DEUS É O ÚNICO SENHOR DA HISTÓRIA E DAS PESSOAS
Primeira leitura(Is 45, 1.4-6)
Nos anos 550 a.C. os Judeus ainda estão cativos na Babilônia.
Mas eis que no horizonte já desponta um novo astro: o rei dos persas, Ciro, o
excelente comandante, o político sábio e iluminado. Com uma série de brilhantes
campanhas, um a um, conquista todos os impérios do Oriente.
Quando chega na Babilônia, é recebido como um vencedor. A
grande cidade nem sequer tenta opor-lhe resistência.
Ao tomar o poder, Ciro emana um decreto no qual se apresenta
ao mundo como o salvador, o libertador dos oprimidos, o defensor dos fracos, o
homem piedoso, submisso à vontade de Deus.
Para os israelitas que se encontram no exílio há mais de 50 anos, ele é
visto como “um homem de Deus”. Ele deixa que os exilados voltem, se quiserem,
para a terra dos seus antepassados. Podem praticar a sua religião, e ele até
está disposto a ajudar a reconstruir os lugares do culto destruídos pelos
soldados da Babilônia.
Segundo Isaias (v.1) foi Deus que tomou Ciro pela mão e o
acompanha.
Na segunda parte (vv.4-6) são atribuídos a Ciro títulos
maravilhosos. É chamado “pastor”, “homem providencial” “amado por Deus” e
sobretudo “ungido”, isto é “messias”.
Ciro reforçou a Palestina, reconstruindo Jerusalém. Na
verdade o seu intento era político: fazer da Palestina uma espécie de “testa de
ferro” contra o Egito. De qualquer maneira acabou servindo ao projeto de Deus.
Há um ensinamento interessante nesta história: é que Deus
pode se servir de qualquer homem e de qualquer acontecimento para realizar os
seus projetos. Ele tem a liberdade de escolher os meios que quer e pode partilhar
a sua salvação também aos que estão fora dos esquemas costumeiros. Pode
servir-se de um pagão, de um descrente, de um ateu. No campo político, por
exemplo, não interessa qual seja a fé professada pelos dirigentes de uma nação.
A única coisa que se exige deles é que sejam inteligentes, esclarecidos, sábios
que se comportem com justiça e lealdade, que tenham capacidade para criar
condições de bem-estar e de manter a paz entre os seus súditos. Se fizerem
isso, são instrumentos de Deus e são por ele protegidos, embora talvez nem o
conheçam. Como aconteceu com Ciro.
Segunda leitura (1Ts 1,1-5b)
Tessalônica era uma rica cidade mercantil. Cidade portuária, e
como tal não era um modelo de moralidade: nas ruas encontravam-se prostitutas,
vagabundos, pessoas odiosas, charlatães. Paulo ali chega uns 20 anos após a
morte de Jesus e funda aí uma comunidade. Mas teve que fugir junto com Silas
deixando para trás uma comunidade muito frágil.
Certo dia, porém, Timóteo, amigo e companheiro de lides
apostólicas chega de Tessalônica com boas notícias daquela comunidade. A
comunidade havia evoluído para uma comunidade firme e fervorosa. Paulo se anima
e escreve uma carta. O primeiro escrito do Novo Testamento, no ano 51.
Nos primeiros cinco versículos, relatados na leitura de hoje,
Paulo confessa a alegria que experimenta toda vez que na oração pensa nos
cristãos de Tessalônica, sabe que de fato a comunidade deles está alicerçada na
fé, na esperança e na caridade (v3).
Evangelho (Mt
22,15-21)
O homem não vive sozinho, faz parte de uma sociedade, deve
estabelecer relações e colaboração com outros. É preciso determinar os direitos
e deveres de cada um. A pergunta que se apresenta é a seguinte: a
religião tem algo a ver com a organização da vida social e política? Encontramos a resposta no Evangelho de hoje.
