre
alegres”.
Nesse ponto poderíamos ser levados a pensar que o tema que
nos é proposto neste domingo seja o da alegria. Aliás, é o domingo chamado
“Gaudete” (alegrai-vos) e a cor litúrgica é rosa. Mas no evangelho, em qual citação se fala de
alegria? O trecho nos apresenta a figura do Batista, do qual podemos dizer tudo
o que há de bom, mas com certeza que não se tratava de uma pessoa alegre. Vivia
afastado dos homens e quando saía do deserto não era certamente para contar
piadas ou para provocar sorrisos nas pessoas. Pelo contrário ameaçava
pesadamente: fogo, machado na raiz das árvores, terríveis castigos para os maus
Mt 3,7-12).
Interessante é notar que Jesus era um grande admirador do Batista,
mas por isso não imitava o seu “terrorismo pastoral” que incutia medo. Jesus
usava outro método, misturava-se às pessoas, revelava um Deus próximo, amigo
dos pecadores, gostava de festas, o que levava as pessoas dizer “Deus visitou o
seu povo”.
Os dois eram profetas, João e Jesus, mas cada um a seu modo.
Jesus não se incomodava de viver entre os pecadores e transmitir-lhes a
misericórdia de Deus, mas sabia também ser duro e intolerante para com os
opressores do povo: Os anciãos (grandes proprietários de terra), os sacerdotes
que oprimiam o povo a partir de uma religião ritualista, formalista e sem alma,
e enfim os doutores da lei com uma ideologia que falsificava a imagem de Deus
fazendo de Deus um carrasco e opressor.
Nós, hoje, mais do que nunca, precisamos de profetas,
corajosos como João e Jesus. João foi degolado porque teve a coragem de acusar
o adultério do rei, mas por isto mesmo entrou para a história. Jesus foi
condenado porque enfrentou as forças de morte do seu tempo. Entrou na história
para sempre. Eis dois exemplos que deveriam condenar os políticos e
privilegiados que provocam a pobreza do povo.
João veio para dar testemunho da luz (v.6-8). E Jesus dirá
“Eu vim como luz do mundo” (Jo
12,246).
Neste mundo nunca temos certeza do valor autêntico das
realidades que tocamos. (João Paulo II: “Igreja é companheira da comunidade na
busca da verdade”. Não sabemos que valor atribuir aos bens deste mundo, ao
sucesso, à sexualidade, à família, ao estudo, ao lazer, à amizade, ao
compromisso com os pobres...
Quantas luzes sedutoras tentam hoje nos seduzir! Quantas propostas enganosas nos são
apresentadas! Muitas sugestões, mas trata-se sempre de lampejos que nunca
dissolvem completamente a escuridão e as dúvidas: as perplexidades permanecem e
nos angustiam.
Um dia, nós o sabemos, a luz de Deus será irradiada sobre
todas as nossas escolhas e então será possível ver claramente quais delas foram
sábias e quais não. Já agora, porém, gostaríamos de ver essa luz do céu. Eis
que o Batista no-la indica e dela dá testemunho: É Cristo. Quem abre o coração
para a sua luz, não deve temer surpresas: ela não desilude, sinaliza os valores
autênticos, aqueles pelos quais ninguém se arrependerá de ter empenhado a sua
vida.
Na sociedade da abundância e do progresso, está se tornando
cada vez mais difícil escutar uma voz que venha do deserto. O que se ouve é a
publicidade do supérfluo, a divulgação do trivial, o palavrório e o cinismo dos
políticos prisioneiros de sua estratégia, e até discursos religiosos
interessados.
Alguém poderia pensar que já não é possível conhecer
testemunhas que nos falem a partir do silencio e da verdade de Deus. Não é
assim. No meio do deserto da vida moderna podemos encontrar-nos com pessoas que
irradiam sabedoria e dignidade, pois não vivem do supérfluo. Gente simples
entranhadamente humana. Não pronunciam muitas palavras. É sua vida que fala.
Eles nos convidam, como o Batista, a deixar-nos “batizar, a
submeter-nos numa vida diferente, receber um novo nome, “renascer” para não nos
sentirmos produto desta sociedade, nem filhos do ambiente, mas filhos e filhas
queridos de Deus.
Até parece que está falando do padre José Knob:
ResponderExcluir"No meio do deserto da vida moderna podemos encontrar-nos com pessoas que irradiam sabedoria e dignidade, pois não vivem do supérfluo. Gente simples entranhadamente humana. Não pronunciam muitas palavras. É sua vida que fala."
Parabéns!!!