Primeiro Domingo do Advento – Ano B


 

FIQUEMOS ALERTAS, POIS DEUS ESTÁ CHEGANDO

Introdução: Advento é tempo de construir e de caminhar, na solidariedade e na partilha. Jesus vem continuamente (aliás ele está sempre presente, cf. Mt 28,20) e de muitos modos (cf. 33º Domingo Ano A). Só a vigilância ativa será capaz de reconhecê-lo nas novas situações em que se apresenta e acolhê-lo.

 Primeira leitura (Is 63,16-17.19; 64,1-7)

Os israelitas estão no cativeiro da Babilônia. Desolados por estarem longe de sua pátria, dirigem a Deus esta oração: “Vós sois, Senhor, nosso Pai, nosso redentor desde os tempos passados” (v.16). Duas observações, pela primeira vez no Antigo Testamento Deus é chamado de “Pai”. Os judeus preferiam o nome “Javé”: para distingui-lo dos deuses dos pagãos, que eram pais que geravam filhos e filhas; também a palavra “redentor” atribuído a Deus é nova.  Redentor era aquela pessoa (parente ou amigo) que podia resgatar um prisioneiro mediante o pagamento de uma soma ou então se substituindo ao prisioneiro. Como todos eram escravos, só Deus podia ser o “redentor”.

Os israelitas atribuíam erroneamente a própria desgraça a seus pecados. Na verdade, o Exílio era consequência da ganância de Nabucodonosor e da incompetência dos chefes de Israel (naquele tempo imperava a lei da selva: o mais forte dominava o mais fraco. Hoje, a lei continua a mesma, só que de maneira mais disfarçada). A construção da história é obra do homem, o sentido da história é obra de Deus.

A palavra de Deus orienta o homem a construir a sua história de acordo com o projeto de Deus. Seduzido pelas falsas promessas do mal, o homem frequentemente abandona o caminho de Deus. Daí desilusão, solidão, alienação. Para sair dessa situação só fazendo o caminho do filho pródigo, “voltarei ao meu pai....”

 Segunda leitura (1Cor 1,3-9)

Os cristãos de Corinto haviam acolhido o evangelho com entusiasmo, mas, depois, aos poucos, recaíram nos antigos vícios. Paulo os exorta para uma maior seriedade recordando-lhe os dons com que Deus os enriqueceu e que se mantenham vigilantes na espera do Senhor.

Ao mesmo tempo em que somos convidados a esperar por dias melhores em nome da presença do Senhor entre nós (Mt 28,20), estamos mergulhados num mar de lama. É como se o desastre de Mariana se estendesse sobre todo o Brasil. Nossos líderes, desde o presidente, corrupto, corruptor e cínico, além de desacreditado, é cercado por ministros, deputados e senadores igualmente corruptos e corruptores. O sistema judiciário antiquado, ineficiente e contraditório. A criminalidade aumentando devido à impunidade. A educação de baixa qualidade; o sistema de saúde falido. Isto tudo porque o dinheiro arrecadado para a seguridade social é desviado para interesses particulares... E o pior é que a corrupção é um vírus que se transmite, é pior que a dengue porque ele vem pelos meios de comunicação. Uma ilustre senadora (Kátia Abreu) já disse que a corrupção está no DNA do brasileiro. Se for verdade estamos perdidos. Infelizmente os representantes eleitos pelo povo formaram um grupo à parte, desligado do povo. Mas além deste Brasil dos políticos existe outro Brasil, formado pelo povo que ainda é a maior reserva moral do país. Infelizmente existe outro fato lamentável que mina a nossa esperança: é a propagação da ideologia de gênero que ameaça corromper a família que sempre foi a célula básica da sociedade.

Para mudar esta situação a única solução é o empenho do povo, através de manifestações, greves e o uso das redes sociais. É este, para nós, um dos sentidos da “vigilância” que Jesus pede. Outro, é não se deixar contaminar pela corrupção ativa e passiva e pela ideologia de gênero.

 Evangelho (Mc 13,33-37)

O tema central do evangelho de hoje é a vigilância. Por cinco vezes a palavra “vigiai” aparece na boca de Jesus. As primeiras comunidades esperavam a vinda do Reino de Deus em poder para breve: É que Jesus havia anunciado a destruição do templo (Mc 13,2),e  sua volta (9,1;13,30). Então as pessoas queriam saber quando isto aconteceria. Jesus responde dizendo não saber o dia e a hora, o que importa é vigiar.

Para reforçar a ideia da vigilância, Jesus conta uma parábola muito breve: “É como um homem que, partindo em viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um e manda ao porteiro que vigie” (v.34).

O dono da parábola é evidentemente Jesus. Antes de deixar o mundo para voltar ao Pai ele confiou aos discípulos a missão de continuar a obra que ele havia começado: construir o Reino de Deus, isto é, uma sociedade do jeito que Deus quer: libertar as pessoas e a sociedade das estruturas alienantes geradoras de morte.

O texto descreve a missão da comunidade cristã no período que vai desde a morte de Jesus até o final da história humana. O objetivo do texto é dar aos discípulos indicações acerca da atitude a tomar frente às vicissitudes, que marcarão a caminhada histórica da comunidade até a vinda final de Jesus para instaurar, em definitivo, o Reino de Deus, ou seja, a sociedade como projetada por Deus.

A missão que Jesus confia à sua comunidade não é uma missão fácil... Jesus sabe que os discípulos terão que enfrentar as dificuldades, as perseguições, as tentações que o mundo vai colocar em seu caminho. Esta comunidade precisa de estímulo e alento. Daí o apelo à fidelidade, à coragem, à vigilância, também porque ninguém, nem mesmo o Filho do Homem(Jesus), mas só o Pai (cf. Mc 13,30) sabe do dia e da hora da vinda do Reino de Deus.

A palavra-chave deste domingo é, pois, “vigilância”: o verdadeiro discípulo deve estar sempre atento cumprindo com coragem e determinação a missão que Jesus lhe confiou. O homem é o braço histórico de Deus. Se uma mudança deve acontecer é através das mãos do homem.  Vigiar é viver sempre ativo, empenhado, comprometido na construção de um Brasil mais justo e fraterno.

Concretamente, estar “vigilante” significa não viver de braços cruzados, ou em cima do muro, ou fechado num mundo de alienação e egoísmo, deixando que os outros tomem as decisões e escolham os valores que devem nortear a sociedade. Estar vigilante é ser uma voz ativa e crítica no meio dos homens, levando-os a confrontarem-se com os valores do evangelho: é lutar de forma decidida e corajosa contra a mentira, a corrupção ativa e passiva, a roubalheira, a impunidade que reina no Brasil, os privilégios, as injustiças e tudo aquilo que rouba a vida e o bem-estar dos cidadãos.



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