Terceiro Domingo da Páscoa - Ano B


 


TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO

 

Primeira leitura (At 3,13-15-17-19)

A fé na ressurreição foi difícil no início tanto para os apóstolos, quanto para o povo em geral, por ser uma realidade sobrenatural. A única prova era o testemunho de vida dos apóstolos e de eventuais “milagres” operados em nome de Jesus.

No seu discurso, Pedro diz: “nós somos testemunhas”, porque realizam as mesmas obras de Jesus e estão dispostos ao martírio; é a única “prova” de que Jesus está vivo. Jesus fez milagres movido pela misericórdia, mas nós que não temos o dom de fazer milagres podemos provar que Jesus está vivo usando de misericórdia, lutando pela justiça, contra a corrupção, a favor de uma sociedade fraterna.

Os vv.17-19 são um convite à conversão. O erro, o pecado (que Pedro atribui à ignorância) nunca terão a vitória final na vida do homem.

Existe sempre um anúncio de perdão e a certeza de poder ainda recuperar-se.

E o caminho que Pedro propõe aos seus ouvintes para “retomar o rumo” é este: antes de tudo é preciso tomar consciência dos males cometidos e em seguida mudar de vida.

O convite de Pedro não é só dirigido aos judeus que mataram a Jesus. Mas também a nós que de alguma forma somos “cúmplices” da morte de Jesus quando “matamos” nosso irmão com a calúnia; quando provocamos a dispensa do emprego de algum companheiro; envenenamos o relacionamento entre esposos ou namorados, ou nos calamos diante da injúria

 

Segunda leitura (1Jo 2,1-5)

A boa notícia com a qual começa a leitura de hoje é que, embora sinceramente devemos nos reconhecer pecadores, sempre continuamos alimentando a nossa esperança com a certeza de que, ao nosso lado, sempre está presente Jesus Cristo, o Justo (v.1). A salvação, além disso, não é exclusiva do pequeno grupo dos cristãos, mas se destina aos homens do mundo inteiro.

A segunda parte da leitura (vv.3-5) é dirigida àqueles que afirmam ter conhecido Deus, mas depois não observam os seus mandamentos. A fé em Deus, ensina João, deve manifestar-se na vida prática: somente “aquele que observa a sua palavra, tem em si, com perfeição, o amor de Deus” (v.4).

Para nos sentir membros da nossa comunidade cristã não basta que, unidos, todos professemos as mesmas verdades da fé. Se, como comunidade, não dermos um testemunho de uma vida de conformidade com o evangelho, seremos nós também, como nos diz a leitura do dia, mentirosos (v.4).

 

Evangelho (Lc 24,35-38)

S. Paulo fala que se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé. Quanto à ressurreição não há dúvida. O problema é como entender a ressurreição. O assunto já tratado em homilias anteriores volta hoje. Havia muita confusão em torno do assunto. O próprio evangelho de hoje é testemunha disso.

Nos versículos 33-34 fala-se da alegria e do entusiasmo dos discípulos por causa da ressurreição de Jesus. Mas logo em seguida se diz que os discípulos estavam “pasmados, assustados e perturbados”, pensavam “estar vendo um fantasma” e tinham dúvidas (vv.36-38). No v.41 se diz que “por causa da grande alegria, não conseguiam acreditar”

E como entender que Jesus comeu peixe na presença dos discípulos (vv.39-43)? Um corpo glorificado e exaltado não pode comer. Já Lázaro poderia comer.

Essas dificuldades surgem porque nos falta a compreensão da linguagem usada pelos evangelistas. Os evangelhos foram escritos há 2.000 anos e quando os lemos é importante distinguir entre a mensagem em si e a maneira como nos foi transmitida. É preciso distinguir entre a “embalagem” e o conteúdo da mensagem.

1.O espanto e o medo. Quando a bíblia quer descrever uma experiência forte de Deus sempre usa os termos “espanto” e “medo”. Assim, por exemplo Zacarias e Maria ao receberem a notícia do nascimento do filho, ou os apóstolos por ocasião da transfiguração.  Medo e espanto são imagens bíblicas para sinalizar a experiência sobrenatural pela qual passaram os discípulos.

2.As dúvidas. Os evangelistas querem fazer notar que os apóstolos não conseguiram, nem facilmente nem depressa, chegar a acreditar na ressurreição. Conquistaram a fé após um longo e penoso caminho. A fé deles, como a nossa, não surge de provas materiais. É oportuno observar que segundo a Igreja o homem não é obrigado a acreditar em milagres, como também não é obrigado a acreditar na autenticidade de “aparições”.

Porque será que Jesus não apareceu aos sumos sacerdotes, a Pilatos, ao Sinédrio? Não faria sentido. Jesus faria um grande sucesso! Mas Deus não age assim, não dá espetáculo. Antes como depois da ressurreição era necessária a fé.

3.Lucas insiste em dizer que os discípulos tocaram e comeram com o ressuscitado. Não são informações de fatos concretos. São afirmações teológicas para dizer que Jesus não é um fantasma, é a mesma pessoa de antes, embora sua maneira de existir seja diferente. Lembram-se da lagarta e da borboleta?

4. A última parte do Evangelho (vv.44-48) contém a grande mensagem que está presente nas três leituras deste dia: “no nome de Cristo serão anunciadas a todos os povos a conversão e a remissão dos pecados”.

Acreditar na ressurreição do Senhor exige do homem uma mudança radical na sua maneira de pensar e de viver.
Quando refletimos sobre nossa vida pessoal e sobre a vida das nossas comunidades percebemos, infelizmente, que, embora assinalados com o nome de cristãos, continuamos vivendo como se Cristo não tivesse ressuscitado e como se nós mesmos não tivéssemos ressuscitado com ele para uma nova vida. Falamos da ressurreição uma vez ao ano; durante o resto do tempo, falamos de outras coisas. A Ressurreição de Cristo não ilumina de fato todas as zonas de sombra desta nossa vida.

 


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