“ Felizes aqueles que crêem sem ter visto” (Jo. 20,29)
Primeira leitura (At. 2,42-47)
Este texto de Lucas apresenta a primeira comunidade cristã, fundada pelos próprios apóstolos. Esta comunidade é como um carro que anda sobre quatro rodas: o ensinamento dos apóstolos, a comunhão fraterna, a fração do pão e as orações (v.42).
Tudo começa com a catequese
dos apóstolos. Ela faz memória do que Jesus disse e fez a respeito de como
queria a sociedade. A catequese, por sua vez, provoca mudança de relações
sociais em nível político e econômico: o poder é substituído pela fraternidade
(comunhão fraterna) e o acúmulo pela
partilha dos bens que, aliás, era praticada em Nazaré onde Jesus nasceu e
cresceu. Frequentam o templo, mas celebram a Eucaristia (Fração do pão)nas casas, fazendo-a
preceder por uma refeição em comum, onde tudo é de todos e para todos. Enfim, a
oração de louvor (v.47a) pelos frutos
que a sociedade fraterna e igualitária começa a produzir.
A experiência da comunidade de
Jerusalém em relação à comunhão de bens não pode ser aplicada literalmente nas
comunidades de hoje. Todavia, o desapego dos bens deste mundo continua sendo
uma exigência para todos os cristãos. No entanto, é bom lembrar que as
congregações religiosas, como nós dehonianos, praticam a caixa comum: tudo o
que recebem é entregue ao superior que provê às necessidades dos membros.
Quanto a catequese é importante
lembrar que também nos nossos dias a
escuta da palavra de Deus deve ser o
único e sólido fundamento sobre o qual se apoia a fé das nossas comunidades
(cf. Rm. 10,14-17). As emoções
religiosas, as sensações efêmeras, as “revelações” pessoais outra coisa não são
senão expedientes fracos e no fim ilusórios.
Segunda leitura (1Pd 1,3-9)
É parte de uma homilia dirigida aos recém-batizados na noite de páscoa. O pregador se emociona diante dos novos filhos de Deus que ele chama diversas vezes de “caríssimos”. Lembra aos neófitos que foram “regenerados não por uma semente corruptível, mas imortal, isto é, pela palavra de Deus viva e eterna” (1Pd 1,23), e expõe as consequências morais que este novo nascimento comporta (cf. próximos domingos).
No trecho deste domingo o autor
convida os recém-batizados a refletir sobre a nova vida que Deus lhes infundiu
no Batismo. Esta vida não pode ser experimentada com os sentidos, mas nem por
isso ela é menos verdadeira (vv.3-5).
A última parte da leitura prepara a mensagem do Evangelho deste dia. Pedro diz aos cristãos: “Vós amais a Cristo embora não o tenhais visto; e agora, sem vê-lo, continuai acreditando nele” (v.8). Parecem palavras dirigidas a nós hoje!
A última parte da leitura prepara a mensagem do Evangelho deste dia. Pedro diz aos cristãos: “Vós amais a Cristo embora não o tenhais visto; e agora, sem vê-lo, continuai acreditando nele” (v.8). Parecem palavras dirigidas a nós hoje!
Evangelho (Jo. 20,19-31)
No evangelho são narradas duas aparições do Ressuscitado. Na primeira (vv. 19-23) Jesus comunica aos apóstolos o seu Espírito e o poder de perdoar os pecados. Na segunda (vv.24-31) ele narra o famoso episódio de Tomé.
As duas aparições acontecem num “domingo”, às mesmas pessoas
(um a mais, um a menos), com as mesmas palavras do Senhor: “A paz esteja
convosco”.
Os discípulos estão
reunidos em casa para a assembleia
semanal da comunidade cristã. É esta a hora durante a qual Jesus se
manifesta vivo aos discípulos. Quem não se encontra com a comunidade reunida,
não encontra o Ressuscitado (vv. 24-25) (Tomé não estava presente...); não pode
ouvir a sua saudação e a sua palavra, não pode receber a sua paz (vv. 19.26),
não prova da sua alegria (v. 20), não recebe o seu Espírito (v. 22).
Também para nós hoje se torna possível passar pela
experiência que os apóstolos tiveram no dia da Páscoa e oito dias após. De que
forma? Participando da assembleia comunitária (eucaristia). É ali que Jesus
marca para todos os seus discípulos o encontro semanal... (“Onde dois ou
três estiverem reunidos em meu nome, eu
estarei no meio deles”).
Passemos agora ao episódio de Tomé. Coitado dele! Tornou-se
tristemente famoso por causa de sua dúvida. Veio a ser o símbolo das
dificuldades que todo discípulo encontra e encontrará sempre para acreditar na
ressurreição de Jesus. Alguns dizem: “Eu sou como S. Tomé: só acredito vendo”.
