VIGÉSIMO OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO A


 


 

 

 

 

                                         O BANQUETE DA JUSTIÇA E SEUS CONVIDADOS


Primeira leitura ( Is 25,6-10a)

Esta primeira leitura pode causar surpresa para muitas pessoas: acostumadas a associar religião com penitência, jejum, sacrifícios; eis que aqui  se fala de comer e beber. O Jesus dos evangelhos aparece muitas vezes sentado à mesa com pecadores onde certamente rolava uma conversa solta: a chuva que não chega,  o desemprego,  o campeonato, a opressão dos ricos sobre os pobres, uma boa piada  e, em meio a tudo um bom vinho, símbolo da alegria. Porque será que a religião foi transformada em algo sério e triste, enquanto a bíblia fala de festa? Jesus começou a sua vida com um banquete (bodas de Caná) e terminou a sua vida com um banquete: a eucaristia que ele aproveitou para fazer o sacramento de sua permanência entre nós, expressão máxima da encarnação:  Comer, uma coisa tão banal e ao mesmo tempo tão sagrada.

A bíblia costuma comparar a felicidade do Reino de Deus com um banquete onde haverá muita fartura: carnes gordas, bons vinhos ...etc. É que a vida do povo era muito dura e a comida rara. Daí o sonho de felicidade expresso em comida. Em Israel comia-se uma vez por dia, à noite, isto quando o chefe de família encontrava trabalho e pagamento.

A Leitura de  hoje fala de um grande banquete que Deus vai organizar um dia, no fim dos tempos. Será o banquete messiânico. O profeta diz que o cardápio será sofisticado: iguarias finas, carnes saborosas e variadas e vinhos finos: todos os povos serão convidados: amigos e inimigos; será uma confraternização. A vitória a ser comemorada  será a destruição da morte para sempre porque todas as lágrimas serão enxugadas (v.8). Não se trata aqui da morte física, mas de tudo aquilo que para o homem é morte e derrota.

O banquete será animado com  músicas, cantos e danças. Com a vinda do Messias qualquer situação de “morte” será transformada. Haverá somente alegria, felicidade. Será a festa, o banquete do Reino. 

Segunda leitura (Fp 4,12-14.19-20)

Paulo escreve novamente aos filipenses para manifestar sua profunda amizade e gratidão pelo apoio que esta comunidade lhe deu na evangelização ajudando-o a viver na pobreza e na riqueza , na fartura e na fome, na abundância e na indigência (v.12). 

Os que dedicam sua vida à pregação do Evangelho continuam sendo homens sensíveis às ingratidões, como também às manifestações de apreço e de amizade. Sobretudo quem renunciou, por amor ao Reino, à formação de uma família própria, sente profundamente esta necessidade de afeto. Daí o afeto de Paulo pela comunidade dos filipenses.

No fim da carta (v.19) Paulo afirma que Deus ama e protege os seus enviados e recompensará com abundância os gestos de generosidade manifestados em relação a eles ( “quem apoia um profeta terá a recompensa de um profeta”). 

Evangelho (Mt 22,1-14)

Este texto retrata mais uma parábola onde comparecem diversos personagens: O grande rei, a esposa, o filho que celebra o casamento, o banquete, os servos, os primeiros convidados, as pessoas recolhidas pelas estradas, a cidade destruída, a veste nupcial.

Estes personagens estão a serviço do Reino de Deus comparado a uma festa de casamento.

O GRANDE Rei é Deus. Ele organiza a festa de casamento de seu filho (JESUS).

A esposa é a humanidade inteira, ou “ a Igreja”. A esposa será bonita,  simpática, atraente, muito prendada? Comparada à humanidade talvez não. Entretanto Cristo a ama da mesma forma. Ele sabe que seu amor terá o poder para transformá-la, para deixá-la bonita e atraente.

O banquete representa a felicidade dos tempos messiânicos. Quem acolhe a proposta do Evangelho começa a fazer parte do Reino de Deus e experimenta a alegria mais pura e profunda.

Na Bíblia o Reino de Deus não é comparado a uma capela onde todos rezam, em silêncio e devoção: não é comparado a um daqueles conventos antigos de freiras, onde não se escuta o menor ruído, onde ninguém perturba a meditação e o êxtase das irmãs. Está escrito que é semelhante a um banquete, onde se come e se bebe com os amigos, se dança, se ri, se contam histórias, causos e piadas e todos se sentem felizes juntos.

O banquete eucarístico que celebra a comunhão entre Cristo  e a Igreja deveria deixar os participantes da missa alegres, sorridentes e serenos, o que infelizmente nem sempre acontece.

