Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum – Ano A




DEUS É O ÚNICO SENHOR DA HISTÓRIA E DAS PESSOAS

Primeira leitura(Is 45, 1.4-6)
Nos anos 550 a.C. os Judeus ainda estão cativos na Babilônia. Mas eis que no horizonte já desponta um novo astro: o rei dos persas, Ciro, o excelente comandante, o político sábio e iluminado. Com uma série de brilhantes campanhas, um a um, conquista todos os impérios do Oriente.
Quando chega na Babilônia, é recebido como um vencedor. A grande cidade nem sequer tenta opor-lhe resistência.
Ao tomar o poder, Ciro emana um decreto no qual se apresenta ao mundo como o salvador, o libertador dos oprimidos, o defensor dos fracos, o homem piedoso, submisso à vontade de Deus.  Para os israelitas que se encontram no exílio há mais de 50 anos, ele é visto como “um homem de Deus”. Ele deixa que os exilados voltem, se quiserem, para a terra dos seus antepassados. Podem praticar a sua religião, e ele até está disposto a ajudar a reconstruir os lugares do culto destruídos pelos soldados da Babilônia.
Segundo Isaias (v.1) foi Deus que tomou Ciro pela mão e o acompanha.
Na segunda parte (vv.4-6) são atribuídos a Ciro títulos maravilhosos. É chamado “pastor”, “homem providencial” “amado por Deus” e sobretudo “ungido”, isto é “messias”.
Ciro reforçou a Palestina, reconstruindo Jerusalém. Na verdade o seu intento era político: fazer da Palestina uma espécie de “testa de ferro” contra o Egito. De qualquer maneira acabou servindo ao projeto de Deus.
Há um ensinamento interessante nesta história: é que Deus pode se servir de qualquer homem e de qualquer acontecimento para realizar os seus projetos. Ele tem a liberdade de escolher os meios que quer e pode partilhar a sua salvação também aos que estão fora dos esquemas costumeiros. Pode servir-se de um pagão, de um descrente, de um ateu. No campo político, por exemplo, não interessa qual seja a fé professada pelos dirigentes de uma nação. A única coisa que se exige deles é que sejam inteligentes, esclarecidos, sábios que se comportem com justiça e lealdade, que tenham capacidade para criar condições de bem-estar e de manter a paz entre os seus súditos. Se fizerem isso, são instrumentos de Deus e são por ele protegidos, embora talvez nem o conheçam. Como aconteceu com Ciro.

Segunda leitura (1Ts 1,1-5b)
Tessalônica era uma rica cidade mercantil. Cidade portuária, e como tal não era um modelo de moralidade: nas ruas encontravam-se prostitutas, vagabundos, pessoas odiosas, charlatães. Paulo ali chega uns 20 anos após a morte de Jesus e funda aí uma comunidade. Mas teve que fugir junto com Silas deixando para trás uma comunidade muito frágil.
Certo dia, porém, Timóteo, amigo e companheiro de lides apostólicas chega de Tessalônica com boas notícias daquela comunidade. A comunidade havia evoluído para uma comunidade firme e fervorosa. Paulo se anima e escreve uma carta. O primeiro escrito do Novo Testamento, no ano 51.
Nos primeiros cinco versículos, relatados na leitura de hoje, Paulo confessa a alegria que experimenta toda vez que na oração pensa nos cristãos de Tessalônica, sabe que de fato a comunidade deles está alicerçada na fé, na esperança e na caridade (v3).

Evangelho (Mt 22,15-21)
O homem não vive sozinho, faz parte de uma sociedade, deve estabelecer relações e colaboração com outros. É preciso determinar os direitos e deveres de cada um. A pergunta que se apresenta é a seguinte:  a religião tem algo a ver com a organização da vida social e política?  Encontramos a resposta no Evangelho de hoje.
Os fariseus, acompanhados por simpatizantes do rei Herodes, se apresentam a Jesus e, depois de ter reconhecido a sua lealdade, lhe dirigem uma pergunta provocadora: “Sabemos que és um homem honesto e ensinas o caminho de Deus em toda a verdade, sem te preocupares com ninguém, porque não olhas para a aparência das pessoas. Dize-nos pois, o que te parece: é permitido ou não pagar o imposto a César? (vv.16-17).
A pergunta era capciosa: Se Jesus se posicionasse contra o pagamento dos impostos, poderia ser denunciado às autoridades romanas como subversivo: se ele, ao invés se declarasse favorável, atrairia sobre si as antipatias do povo que odiava os romanos colonizadores.
Em lugar algum do mundo o pagamento dos impostos jamais despertou entusiasmo, mas para torná-lo problemático em Israel havia também um motivo de natureza religiosa: a moeda prescrita para pagar o imposto trazia a imagem do imperador Tibério; usá-la sinalizava dar o próprio consentimento a uma forma de idolatria quando a Escritura de fato proíbe pintar ou esculpir a imagem de um homem.
Jesus se deu conta da armadilha; pede que lhe mostrem uma moeda. Vira-a nas mãos e depois pergunta: “De quem é esta moeda?”. “De César”, lhe respondem. “Então, conclui, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. (v21). Uma resposta bastante enigmática.
Importante é lembrar que a inscrição da moeda dizia: “Tiberius Caesar,Divi  Ausgusti Filius Augustus”. No verso podia-se ler: “ Pontifex maximus”.
O gesto de Jesus já é esclarecedor. Seus adversários vivem escravos do sistema, pois ao utilizar a moeda cunhada com símbolos políticos e religiosos, estão reconhecendo a soberania do imperador que se fazia passar por Deus.
Jesus acrescenta então algo que ninguém lhe propôs. Pergunta pelos direitos de César e lhes responde lembrando os direitos de Deus: “Pagai a César o que é de César, mas restituí a Deus o que é de Deus”. A moeda traz a imagem do imperador, mas o ser humano, como diz o antigo livro do Gênesis, é “imagem de Deus”. Por isso nunca deve estar sujeito a algum imperador. Isto Jesus já havia lembrado muitas vezes. Os pobres são de Deus: os pequenos são seus filhos prediletos; o Reino de Deus lhes pertence. Ninguém deve abusar deles.
Devolver a César o que é de César, é, portanto, dizer não a todo poder que se absolutiza, gerando exploração e dominação. E devolver a Deus é lutar para que todos tenham liberdade e vida, sejam mais forem as formas de dominação e de morte.
Se os adversários de Jesus manejam a moeda que pertence a César, terão que submeter-se às consequências que isto implica, mas não esqueçam que pertencem a Deus.
 Jesus não é contra a divisão entre fé e política. Ele mesmo foi profeta e político como todos os profetas do Antigo Testamento. Jesus morreu porque enfrentou os poderes políticos da época. A Igreja deve participar do processo político, de uma maneira mais corajosa e agressiva, a meu parecer, porque a Igreja tem força moral e um auditório fiel.
Jesus ensinou que é uma obrigação moral, além de civil, contribuir para o bem comum com o pagamento dos impostos justos. Mas se houver impostos injustos ou mal administrados o cidadão  tem o dever de criticar, contestar, mas abertamente, à luz do sol, também através da contestação fiscal.

Comentários

  1. Que lindas reflexões, tanto sobre Ciro, como sobre a ação política de Jesus. Parabéns padre José!!!
    Edlamar

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  2. O Senhor sempre abre nossos olhos para praticarmos e cobrarmos justiça...sermos cristãos de Ação...bjos Padre te amamos...

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