Coitados também eles e ignorantes! Não sabem o que estão dizendo.
Na verdade, não foi só Tomé que duvidou. Também os outros
apóstolos não aderiram nem rápida nem facilmente à fé no ressuscitado; é só
pensar que, na última página do seu evangelho, Mateus conta que quando Jesus
lhes apareceu na montanha da Galiléia (portanto muito tempo depois das
aparições de Jerusalém), “alguns ainda duvidavam” (28,17). Para eles, também,
portanto, a fé foi uma conquista difícil, embora o Ressuscitado lhes dado
muitos “sinais” de que estava vivo e que
tinha entrado na glória do Pai.
João escreve a cristãos que pensam que as testemunhas
oculares (os apóstolos) estariam num plano superior aos que não viram
pessoalmente o Senhor. Narrando o episódio de Tomé, ele explica que o
ressuscitado tem uma vida que foge aos sentidos, uma vida que não pode ser
tocada com as mãos ou vista com os olhos. Somente pode ser objeto de fé.
A nova maneira de
existir de Jesus já não permite conhecê-lo segundo a carne, isto é, com os sentidos. Não é mais um homem
terrestre (“Estando trancadas as portas
do lugar onde estavam reunidos, Jesus se pôs nomeio deles...).
Na verdade, tudo indica que os dez apóstolos tiveram uma experiência real, mas provavelmente mais
mística do aquela que Tomé exigia. Ele queria uma experiência
extraordinária, de ordem física...Jesus já havia condenado a exigência de um
sinal extraordinário para crer. Aos seus adversários que pediam um sinal do céu
para então crer nele, ele disse: “Esta geração perversa pede sinais,mas não
lhes será dado outro sinal senão o do profeta Jonas...”
Não se pode ter fé naquilo que se vê. Não se podem fornecer
provas científicas da Ressurreição. A história universal nada sabe a respeito
da Ressurreição de Jesus. Se alguém quer ver, constatar, tocar, deve renunciar
à fé.
Se Tomé viu a Jesus com os olhos físicos então ele não creu.
Por isso João põe na boca de Jesus as
palavras: “Felizes os que não viram e creram”. Por isso também nós, como os apóstolos o foram,somos
bem-aventurados.
O relato do episódio “Tomé” como de outros relatos que
falam de um contato físico de Jesus com discípulos são expedientes literários
para convencer os leitores de que Jesus Ressuscitado não era um fantasma, mas o
mesmo de antes da páscoa.
O caminho que todos os discípulos são chamados a percorrer é
descrito por João no final do trecho de
hoje: “Fez Jesus, na presença dos seus discípulos ainda outros sinais que não
estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos para que creiais que Jesus
é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome”
(vv.30.31).
Aí está a única prova que é apresentada para quem procura
razões para acreditar: o próprio Evangelho. Ali ressoa a palavra de Cristo, ali
refulge a sua pessoa.
Para entender isto, é bom lembrar tudo o que Jesus diz na
parábola do Bom Pastor: “As minhas ovelhas reconhecem a minha voz” (Jo. 10,4-5.27). Não acontecem aparições!
No Evangelho ouve-se a voz do Pastor e, para as ovelhas que lhe pertencem, o
som da sua voz é suficiente para reconhecê-lo e seguir atrás dele.
A profissão de fé que João coloca na boca de Tomé é colocada
e acontece no momento histórico na qual ela foi proferida. Nos anos 90 reinava
em Roma, Domiciano que se fazia passar por Deus. As leis emanadas em seu nome
começavam assim: “Domiciano, o nosso senhor e o nosso deus, ordena que...”
Os cristãos protestavam contra esta divinização. Daí a
profissão de fé de Tomé dirigida a Jesus: “ Meu
Senhor e meu Deus”. É uma
profissão de fé bem pessoal que nós
somos convidados a fazer nossa neste domingo na hora da comunhão.
Era a noite de domingo, depois de um dia de muitas emoções, esperanças e incertezas. Os discípulos tinham medo, por isso as portas estavam trancadas.
ResponderExcluir“Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: ─ A paz esteja convosco. Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado.”
Acho fascinante estas aparições, linda esta passagem... Justo num momento tão triste pra eles, a insegurança, tomava conta de seus sentimentos. Isto nos faz sentir que nunca estamos sozinhos neste mundo..., nas nossas tristezas, inseguranças, medos, 'incredulidades'...ele está ali do nosso lado a nos amparar...Eu creio com toda força de minha alma que ELE está no meio de nós... e até mesmo naqueles momentos de descrenças, assim como Tomé, ele nos ampara e nos mostra sua presença... deixa a gente um pouco envergonhados, mas entende que somos tão humanos...
Obrigada por compartilhar estes conhecimentos...