Os fariseus, acompanhados por simpatizantes do rei Herodes, se
apresentam a Jesus e, depois de ter reconhecido a sua lealdade, lhe dirigem uma
pergunta provocadora: “Sabemos que és um homem honesto e ensinas o caminho de
Deus em toda a verdade, sem te preocupares com ninguém, porque não olhas para a
aparência das pessoas. Dize-nos pois, o que te parece: é permitido ou não pagar
o imposto a César? (vv.16-17).
A pergunta era capciosa: Se Jesus se posicionasse contra o
pagamento dos impostos, poderia ser denunciado às autoridades romanas como
subversivo: se ele, ao invés se declarasse favorável, atrairia sobre si as
antipatias do povo que odiava os romanos colonizadores.
Em lugar algum do mundo o pagamento dos impostos jamais
despertou entusiasmo, mas para torná-lo problemático em Israel havia também um
motivo de natureza religiosa: a moeda prescrita para pagar o imposto trazia a
imagem do imperador Tibério; usá-la sinalizava dar o próprio consentimento a
uma forma de idolatria quando a Escritura de fato proíbe pintar ou esculpir a
imagem de um homem.
Jesus se deu conta da armadilha; pede que lhe mostrem uma
moeda. Vira-a nas mãos e depois pergunta: “De quem é esta moeda?”. “De César”,
lhe respondem. “Então, conclui, dai a César o que é de César e a Deus o que é
de Deus”. (v21). Uma resposta bastante enigmática.
Importante é lembrar que a inscrição da moeda dizia: “Tiberius Caesar,Divi Ausgusti Filius Augustus”. No verso podia-se
ler: “ Pontifex maximus”.
O gesto de Jesus já é esclarecedor. Seus adversários vivem
escravos do sistema, pois ao utilizar a moeda cunhada com símbolos políticos e
religiosos, estão reconhecendo a soberania do imperador que se fazia passar por
Deus.
Jesus acrescenta então algo que ninguém lhe propôs. Pergunta
pelos direitos de César e lhes responde lembrando os direitos de Deus: “Pagai a
César o que é de César, mas restituí a Deus o que é de Deus”. A moeda traz a
imagem do imperador, mas o ser humano, como diz o antigo livro do Gênesis, é “imagem
de Deus”. Por isso nunca deve estar sujeito a algum imperador. Isto Jesus já
havia lembrado muitas vezes. Os pobres são de Deus: os pequenos são seus filhos
prediletos; o Reino de Deus lhes pertence. Ninguém deve abusar deles.
Devolver a César o que é de César, é, portanto, dizer não a
todo poder que se absolutiza, gerando exploração e dominação. E devolver a Deus
é lutar para que todos tenham liberdade e vida, sejam mais forem as formas de
dominação e de morte.
Se os adversários de Jesus manejam a moeda que pertence a
César, terão que submeter-se às consequências que isto implica, mas não
esqueçam que pertencem a Deus.
Jesus não é contra a
divisão entre fé e política. Ele mesmo foi profeta e político como todos os
profetas do Antigo Testamento. Jesus morreu porque enfrentou os poderes
políticos da época. A Igreja deve participar do processo político, de uma
maneira mais corajosa e agressiva, a meu parecer, porque a Igreja tem força
moral e um auditório fiel.
Jesus ensinou que é uma obrigação moral, além de civil,
contribuir para o bem comum com o pagamento dos impostos justos. Mas se houver
impostos injustos ou mal administrados o cidadão tem o dever de criticar, contestar, mas
abertamente, à luz do sol, também através da contestação fiscal.
Que lindas reflexões, tanto sobre Ciro, como sobre a ação política de Jesus. Parabéns padre José!!!
ResponderExcluirEdlamar
O Senhor sempre abre nossos olhos para praticarmos e cobrarmos justiça...sermos cristãos de Ação...bjos Padre te amamos...
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