O banquete está preparado. O anfitrião envia  os servos  a levar o convite aos convidados. Os servos estão divididos em três grupos. Os primeiros dois representam os profetas do Antigo Testamento, até João Batista. Estes cumpriram a missão de preparar Israel para receber Jesus como Messias.. O terceiro grupo representa os apóstolos e todos nós.

Os convidados recolhidos ao longo dos caminhos e pelas praças e favelas bons e maus, limpos ou sujos, sem distinção, são os homens do mundo inteiro. Volta aqui o tema muito simpático para Mateus: A Igreja, o povo de Deus, é composto por gente boa e por gente má, é um campo onde encontramos o trigo e a cizânia, é uma rede que apanha todas as espécies de peixes.

Para nós esta parábola é um convite para abrir o coração e as portas das nossas comunidades a qualquer tipo de pessoa, aos pobres, aos marginalizados, a quem é rejeitado por todos.

Os primeiros convidados não entram na festa. Recusam-se  porque não querem largar os próprios interesses,: a lavoura, os negócios(v.5). Não precisam que ninguém lhes ofereça um banquete: têm tudo o que lhes possa garantir uma vida sem problemas. Estão satisfeitos. Representam os guias espirituais de Israel que se sentem satisfeitos com a estrutura religiosa que amontaram e que lhes dá segurança.

Os que não são pobres, os que não querem abandonar as próprias garantias materiais e espirituais, que não têm fome e sede de um mundo novo, não entrarão jamais no Reino de Deus, ficarão satisfeitos com as mesquinharias nas quais estão envolvidos. Somente os pobres estão em condições de entender a gratuidade do amor de Deus em relação a eles. Em meio ao banquete acontecem dois acontecimentos: a destruição da cidade e a veste nupcial.

São elementos estranhos introduzidos por Mateus: a destruição da cidade e a veste nupcial. São pormenores estranhos que acabem com a festa. A destruição se refere à destruição de Jerusalém que acontecerá 40 anos mais tarde.  Mais escandalosa ainda é  a falta de veste nupcial. Como estranhar que  alguém não tenha a veste nupcial, quando foram catadas pelos caminhos, favelas. Como entender a bondade do rei que convidou todo mundo com o castigo cruel para com esta pessoa? Que Mt nos desculpe ,mas esta foi uma gafe do evangelista. Foi uma bricolagem... Os dois pormenores: a destruição da cidade e a parábola da veste nupcial por certo tem um sentido, mas estão fora do contexto

A destruição da cidade é um pormenor acrescentado por Mateus e que não tem nada a ver com o banquete. Está fora do lugar: refere-se à destruição de Jerusalém que acontecerá 40 anos depois  e foi interpretado pelos cristãos como castigo porque esta cidade não acolheu o Messias.

E a veste nupcial? ´E estranho. Como exigi-la de pessoas  recolhidas pelos caminhos, pelos campos, pelas praças, esfarrapados.... É uma outra parábola, que tem um ensinamento exclusivo. Está fora do contexto. Foi outra “gafe” de Mateus inseri-la aqui, pois estraga tudo....

Pior ainda é o castigo infligido ao homem que não tinha a veste nupcial: são expressões próprias de Mateus que gosta de fazer  “terrorismo pastoral” à semelhança dos pregadores de seu tempo.

Afastemos de nós a concepção de um Deus que castiga. Ele não é assim: Não é como o homem, suscetível que se irrita  se ofende e se vinga. Ele não castiga nunca, não castiga ninguém, somente salva. Assim também a última frase “(muitos, isto é todos, são  chamados, isto é todos, mas poucos os escolhidos”, não está relacionada com as duas parábolas precedentes; nelas os eleitos são muitos, quase todos, e poucos (somente um) é rejeitado. Estamos diante de uma frase que Jesus pronunciou em outra ocasião.

Aliás há dois tipos de religião: a religião do medo e do interesse: as pessoas rezam para  serem protegidas de castigos ,desgraças, invejas ou então rezam para conseguir favores de Deus: sorte, boas colheitas passar no exame, emprego, ganhar na loterias....etc. Isto tudo é ilusão. Ópio. Einstein diria : “se somos religiosos ou por medo ou  por interesse, somos uns pobres coitados”. O outro tipo de religião é a religião filial,  voltada para Deus e não para nós: A  primeira função da oração é receptiva: acolher o dom de Deus, o dom da vida , da Palavra de Deus, dos sacramentos; a segunda função é partilhar a experiência de Deus com palavras e  gestos:  e a terceira função é o louvor e a ação de graças.

Termino com uma  frase de Sta. Tereza: “Não me permitas, Senhor, temer-te por causa do o inferno nem procurar-te por procurar-te por causa do céu, mas somente amar."

 

 


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